18- Devaneios

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"Porque eu perdi o meu caminho dentro da verdade,
Momentos assistindo deslizando através
Minhas mãos ficava cada vez mais vazio a cada dia
Você acendeu o fósforo, sacudiu-me acordado

O fogo cresceu, você acendeu as chamas
Queimou até que as paredes deixar entrar a luz"

Olho no relógio, 01:00, não consigo dormir, não paro de pensar. Tenho feito muito isso ultimamente, pensar está se tornando um hábito. E não sei se isso é bom ou saudável.

Mas será que estar aqui, hoje, longe de casa, da minha vida antiga, é saudável ?

Será que tudo isso é real ? Realmente tem um anjo dormindo bem a frente do meu campo de visão ? Eu, de verdade, estou aqui agora ? Em Boston ? Sou um guardião ? Foi pra isso que nasci ? E se eu abrisse os olhos e estivesse em casa, dentro do meu quarto ? Na parede da direita pôsteres das minhas bandas preferidas, na escrivaninha a esquerda, trancada a sete chaves meus poemas da Zélia Duncan.

Me senti confuso durante toda a minha vida. Des do dia daquele acidente me pergunto se tudo isso é real, pergunto se o meu pai não está no escritório traçando mais uma campanha brilhante para comerciais. Se ele estivesse aqui, talvez, só talvez, fosse tudo diferente.

Sinto a falta dele todos os segundos, quando ele morreu, um pedaço da minha alma foi junto. E se me fosse dada escolha, iria preferir a minha própria morte a vê-lo morrer.

Eu tento suprir a falta que a presença dele me faz todos os dias, mas sou fraco. Não consigo sozinho, mas não acredito estar disposto a pedir ajuda.

Até hoje um dos meus maiores desejos é ser livre, e é por isso que eu tanto lamento. Porque eu sempre vivi preso, preso em mim mesmo, dentro da minha tristeza, do meu luto eterno, dos meus devaneios e pensamentos.

E se por acaso eu e Gabriela não estivéssemos aqui tentando capturar um anjo caído, o que estaríamos fazendo ? Como pessoas normais em vês de anja e guardião.

Preciso que alguém me mostre a luz, porque sinto que estou todo dia vivendo uma mentira.

***

"Estamos todo o tempo que passa,
Procurando pela adrenalina que nos faz sentir vivos
Vivendo entre os momentos
Preso dentro de uma mentira
Eu preciso de você aqui esta noite
Mostre-me que há mais na vida
E não estamos perdendo o tempo"

Meus olhos simplesmente não se fecham. Não consigo parar de imaginar, de criar possibilidades, queria poder simplesmente dormir.

Tenho usado essa palavra com muita frequência: queria. Pois tudo que eu queria era não estar ali.

Queria poder acordar e não sentir o peso daquela jornada que estava por vir sob os ombros.

Quem sabe eu tenha nascido apenas para ser uma humana, meu trabalho pode não ser tão grandioso o quanto imaginei, talvez eu não chegue a salvar vidas um dia, não venha a ajudar as pessoas.
Possivelmente, agora quem precise de ajuda seja eu.

Sempre tive em mente ser uma anja da guarda. E não me bastava ser qualquer uma, queria ser A anja. Estou nessa missão faz pouquíssimo tempo, e olhem meu estado mental.

Queria poder ajudar o Matheus, só que agora não sei mais se sou capaz. Esse é um dos medos que mais vêem me atormentando. Me perguntar se sou capaz de tudo isso. Olho para meus problemas e me encontro no meio de um penhasco, cercada por dúvidas e questionamentos.

A única coisa que faço diante do penhasco e me apavorar como uma criança assutada. Correr para lugar nenhum, sem rumo, perdida. Estava sentindo isso agora, me sentindo perdida.

Não quero mais sentir isso.

Vasculhei pela cama a procura do meu celular, quando o achei liguei imediatamente para Rômulo.

- Alô ?

- Por que você me escolheu ?

- Gabriela ? - ele perguntou com voz de sono.

- Deveriam haver tantas crianças lá, mas dentre todas elas você quis a mim, por quê ?

- Era uma sexta feira chuvosa, eu estava voltando da casa de um primo distante, não conhecia nada daquele bairro. Estava dirigindo, pedi informação pela rua mas ninguém sabia me dizer como chegar em casa. Vi um letreiro grande que dizia: "Orfanato do pé" achei um nome curioso, mas decidi entrar para saber se alguém podia me orientar pelas ruas. Não havia ninguém na recepção, então decidi subir ao próximo piso. Quando cheguei, conversei com um dos enfermeiros que me explicou o caminho. Mas de repente ouvi um choro, olhei o lado e vi um bebê dentro do berço. Da onde estava podia ver você inteira, e quando seus olhos me encontraram o choro cessou, e eu senti que tudo o quê aquele homem havia acabado de me informar não fazia mais sentindo, não fazia mais sentido ir para casa, porque quando eu olhei fundo nos seus olhos senti já estar em casa. E naquele instante eu soube que não poderia viver sem você, Gabriela.

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Música/trechos: Passing Time - Heffron Drive

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