Capítulo 6 - Livro.

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Livro (nome): conjunto de folhas de papel, em branco, escritas ou impressas, soltas ou cosidas, em brochura ou encadernadas; obra literária ou cientifica, em prosa ou verso; divisão de uma obra.

Layna

A última aula fora passada na biblioteca o que tornou aquele lugar numa alargada algazarra o que não é habitual e fez a bibliotecária queixar-se múltiplas vezes.
Alguns alunos estavam ali especialmente pelo silêncio para que pudessem estudar sem distrações mas nada parecia ser possível com a minha turma ali.
Quando finalmente nos conseguimos organizar a professora ordenou que vagueássemos sozinhos em silêncio na procura do livro ideal para a apresentação na aula.
Dirigi-me para a estante de ficção científica na procura de algo interessante mas nada me pareceu ideal e percorri uma outra estante, perto da última em que não vi o nome mas Zayn parecia saber em que estante se dirigir e não era bem para procurar um livro, entrou dentro do corredor escuro onde já o vira antes.
Peguei num livro que parecia interessante cujo nome até era atraente O Segredo da Casa de Riverton* de Kate Morton*.
- Esse livro é excelente. - Disse um rapaz que se encostava à estante enquanto sorria. - Harry. - Apresentou-se.
- Já o leste? - Perguntei sem demoras.
- Sim, já tive o prazer de o fazer. - Sorriu novamente. - És capaz de gostar. - Sorriu e eu sorri em acompanho para ele logo me deixar sozinha, mas que raio?

Voltei para junto da professora que me sorriu depois de lhe mostrar o que levava. Olhei em volta para ver o que os meus colegas levavam e vi Zayn ainda junto da prateleira sem ainda nada na mão, ainda não se tinha decidido ou então estava demasiado atento a outras coisas que procurar um livro, colocou a sua mão na madeira velha que já suportava com dificuldade o material daquele local mas logo a tirou quando sentiu a mão de Andrew sobre o seu ombro e lhe mostrou um livro que Zayn aceitou de bom grado saindo rapidamente dali para que não lhe questionassem do porquê de estar ali.
Um a um requisitamos os livros por duas semanas e caminhamos em passo apressado para a aula para o toque anunciar o final das aulas daquele dia.

Guardei as minhas coisas na mochila e fechei-a para a colocar sobre as costas e sair da sala para perceber que não estava sozinha nos corredores e Zayn se encontrava a se preparar para entrar dentro da biblioteca, que estará ele a fazer?
Sem grandes questões segui-o.
- Eu sabia que voltavas. - Afirmou o rapaz tapando o meu motivo de estar na biblioteca e eu sorri.
- Não foi por ti.
- Ui que ela morde. - Brincou e voltou a reavivar as suas covinhas que tinha o prazer de conhecer pela segunda vez. - Que fazes aqui? - Não lhe podia dizer que seguia Zayn, nem por sombras.
- Vim aqui rapidamente... - Fazer o quê? Tenho de pensar. - Fazer uma pesquisa na Internet.
- Podes usar o meu computador se quiseres. - Apontou para um secretária cheia de livros e cadernos com imensos apontamentos um pouco confusos mas organizados.
- E tu que estás aqui a fazer?
- Estudar.
- Já tinha percebido isso. - Sorri.
- Vou ter um teste que conta imenso para a nota amanhã. - Ele pensou um pouco e colocou a mão na nuca. - Não me queres ajudar a estudar? - Disse gaguejando e eu consenti. Puxei uma cadeira para junto da dele e pesquisei os livros que ele tinha sobre a mesa.
- Álgebra? - Sorri.
- O meu maior inimigo. - Sorriu.
- Sou a Layna, acho que não me cheguei a apresentar. - Ele sorriu. - Qual é o assunto que tens mais dificuldade? - Ele folheou o livro durante algum tempo e parou num tópico.
- Este mata-me, não o percebo. - Estudei um pouco do assunto e tratei logo de o tentar ajudar, detestava álgebra mas tinha de admitir que era a disciplina que tinha melhores notas.

Não me tinha dado conta das horas passarem quando acabei a explicação e ele finalmente percebeu um pouco mais do tópico mas o meu coração acelerou quando vi Zayn sair do corredor enquanto colocava a sua pasta negra sobre as costas, ele traçou o seu olhar com o meu quando me viu a admirá-lo. Porque não conseguia eu deixar de o fazer? Vou-me colocar em enormes sarilhos.
- Este queria matar alguém com o olhar. - Afirmou ele.
- Sem os amigos não faz mal a uma mosca. - Brinquei. - Tenho de ir que já está a ficar tarde. - Ele anuiu.
- Obrigada pelas explicações, não sabia o que faria se não fosses tu! - Corei enquanto sorria e ele despediu-se com dois beijos em cada bochecha e saí em passo acelerado da biblioteca.

O meu corpo projetou-se contra o chão quando bati contra um outro corpo um pouco mais pesado e forte que o meu.
- Fala sobre o que viste e deixas de ter o resto de dignidade que te resta. - Olhei-o admirada com o que ele estava a dizer.
- Eu não vi nada. - Disse a medo.
- Que continue assim. - Ficou um pouco a admirar-me enquanto me mantinha sentada sobre o chão e ele estendeu a sua mão para me ajudar, não confiava nele mas a sua cara carrancuda logo passou a uma suave e desconhecida.

***

Tranquei a porta atrás de mim quando cheguei a casa e caminhei até à cozinha que se mantinha só.

Layna,

Faz o jantar para ti que vou chegar tarde, vou até casa da tia Margot
e sabes como ela é quando começa a falar.
Até logo e beijinhos!
Avó.

Li no papel amarelo sobre a bancada. Encolhi os ombros e coloquei o copo de água sobre a pia para subir para o meu quarto e deitar-me na cama com o livro de Kate Morton sobre o braço e li algumas páginas para conhecer um pouco do livro e este parecia ser bastante interessante, pelo menos tinha uma história cativante.

***

Pousei o saco na banca da cozinha e retirei as coisas de dentro para as guardar enquanto a minha avó fazia o mesmo.
- Foste às compras? - Perguntei.
- Sim, aproveitei que a tua tia ia e comprei umas coisas que faltavam. - Anui e continuei a minha tarefa calada, Zayn aparecia demasiadas vezes na minha mente e a estender-me a sua mão para me colocar de pé, não sabia o que tinha acontecido, comigo que confiara nele e com ele que me tinha ajudado.
- Como está a tia? - Perguntei.
- Sempre a mesma fala barato, mas está bem. Dentro das possibilidades. - Sorri. - E a escola?
- Bem, hoje fomos à biblioteca requisitar livros para fazer um trabalho.
- E qual requisitaste?
- O Segredo da Casa de Riverton de Kate Morton.
- Já li o resumo, parece excelente!
- Já li um pouco e é interessante. - Sorri e a conversa parou por aí. Pensei em contar-lhe sobre Harry mas a mesma iria começar com as suas perguntas irritantes e permiti-me poupar-me disso.
- Vou descansar.
- Já jantaste? - Perguntou.
- Comi uma sandes e fiquei satisfeita. - Menti. - E tu?
- Jantei em casa da Margot. - Sorriu. - Vai lá, dorme bem e até amanhã.

Quando cobri a minha barriga com a camisola que estava a vestir retirei a caixa cinzenta que se dispunha debaixo da minha cama e retirei a única prova que tinha em como tinha pai e beijei ambos, sabia que o meu pai me tinha abandonado mas mesmo assim não o conseguia deixar de adorar.

~~~

*O Segredo da Casa de Riverton: Como sobrevivem os que presenciam a tragédia?

Verão de 1924

Na noite de um glamoroso evento social, um jovem poeta perde a vida junto ao lago de uma grande casa de campo inglesa. Depois desse trágico acontecimento, as suas únicas testemunhas, as irmãs Hannah e Emmeline Hartford, jamais se voltariam a falar.

Inverno de 1999

Grace Bradley, de noventa e oito anos de idade, antiga empregada da casa de Riverton, recebe a visita de uma jovem realizadora que pretende fazer um filme sobre a morte trágica do poeta.
Memórias antigas e fantasmas adormecidos, há muito remetidos para o esquecimento, começam a ser reavivados. Um segredo chocante ameaça ser revelado, algo que o tempo parece ter apagado mas que Grace tem bem presente.
Passado numa Inglaterra destroçada pela primeira guerra e rendida aos loucos anos 20, O Segredo da Casa de Riverton é um romance misterioso e uma emocionante história de amor.
*Kate Morton: Kate Morton cresceu nas montanhas do Sudoeste de Queenland, na Austrália. Licenciou-se em Teatro e, mais recentemente, em Literatura Inglesa. Kate vive com o marido e os dois filhos em Brisbane, num palacete do século XIX repleto de mistérios. As horas distantes é o seu terceiro romance, depois do sucesso internacional obtido com O Segredo da Casa de Riverton e O jardim dos segredos. Os seus livros estão publicados em 31 países.

A Deep Regret Z.M.Onde histórias criam vida. Descubra agora