- E o quarto é enorme! E olha que arejado! - a corretora disse, abrindo as cortinas e deixando com que a luz adentrasse ao cômodo- É realmente uma bela casa - eu exclamei, andando pelo piso de madeira do segundo andar que rangia a cada passo
A corretora mal sabia que eu não era uma pessoa de ambientes iluminados, ou "arejados", como ela mesma disse. Eu gostava de lugares aconchegantes e isso, para mim, era sinônimo de um lugar mais escuro, menos aberto. De preferência com o som de chuva lá fora, um bom filme que, na maioria das vezes, era um que eu já havia visto milhões e milhões de vezes, porém sempre decidia assistir de novo, e alguma bebida quente, quem sabe meu cappuccino caseiro com um pouco de mel. Aquele quarto seria perfeito com as luzes apagadas, cortinas fechadas e eu debaixo do edredom.
- E por um preço excelente! Se eu fosse você, não perderia essa oportunidade! - ela continuou falando sobre as vantagens daquela casa
Era uma casa grande, sem dúvida. Dois andares, varanda, duas suítes e até piscina. No fundo eu me perguntava se estava fazendo a coisa certa, porque eu sabia que a casa era grande demais só para mim, mas eu tinha planos para ela e, talvez assim, com a motivação e toda a grandiosidade de ela talvez me traga, eu possa um dia acreditar um pouco mais no meu potencial. Era disso que eu precisava: uma motivação. Algo que me desse certeza, nem que fosse algo talvez irreversível.
- E aí? O que você achou? - ela disse descendo as escadas
- Eu achei muito boa, mas o preço ainda está um pouco salgado para o meu bolso - falei, acompanhando-a ao primeiro andar, tentando não encostar-me ao corrimão empoeirado
- Mas isso não é problema! Nós podemos negociar.
Eu concordei, sentando-me à mesa da copa e vendo a corretora fazer algumas contas na calculadora e logo em seguida uma ligação. Ela pediu licença, já com o celular ao ouvido, e eu tomei tempo para olhar ao meu redor. Aquela casa era bonita, bem cuidada, talvez só precisasse de mais alguma cor nas paredes, algo que não a deixasse tão sóbria.
- Sério? Está certo. Tudo certo. Vou passar isso para ela - a corretora disse ao aparelho
Voltou à mesa na qual eu estava sentada, pegou a caneta e escreveu alguns números em um papel. Assim que escreveu, arrastou o papel pela madeira da mesa, virando-o para mim.
- Essa é a nossa proposta - ela disse
Eu me perguntei por que daquele gesto. Ela não poderia ter me falado de uma vez? Por acaso o valor dessa casa era confidencial? Quem era o proprietário? Um mafioso? Resolvi não questionar e olhei para o papel.
- Tem certeza de que escreveu o valor certo? - eu perguntei
Ela voltou a olhar o papel, conferindo.
- Está correto.
Eu fiquei um pouco surpresa. O preço havia abaixado mais do que eu imaginava e achava que valia aquela casa. A melhor parte: era um valor que cabia no meu bolso. Fiquei um pouco desconfiada.
- Só a peço que não conte a ninguém sobre essa nossa oferta. O proprietário fez um preço especial para você - ela falou e eu, naquele momento, entendi o por que dela não ter me dito o valor em alto e bom som, porém depois achei aquilo exagerado demais. Ninguém ia ouvir.
- Eu vou ter que pensar um pouco nisso... - falei, um pouco indecisa
Eu também estava desconfiada com o valor, para dizer a verdade. O que aquela casa tinha para que quisessem vendê-la por aquele preço? O que aquela casa tinha para que estivessem desesperados para vendê-la? Porque essa foi a impressão que a oferta me passou.
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21 Azulejos
Ficção GeralNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...