" Pai
Senta aqui que o jantar tá mesa
Fala um pouco tua voz tá tão presa
Nos ensina esse jogo da vida
Onde vida só paga pra ver
Pai
Me perdoa essa insegurança
É que eu não sou mais aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos seus braços você fez segredo
Nos seus passos você foi mais eu."Dia 6 de junho de 2005
- mamãe ! Onde o pai está ? - perguntei. Acho que ele deve ter ido buscar uns documentos de seu trabalho que precisa para amanhã.
- foi na casa da sua avó pegar sua pasta. Daqui a pouco ele está aqui, meu bem. Agora venha com a sua mãe brincar um pouco - mamãe disse e puxou minha mão até o quarto.
Brincamos de ser um pássaro, é minha brincadeira preferida, os pássaros são tão livres. Eu queria ter asas, para ser livre como eles. Em quase cinco minutos de brincadeira, ouvi o telefone da cozinha tocar e minha mãe ir atender. Conforme a voz do outro lado da linha falava mamãe dizia as seguintes palavras:
- quando foi isso ? Você tem certeza de que era ele ? Aí meu Deus. Ok, estou indo aí agora. - foram as suas últimas palavras antes de me pegar pelo pulso.
Em uma de suas mãos segurava o casaco e as chaves do carro. Entramos depressa ela me mandou colocar o sinto e assim eu fiz. Fomos até uma estrada, tinham carros para todos os lados. Mamãe disse para que eu ficasse no carro e que não iria demorar...
Dia dos pais de 2006
- Eu não quero ir a escola mãe ! Quero ir para casa ! - eu disse irritado.
- E quem lhe disse que você tem que querer alguma coisa ? Matheus Aguiar, entre naquela escola agora ! Se divirta e faça novos amigos. Agora ! - minha mãe disse e arrancou com o carro pela rua.
***
- turma, já que hoje é dia dos pais, quero que vocês façam uma redação sobre seus pais. E depois, cada um vai ler ela em voz alta para toda turma. E Matheus - agora o professor de português olhava somente para mim e falava mais baixo - se esforce para fazer algo bom. - ele disse e se sentou na cadeira escondida por uma estensa mesa de madeira velha.
Como um menino sem pai pode fazer uma redação sobre o seu pai ? A menos que...
Depois de quinze minutos escrevendo, iniciaram as leituras das redações. Muita gente falou muita coisa, suas experiências com seus pais, as lembranças felizes.
Quanto finalmente o professor chamou meu nome eu arranquei a folha do caderno, e me dirigi para a frente da sala, com um monte de gente me olhando. Respirei fundo antes de começar:
- Oi pai. Eu não sei se você está aqui agora e se vai poder me ouvir dizer, mas eu vou continuar mesmo assim. Era uma tarde de inverno e nós tínhamos ido a casa da minha avó para o típico almoço de domingo. Você tinha levado sua velha pasta de couro por que seu projeto para o comercial estava lá. O senhor estava tão orgulhoso pai. Mostraria no trabalho, na reunião do dia seguinte. Tudo estava ótimo, tudo estava perfeito. Depois de nós irmos para casa você se lembrou que esqueceu seus documentos em cima da mesa de jantar da vó. Eu te puxei nisso, nós dois sempre esquecia-mos as coisas. O senhor voltou lá, mas quando estava na estrada para chegar em casa... Eu não sei bem, não me contaram ao certo. Mas eu sei que você bateu com o carro. A mãe foi as pressas até uma avenida não muito longe de casa. Ela me mandou ficar no carro. Mas eu sai, eu queria te encontrar. Me lembro de ver muitos outros veículos e barulhos altos de sirene. Tinham muitas pessoas em cima do seu carro. Eu cheguei mais perto e consegui te ver. O senhor estava todo coberto de sangue e tinham muitos cacos de vidro ao seu redor, um em especial encravado no meio do seu estômago. Havia um outro carro a sua frente, mas ninguém estava nele. A última coisa que eu ouvi antes da mãe me agarrar chorando foi um homem dizendo para outro: "hora do óbito: 8:00 da noite". Eu nem sabia o significado de óbito. Depois disso, a última vez que eu te vi foi no dia que seguiu a esse, você usava um terno preto, seu nariz e ouvidos estavam tampados. Suas mãos se juntavam ao peito e seguravam um buquê de rosas brancas... Eu não seu aonde você está agora pai. Mas eu espero que ainda olhe por mim todos os dias como o senhor costumava fazer. E mesmo que eu não te veja, gosto de pensar que você ainda me lê histórias como fazia todas as noites. Até algum dia pai.
"Pai
Pode crer eu tô bem, eu vou indo
Tô tentando vivendo e pedindo
Com loucura pra você renascer
Pai
Eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Pra falar de amor pra você"~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Oi pessoas, alguém se emocionou por aí ?
Não esqueçam de votar. E peço encarecidamente que comentem pois quero saber as reações de vocês nesse capítulo 😽
<Da Terra para Marte. Câmbio Desligo>
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Entre Anjos & Guardiões
FantasyGabriela sempre acreditou na humanidade e na bondade, ela tinha fé, mas durante aquela jornada a sua fé foi roubada aos poucos. Matheus sempre foi cético, acreditava no prático e no comprovado, ele não tinha fé, mas durante aquela jornada ele...