Era sábado novamente e, apesar de não ter aula, eu tinha que trabalhar. Pelo menos o meu turno começava ao meio dia e eu podia dormir até mais tarde, isto é, se eu conseguisse. Foi quase um déjà vu: acordar e ouvir o barulho de mergulho na piscina. A única diferença é que, desta vez, eu sabia exatamente quem era. Como vi que não conseguiria mais dormir, coloquei o biquíni e desci. Confesso que o dia estava lindo para um mergulho.- Bom dia, vizinha - ele falou assim que me viu
- Bom dia! - respondi
- Eu devo estar sonhando. Você de bom humor?
- Está um dia lindo, por que não estaria? - eu disse colocando os pés na água e me preparando para entrar
- Cuidado ao entrar na água! - ele exclamou e eu, rapidamente, tirei meu pé
- Por quê? - falei assustada
- Você deve estar com febre ou algo do tipo isso para estar bem humorada. Isso pode causar um choque térmico já que a água está gelada.
Ele riu. Eu não achei a menor graça.
- Já te disse que você é um idiota? - falei, finalmente entrando
- Se eu sou um idiota, por que você sempre decide entrar na piscina quando eu estou aqui?
- Eu já falei. Está um dia lindo. E, fora isso, metade dessa piscina é minha, eu tenho todo o direito.
- É justo - ele exclamou
Ficou me olhando com a cabeça encostada na beira da piscina e eu fiquei incomodada.
- Perdeu algo aqui nesse lado da piscina? - falei
- Só estava curioso. Montreal. Como seus pais surgiram com esse nome?
- Não que você precise saber, mas meus pais me deram esse nome porque eles se conheceram em Montreal.
- Seus pais são canadenses?
- Não. Minha mãe foi fazer uma viagem turística e meu pai estava estudando lá por meio de um intercâmbio.
- Interessante. E como eles se conheceram?
- Qual é a desse interesse todo? - estranhei
- Só estou curioso.
- Vamos fazer um trato. Eu respondo uma pergunta sua e você responde uma minha - eu também estava curiosa
- Fechado.
- Eles se conheceram por sorte. Meu pai chamou um táxi no meio da rua sem perceber que minha mãe, do outro lado da rua, também havia o chamado. Um táxi parou e cada um entrou de um lado do banco traseiro sem perceber a presença do outro. Depois de algum constrangimento, eles acabaram decidindo por dividir o táxi. E depois eles combinaram de sair, essas coisas todas, se casaram, me tiveram...
- E você chama isso de sorte?
- O que você acha que foi? Destino?
- Você não acredita que nada acontece por acaso?
- Sei lá, acasos acontecem. Mas não me venha com perguntas que agora é a minha vez.
- Tudo bem. Pergunte.
- Por que você resolveu vender essa casa?
- Eu... - ele ficou um pouco incomodado - A casa ficou grande demais só para mim.
- Já ouvi essa história, mas por que a casa ficou grande demais?
- Você já fez uma pergunta. Agora é minha vez de novo.

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21 Azulejos
General FictionNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...