Chegou a hora Gabriela, você está vendo ele, ele é da sua classe, você estuda com Matheus a anos. E só chegar e dizer: "Oi tudo bem, então eu sei que a gente nunca conversou mas eu tenho algo pra te contar, sabe eu sou um anjo da guarda, e você adivinha só, meu guardião" não espera, isso não parece o que uma pessoa normal diria. Como eu vou fazer isso ? Por Deus que difícil. Mas chegou a hora, estamos no intervalo e é agora ou nunca.
- Matheus ? - eu perguntei a ele depois de ganhar uma certa coragem.
- Quem é você ? - ele perguntou depois de se virar a minha frente. Eu nunca havia visto um humano como ele. Matheus era diferente, passava uma impressão contrária da que eu esperei ver. Tinha um olhar vazio e perdido. Sua voz era arrogante e insolente, com certeza insolente. Seus cabelos negros davam a ele um ar despojado que de certo parecia ter. Ter, não exercer. Será que não é ele ? Mas senão ele, quem seria. Eu tive o sonho.. Matheus é o meu guardião.
- Estudamos juntos e você não sabe o meu nome ? Sério ? É Gabriela. Olha, eu preciso falar com você, em um lugar menos movimentado. - eu disse depois de olhar em volta. A cada palavra que eu dizia ele parecia mais confuso, e isso de me deixava apavorada.
- Eu tenho certeza de que não tenho nada para conversar com você. - ele disse.
- Matheus venha comigo agora, por favor ! - eu disse, e quase que por impulso segurei em seu pulso.
- Me solta ! Eu já disse, não tenho nada para conversar com você. - ele disse e puxou o braço.
- desculpe. Eu preciso que você venha comigo, primeiro você vai me achar uma louca, mas depois, eu prometo, tudo vai fazer sentido - eu estava a ponto de implorar por cinco minutos de sua atenção.
- eu prometo são duas palavras muito fortes.
- e as uso com toda convicção.
- ok, mas apenas para que você me deixe em paz - ele disse e eu concordei. O levei até o laboratório onde tranquei a porta e pude perceber que Matheus se espantou, mas não disse nada.
Puxei oxigênio, mas ainda me faltava o ar. Por um momento parecia que tudo havia parado, ficado mais lento. Consegui ouvir o assovio do vento e o movimento das folhas, até mesmo o compasso da respiração do Matheus.
- Você conhece alguma coisa sobre anjos ? - eu tentei ser o mais direta que conseguia.
- anjos não existem. E se você acredita neles, é melhor parar. Vai por mim, eu já tive fé.. - ele disse, e por um momento pareceu que recolhia lágrimas de sangue.
- e se eu lhe dissesse que sou um anjo ? - eu disse e tentei parecer fria.
- eu lhe recomendaria um bom hospício. - ele no fundo sabia que o que eu dizia era verdade, ele também teve um sonho, um sonho como o meu.
- Matheus vamos, eu sei que você sabe que é verdade. Por favor. Você sabe onde eu quero chegar. Você é meu guardião e eu um anjo da guarda. - mais uma vez estava quase implorando para que aceitasse o que lhe dizia, mas ele estava sempre tão fechado.
- Isso é muita loucura. Eu tenho que ir. - ele disse e abriu a porta.
- FIQUE! - eu disse e sem perceber, com os poderes de anjo tranquei a porta do laboratório mesmo estando a metros de distância da mesma. Digamos que ser anjo tem lá suas vantagens. Ao mesmo tempo que a porta de madeira fechou, senti minhas asas se abrindo e provocando uma ventania dentro da sala. As coloquei pra dentro de meu corpo imediatamente. Matheus não esboçou nenhuma reação. Abri a mochila e peguei meu cardigan azul e me cobri já que minhas asas aviam acabado de rasgar as costas da minha camisa. - fique, por favor - eu disse em tom muito mais baixo - você também teve o sonho, eu sei que teve. Não finja que não sabe de nada. Por favor ! - falei e o sinal do fim do intervalo soou agudo nos meus tímpanos. Ele não disse nada, apenas ajeitou a mochila nos ombros e saiu. Eu fiz o mesmo e cada um foi para um lado do corredor.
Aí meu Deus, o que eu fiz ? Ele deve ter ficado assustado, mas não parecia. Agora não adianta chorar pelo leite derramado certo ? Certo !
- Como foi com o guardião ? - ouvi Isabela dizer imediatamente invadindo e rompendo meus pensamentos. Ela sabe sobre tudo, sabe sobre mim.
- péssimo eu acho. Eu me expus, as minhas asas - eu disse baixo.
- Gabriela você não podia ter feito isso - Isabela me repreendeu.
- Eu sei, mas fiz. Não tive controle. O que será que ele deve estar pensando agora ?
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Entre Anjos & Guardiões
FantasiaGabriela sempre acreditou na humanidade e na bondade, ela tinha fé, mas durante aquela jornada a sua fé foi roubada aos poucos. Matheus sempre foi cético, acreditava no prático e no comprovado, ele não tinha fé, mas durante aquela jornada ele...