7. Nina

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Continuação...

Tivemos uma noite agradável, o chef estava tentando fazer média com o pessoal da empresa de seguros e não foi tão rude comigo como costumava ser, mas ainda assim foi, só para não perder o costume.

"MESA 6, FILÉ AO MOLHO MADEIRA! " "MESA 9, PANACOTA DE FRUTAS VERMELHAS! "

Era o que se ouvia na cozinha durante todo o jantar. Já no hall se ouvia música clássica tocando ao fundo, e algumas risadas discretas (ou talvez não) vindas de empresários gordos que não mostravam ter classe nenhuma, porém dinheiro de sobra.

À noite, finalmente, chegou ao fim, já estava levemente atrasada pro vinho com as meninas, mas o chef havia me pedido para esperar até que todos fossem embora, já sabia que não viria boa coisa.

-Te pedi para esperar para te parabenizar... -começou ele.

-Me... O que? -Respondi sem entender.

-Te parabenizar.... Por ser um completo fracasso! Você é o tipo de pessoa que contrato por dó, mas já me arrependi. Você percebeu todos os erros que cometeu? Você é incapaz de fazer alguma coisa certa? É burra?

Continuava ouvindo sem dizer nada.

".... Tenho pena de você, tenho pena de você achar que um dia vai ser capaz de ter o seu próprio restaurante. Tudo que você é, me dá pena! E mais pena ainda de quem teve que te aturar na escola de culinária e no bacharel, você é deprimente, como consegue? "

-Terminou? -Disse, agora segurando o choro.

-Quer ouvir mais? -Concluiu soltando uma risada irônica.

-Ótimo. -Uma lagrima rolou pelo meu rosto sem que eu tivesse controle sobre ela, arranquei o avental que ainda estava vestida, o joguei no chão e sai o deixando lá.

Subi para o segundo andar o restaurante, onde se tinha a vista da região que agora estava encoberta por uma chuva extremamente forte e talvez por esse motivo a lareira estava ligada.

Comecei a chorar como uma criança, não tinha controle sobre as lagrimas que caiam. Era o tipo de coisa que não fazia a meses. Realmente achei que tinha me acostumado, mas agora vejo que não. Me sento em uma das cadeiras e tento me recompor para ir embora, não ficava nem mais um minuto nesse caralho de restaurante, com esse lixo de chef. Até que depois de uns cinco minutos ouço passos, não é possível que queria me humilhar mais.

Me levanto e tento descer antes que ele possa subir completamente a escada, mas fui lenta demais. Quando quase esbarro nele, volto e me apoio em uma das paredes, tentando não olhar pra cara dele e ao mesmo tempo parar de chorar.

-Não quero ver você assim... -Disse ele com uma voz calma- Nunca disse nada disso realmente querendo te machucar.

-Nunca quis me machucar? Você é doente? -Retruquei agora sem medo nenhum.

-Era um teste... Você é forte, você é capaz!

Olhava pra ele agora sem entender, mas me virei novamente me encostando na parede.

-A verdade é que eu... Eu... Sempre tive inveja de você. Inveja de como você é capaz de ouvir tanta coisa de um chef medíocre e mesmo assim voltar no outro dia com o mesmo sorriso. Inveja das técnicas que você aprendeu, e não contente só com isso, aprimorou. -senti que ele chegava mais perto- Você hoje merece mesmo parabéns, mas por ter sido fantástica servindo aquelas pessoas.

-Você só pode estar zoando com minha cara! -Respondi, indignada.

-Não estou... E pra falar a verdade, você é fantástica... E eu... Sempre te desejei, desculpe o jeito como falei com você, acho que foi o ciúme de ver você saindo do carro do Jonas mais cedo. Não respondi por mim.

Vinho TintoOnde histórias criam vida. Descubra agora