12. Clarice

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Desvencilho-me dos seus braços.

- Vou deixar uma coisa bem clara: não vou tolerar perguntas que não é pertinente ao momento. Se bem que esse tipo de pergunta nunca é pertinente em momento algum! Prometi a mim mesma que explicaria as coisas para você, mas agora não vou explicar porra nenhuma! Não vou dar explicações do meu passado a um homem escroto e sem noção como você. – Respiro fundo e continuo – Vamos terminar isso, vou dar o melhor de mim pra fazer um ótimo trabalho, e eu espero que você seja um bom profissional e faça seu melhor também. Eu gosto de você e te desejo muito, mas no fim disso tudo, vou querer que você e sua mediocridade vão se foder, bem longe de mim! Não vou fingir ser legalzinha ou simpática, nem vou tentar de agradar por causa do trabalho ou que seja, vamos terminar isso o mais rápido possível, pra que eu não seja obrigada ficar olhando esse sua cara todos os dias.

Vejo-o engolir em seco e nem espero alguma resposta barata.

Pego minha bolsa e vou em direção à porta. Foda-se esse canalha egoísta, abro a porta e saio sem dar importância aos gritos dele se desculpando pela atitude idiota.

...

Pego um táxi e dou ao motorista o endereço do único lugar onde posso ser eu mesma, e assumir minhas fantasias sem que essa sociedade de merda me julgue.

Deixamos o asfalto e agora estamos em uma estrada de barro com árvores de eucaliptos de cada lado.

Ligo para um amigo, sei que ele vai me ajudar a tirar essa raiva de mim do modo certo e prazeroso. Minha vontade agora era levar o idiota do meu orientador/ex-cliente para uma masmorra, enfiar um plug anal e espancar sua bunda branca na frente de todas as enfermeiras e médicos daquele hospital, até ele aprender a respeitar o passado de uma mulher.

Trinta minutos depois em movimento, chego ao destino. Pago uma pequena fortuna para o motorista - pois o lugar é longe da cidade - entro na casa com estilo medieval e poucos móveis. Por fora até parece uma casa normal, mas dentro acontecem coisas inexplicáveis, e logo vou reconhecendo alguns rostos.

- Quanto tempo minha senhora! Que bom que retornou a sua casa, seja bem vinda de volta. – Fala Melissa com seus olhos abaixados, uma jovem que desde muito cedo descobriu suas essências submissas e começou a trabalhar aqui como uma espécie de recepcionista, com seus olhos castanhos, cabelos loiros e pele branca, ela ilumina a casa que praticamente serve para coisas bizarras e sessões de sexo.

- Melissa... Sempre recebendo as pessoas importantes como uma garotinha obediente – continuo – Mas não me lembro de mandar você dirigir a palavra a mim, ainda mais com tanta intimidade – falo com a voz imperial e firme.

- Perdoe-me senhora, não foi minha intenção te desrespeitar em momento algum – responde com a voz trêmula e olhos direcionados ao chão.

- Quero que você arrume um quarto, enquanto vou ao bar da casa, entendido? – ignoro suas desculpas medíocres.

- Sim senhora...

Vou para o bar, sento em dos banquinhos e peço uma dose de uísque. Sinto meu celular vibrar...

Mensagem de Marcos

"Estou quase chegando, já está tudo pronto?"

- Senhora, seu uísque e a chave do seu quarto, a sub pediu pra te entregar, o número é 312.

Olho pra cima e vejo o bartender estendendo a chaves em minha direção.

- Obrigada – digo pegando as chaves.

Pego meu uísque, e vou em direção aos elevadores, espero que alguém esteja subindo, sempre tive medo de elevadores. Tosco sim, eu sei! Me julguem.

...

Depois de passar por corredores escuros, ver diversas cenas – algumas excitantes, outras nem tanto - chego ao quarto. Vou para o banheiro e tiro minha roupa, fico só de lingerie. Agradeço mentalmente por esse lugar existir. Escuto o barulho da porta. Ele chegou.

Eu o despi. Eu o amarrei. Eu o manipulei.

Fiz com que ele se comportasse como um objeto de prazer. Objeto do meu prazer. E ser usado como um objeto de prazer era a maior fantasia dele. Seus gritos só me estimulavam a continuar as torturas. Não foi ético da minha parte, mas me libertei da raiva que estava sentindo. Chicotadas não fazia parte do nosso estilo. Mas o toque, e os tapas sempre estavam presentes em nossas fantasias particulares.

Marcos e eu tínhamos uma relação silenciosa, quando precisávamos um do outro, mandávamos uma simples mensagem, era o suficiente para acabar com nossos problemas.

Passamos três horas dentro daquele quarto escuro. Sempre terminávamos as chamadas sessões de BDSM com uma sessão de sexo selvagem. Sexo selvagem, talvez tenha outro nome, mas esse define no momento.

...

- Hoje você estava um pouco agressiva. Aconteceu algo? – pergunta Marcos, enquanto veste a camiseta.

Marcos não me chama de senhora, não faço questão disso também. Muitos dominadores(as) fazem questão desse título. Mas ele é um amigo de longa data.

- Um ex cliente apareceu, descobri que ele vai ser meu orientador na faculdade... – conto tudo que aconteceu em relação ao Fernando.

- Porra, não sei nem o que dizer pra ti. – responde meio atordoado – Mundo pequeno. Ele vai continuar a dar as aulas ?

- Eu não sei, espero que sim. Isso é meu sonho, e eu não vou deixar que ele estrague isso, por causa de orgulho ferido. Os homens continuam com essa ideia de mulher que tem uma vida sexual ativa, bem ativa inclusive, é puta, é vagabunda e etc.

Olhamos um para o outro e damos risadas. Terminamos de nos arrumar e saímos do quarto.

- Quer carona, senhora? – Pergunta ele com um sorriso no rosto.

- Se eu fosse você, tiraria esse sorriso do rosto e pararia de tentar fazer gracinhas com a minha pessoa! Eu ainda estou com a chave do quarto... E sim, eu quero carona, com a Ramona ganhando pouco, a Nina juntando dinheiro para o restaurante e o imprestável do Luke que não paga porra nenhuma... Nunca vou ter um carro – Saímos da casa e fomos em direção ao carro.

- Não sei como ainda tem paciência com elas, e o Luke ainda dorme no seu sofá, como você consegue? – Fala sorrindo – Vocês são amigos desde o ensino médio... Muito tempo juntos.

- Eu gosto da bagunça, até o Luke... Se ele me ajudasse com as contas ia ser perfeito.

Entramos no carro, conversamos no caminho como dois adolescentes. Nem parece os dois animais que estavam daquele quarto alguns minutos antes.

...

Chego em casa e vou direto para o meu quarto. Pego meu celular e checo as mensagens.

Mensagem de Cláudia

O que essa vaca queria?


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