Capítulo 77 - Perda.

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Sentia que a culpa era minha, esperava na sala de espera do hospital por notícias dela mas sabia que qualquer coisa que saísse da boca do médico de bom não era. A hora da minha avó chegou e neste momento estou mais só do que alguma vez me senti.

Sentia as mãos quentes das pessoas que se desculpavam pelo estado em que a minha avó se encontra. Não queria estar a viver esta situação no momento mas tudo indicava que era o que merecia.

- Layna Anderson? - Chamou uma voz masculina. Caminhei na sua direção, as minhas mãos suavam mais do que previa. - Lamento. - Fechei os olhos e senti a cara húmida devido ao desespero em que me sentia. Ela partiu e parte de mim partiu com ela.
O médico nada mais disse e eu caí nos braços do meu pai que me segurou este tempo todo.

***

O vento da noite refrescava-me a cara e todas as pequenas memórias que vivi com a minha avó enchiam-me a mente. Os risos, as lágrimas, as zangas e foi com a última que me despedi.

A parte vivida que tinha da minha mãe também me abandonou. Estou sozinha e sinto-me só.

-Layna? - Ouço chamarem o meu nome mas a minha mente estava tão distante que mal me apercebi de quem tinha saído. O dono da voz sentou-se do meu lado.
Ficamos ambos em silêncio e não lhe podia estar mais grata por isso, não queria falar sobre nada ou sequer sobre ela, queria estar somente comigo e ele sabia disso mas também sabia que não queria estar de todo sozinha mesmo que o meu coração esteja negro.
Senti as minhas tristezas deslizarem pela cara e limpou-as para me puxar para si e me embrulhar com o seu braço e eu deitar a minha cabeça sobre o seu ombro. O seu calor transmitia-me paz mas a minha mente corria todas as histórias que a minha avó me contava. Queria tanto ter partilhado com ela mais experiências. Porque me abandonou ela?
- Vai correr tudo bem. - Falou por fim.
- Não vai. Não quero que corra. - Ele calou-se e continuou a massajar o meu braço frio. - Quero estar sozinha. - Calei-me. - Ela ensinou-me tudo. - Falei. - E eu estou a viver a perda dela, queria tanto crescer com ela do meu lado, a conhecer tudo aquilo que irei conhecer. Queria que ela te conhecesse como meu e queria que ela conhecesse o nosso fruto. Ela era o meu vento e a minha luz solar, amava-a tanto e amava-a mais do que me amo a mim. Sinto-me tão só e estava contigo enquanto ela me abandonava, se eu não estivesse contigo...
- Estarias a dormir. Layna não é culpa tua, não podias ter feito nada.
- Podia. Podia ter ido por ela e podia ter-lhe deixado a filha que tanto ama. Eu destruí tudo o que ela amava.
- Não, tu deste-lhe tudo o que ela ama agora. Ela amou-te como ninguém te amou, foste a filha que ela perdeu e foste uma filha que ela ganhou. - Deitei a minha cabeça sobre o seu ombro. - E tu deste-me a mim tudo aquilo que amo e vou amar.
- Eu quero-a de volta. - Pedi enquanto me aconchegava melhor nos seus braços.
- Tudo vai melhorar e eu vou estar aqui para me certificar disso.
- Até te perder.
- Não, me perderes nunca.


A Deep Regret Z.M.Onde histórias criam vida. Descubra agora