- Ainda não são nem dez horas, vamos fazer algo diferente! - Enzo falou, animado, enquanto entrávamos no carro- Algo diferente? Essa viagem inteira já não é algo diferente?
- Não, algo emocionante, divertido. Que nem aquele dia que nós comemos comida japonesa e experimentamos roupas caras e saímos correndo.
- O dia em que fizemos tudo o que você nunca tinha feito?
- Sim! Exato! O que você nunca fez aqui em Little Rock?
- É mais fácil perguntar o que eu fiz.
- Ah, fala sério. Sua adolescência não deve ter sido tão monótona assim.
- Ou eu estava em casa estudando ou eu estava no laboratório revelando fotos de paisagem ou eu estava trabalhando na lanchonete. Essa foi minha adolescência.
Enzo virou os olhos enquanto dava partida no carro.
- É sério, vamos lá. Pensa em alguma coisa da sua adolescência que você queria ter feito, mas não fez.
Eu pensei e pensei muito por alguns segundos. Tais anos pareciam ser um borrão em minha mente, talvez eu os tenha bloqueado.
- Bom, tinha um parque de diversões e eu queria ter ido no elevador de trinta metros, mas ele não existe mais. Tinha também um festival de música que eu acabei não indo por falta de companhia...
- Ok, ok, vamos falar de coisas que ainda existem. O que as pessoas da sua idade faziam enquanto você estava trancada em casa?
- Tirando ficarem muito bêbados, gritarem pela cidade toda e vomitarem lá de cima da ponte?
- Sim, por favor, tirando isso.
- Ah! - eu disse, com o polegar pra cima, como se eu acabara de ter uma ideia genial - Eu sei um lugar! Dá meia volta, é pro outro lado.
- O que é? - Enzo falou enquanto ligava a seta e esperava o carro de trás passar
- Não sei se ainda existe, mas vamos descobrir.
- Tem certeza que é por aqui?
A rua estava escura, quase esburacada. Muita coisa havia mudado naquele bairro, eu só esperava que o que eu queria mostrar continuasse ali.
- Um pouco mais pra frente. Provavelmente vai estar à direita - eu disse, tentando enxergar algo - Ok, pode parar aqui.
Saí do carro, tentando identificar algo.
- Mas não tem nada aqui - Enzo falou, com a cabeça pra fora da janela
Andei mais um pouco, até que meus olhos enxergaram-na.
- É aqui mesmo! Encosta o carro assim de frente e não desliga os faróis! - exclamei
Enzo saiu do carro, me perguntando o que tinha ali. Eu cheguei mais perto da cerca baixa de arame e ele deve ter se surpreendido quando, apoiando meus braços em cima da coluna de madeira, pulei para o outro lado com cuidado.
- Me fala que a gente não está invadindo uma fazenda - Enzo falou
- Na verdade é algo que você tem muito mais experiência em invadir.
Ele ficou curioso e também pulou a cerca baixa de arame.
- O que estamos fazendo aqui, Mon? - Enzo continuou andando até mim e eu tive que colocar meu braço na frente de seu corpo, impedindo-o de dar mais um passo, e assim fazendo-o olhar para baixo
Ele olhou para seus pés e tentou enxergar algo somente iluminado pelos faróis do carro metros atrás de nós.
- Não me diga que isso é uma piscina.
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21 Azulejos
Ficción GeneralNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...