16. Clarice

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Estou esparramada no sofá de casa mexendo no meu celular. A noite está bem fresca e ótima para sair. Mas não, é sábado à noite e estou observando Mona e Luke discutindo sobre suas teorias loucas enquanto apagam e reescrevem milhões de vezes a mesma conta. Aquilo ali não é de Deus.

Encaro a mensagem de Claudia. O problema de quando você deixa de se prostituir é fazer as pessoas de sua vida antiga entenderem. Solto um grunhido. Eu estaria me divertindo uma hora dessas. Resolvo ignorar a mensagem, apago antes mesmo de ler. Não vou dar moral para essa cobra.

Levanto do sofá e vou até meu quarto pegar minha bolsa. Me recuso a ficar em casa largada no sofá.

–Ei, criançada! Vamos jantar fora? –pergunto ao voltar para sala – Mamãe vai levar vocês para jantar no restaurante que titia Nina trabalha. Dez minutos para se trocarem. –falo com cara daquelas tias da creche.

Mona olha para mim como se dissesse "bem infantil, bem infantil". Apenas rio de volta.

–Quem convida paga. –diz ela.

Não espere de mim, querida. Luke olha para minha cara enquanto abre a estante da sala para pegar alguma peça de roupa lá dentro. Fico observando o quadro jogado na minha sala, uma lousa branca cheia de símbolos esquisitos. Depois eu que sou louca.

***

Sento naquela mesa já irritada. Tudo bem que não tínhamos reservado nada. Mas sentar ao lado do banheiro? Ninguém merece. Nina nem para dar uma forcinha nessa questão. Mas como estávamos com fome demais, resolvemos não reclamar e agradecemos pela ótima localização.

Quando o garçom vem anotar nossos pedidos, peço a ele para avisar Nina da nossa visitinha.

Os dois bonitos pedem um dos pratos mais caros do restaurante, só espero que eles tenham dinheiro. Minha economias estão acabando, não vou ficar gastando com eles, já basta as contas de casa.

–Ramona e Luke, só espero que vocês saibam o preço da comida que pediram, viu? Não vou pagar o de vocês, só avisando.

Ramona arregala os olhos.

–Quem convida paga, Clare. Tua mãe nunca te ensinou isso?

–Pode até ser. Mas a feminista aqui não é você? Cadê os direitos igualitários agora, docinho?

Touché.

Ela revira os olhos.

–Você é inacreditável.

Mando um beijo para ela.

–Eu pago nosso jantar, Mona -anuncia Luke.

Prendo a risada. Luke não tem dinheiro nem para cuecas novas.

–Ok, agora eu estou oficialmente de vela no encontro de vocês, crianças.

Luke ficou vermelho como um tomate maduro. Dei uma gargalhada por dentro. Espero que eles saibam lavar pratos. Nina sai de uma porta dupla de maneira e vem rapidamente até nós.

–Gente, o que vocês estão fazendo aqui ? –ela diz sem fôlego e em baixo tom.

–Caraca, isso é jeito de tratar seus amigos legais e fiéis? –dramatizo

– Poxa estamos aqui para comer bem. E você estava correndo na são silvestre, é?

Nina rola os olhos e sorri.

–Desculpa pela recepção, Dona Clare. Está um correria na cozinha e está muito quente lá dentro – Ela passa a mão na testa secando o suor.

Vinho TintoOnde histórias criam vida. Descubra agora