Capítulo 1 - Autumn.

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Autumn (nome próprio): nascido na queda; outono.

Layna

Estamos a fazer apresentações orais em Inglês e ouço Ronnie, um dos rapazes mais velhos da minha turma, contar a história do cão Hachi, do avô.

Uma história fantástica.

Vi algumas das raparigas mais sensíveis da turma chorar mas a mim não me afecta muito.

Chorar não é para mim.

Apercebi-me que é a minha vez, não quero ir quando sei que vão gozar comigo.
- Layna. - Ouço o meu nome e levantei-me pois não posso não fazer esta apresentação, é muito importante para a nota.
- Vai Layna, vais falar de quê? Do quão gorda és e de quanto isso contribui para a tua vida?
- Nem devias fazer a oral. Ah! Espera! Orais é o que fazes a toda a gente não é? - Ouço enquanto caminho para o lado da professora em frente à turma completa.

Depressa cheguei ao local pretendido, um enorme nó criou-se na minha garganta e não consigo falar. Richard coloca o dedo no nariz e depois à boca, algo que me enoja, Abigail olha para mim, ela é estranha parece a Wednesday da família Addams* e vi Nally cochichar, deve estar a falar de mim.

- Layna por favor, podes começar? - olho para a minha professora, ela é loira, olhos azuis-claros quase brancos e tem umas sardas muito claras ao longo do nariz. Volto-me mais uma vez para a turma e coloco os olhos sobre o meu pequeno caderno de apontamentos que contêm pequenas linhas que formam palavras em toda a folha.
- Vou ler a história na primeira pessoa, como se fosse minha. - Expliquei.
- Pois! É a única maneira de fazeres alguém te querer, já que ninguém te quer. - Ignoro o que Andrew, um dos rebelde da minha turma, acaba de dizer mas forma-se um coro de risos que ecoa na sala.
- Vou contar a história da minha mãe, Autumn.

Entrei no hospital, o mesmo hospital que minha mãe me teve.
Entreguei o meu cartão de utente para a minha consulta no médico e esperei um bom tempo.

Chegou a minha vez e eu preparei-me para entrar.
- Bom dia. - Cumprimentou-me, respondi-lhe com o mesmo.
Entreguei-lhe as minhas análises que tive que fazer no mês passado e ele analisou-as enquanto fez uns pequenos sons de analisação e a sua testa se enrugou e elevou o seu dedo à boca apoiando-se.
Pousei a mão sobre a minha barriga de 5 meses e o pior que ele me pode dizer é que a posso perder.

O Doutor Gustav, pelo que diz na pequena placa que ele traz pendurada no bolso esquerdo, pousou os 3 papéis que continham aquilo que pode ser uma boa ou má notícia e olhou-me um pouco preocupado o que me fez agarrar a minha barriga um pouco mais.
- Temo dizer que são más notícias...- Eu continuo com o meu olhar sobre ele na esperança de continuação.

- A senhora tem cancro pulmonar, maligno. - Naquele momento senti-me a ir abaixo, fixei o meu olhar no do médico e os meus olhos depressa se encheram de água que formam pequenas gotas enquanto caiem pelo meu rosto. O médico continua a falar mas eu não presto atenção a nada. Aquilo foi como uma bala a atravessar-me o coração, massajei a barriga que protege o meu pequeno embrião e decidi ouvir o médico que me explicou os tratamentos que tinha de fazer e que precisava de fazer para ficar boa, queria puder cuidar do meu, ainda por nascer, filho e aquilo veio numa má altura...

***

A consulta terminou, levantei-me e saí, fui para um café pois não aguento ir para casa neste momento, não agora pois sei que me iam fazer aquelas perguntas todas: Como correu?, O bebé está bem?, Tens alguma coisa?.

Tenho medo que algum dos tratamentos acabe por matar o que em 5 meses se tornou na minha vida.

Pedi um sumo de laranja natural e uma sandes, estou a morrer de fome.
Terminei o que pedi e caminhei o longo caminho até casa pronta para as perguntas.

Assim que entrei fui atacada pelas mesmas.
- Como estás? - Perguntou a minha mãe enquanto acariciava as bochechas pálidas do meu rosto.
- Ótima, foi apenas um susto. - Sorri e todos me abraçaram em sinal de alívio, sorri em troca sendo apenas um sorriso falso.
- Podia ter ido contigo... - Desabafou como num suspiro.
- Vou para cima, estou a morrer de sono e ontem não consegui descansar por causa da consulta. - Desculpei-me para abandonar a sala.

Deitei-me na minha cama, sim, ainda vivo com os meus pais pois tenho apenas 19 anos e o pai da minha bebé abandonou-me assim que soube do fruto da festa que ele teve comigo.

Palavras dele, pelo que disse a mãe dele.

Massajei mais uma vez a barrigona enquanto penso no que acabei de saber. Ninguém pode saber disto, não quero. Tenho medo de perder o meu pequeno ser.

Acordei com a minha mãe a puxar as cortinas do meu quarto para trás.
- Deixa-me dormir, por favor!

Os meus pais não aceitaram a minha gravidez ao princípio mas sabiam que me tinham de apoiar, sabiam que a sua pequena menina não tinha mais ninguém com quem ficar ou para a ajudar. Aceitaram que eu não ia abortar mas não aceitaram o bebé. Mas sei que o vão amar como me amam a mim.

Virei-me e tapei-me com os cobertores, definitivamente não quero acordar principalmente depois do pesadelo de dia que ontem foi.

***

Ao fim de muito esforço ouve-se o choro mais lindo que se pode ouvir finalmente ela veio ao mundo e finalmente posso tê-la nos meus braços.

Segurei-a enquanto a minha mãe me tirou uma foto mas rapidamente ma tiraram dos braços. Senti-me enfraquecer mas sorri pois finalmente vi a Layna, a minha pequena vida.
- Eu amo-te. - Disse enquanto os meus olhos aos poucos se fecharam.

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*Família Addams: A Família Addams é um grupo de personagens fictícios criados pelo norte-americano Charles Addams.

A Deep Regret Z.M.Onde histórias criam vida. Descubra agora