27. Pura sorte, é?

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- Quer mais uma xícara de café? - a garçonete usando um uniforme rosa bebê me perguntou, com simpatia

- Aceito.

- Querem pedir mais alguma panqueca? - ela olhou sorrindo para Isa ao meu lado

- Não, tudo certo. Estamos satisfeitas.

Ela depois fez as mesmas perguntas rapidamente a Enzo, que também aceitou mais café.

- Alguém gostou de você... - eu disse, baixo, quando ela se retirou para servir outra mesa

- Quem? Eu? - ele se fez de desentendido

- Esqueceu que eu sou garçonete?

- Ok, o que foi que ela fez pra que você percebesse isso? Porque pra mim foi a coisa mais normal do mundo.

- Ela foi extremamente simpática comigo, me atendeu primeiro, mal olhou nos seus olhos e saiu correndo.

- Você notou tudo isso nesses 10 segundos?

- Eu estou acostumada com isso. Principalmente porque eu sempre dizia para Karina ser bastante simpática com a mulher quando ela achar o homem do casal bonito, já que ela é bem sem noção e daria na cara.

- Karina... - ele riu - Aquele telefone junto com a conta foi hilário.

- Falando nisso, não tem nenhum amigo para que você apresente para ela não? Eu não aguento mais ver ela escolhendo gente errada e chorando as mágoas para cima de mim.

- Depende, não sei se tenho amigos que não sejam tão cafajestes quanto os que ela deve arrumar.

- Enzo! - eu arregalei meus olhos

- Qual é, você viu no casamento do Fred. Eu tive que te tirar de perto deles pra que nenhum pedisse seu número.

- Que exagero, não foi assim. Mas, sinceramente, eu acho que Karina ia ficar caidinha por eles.

Ele riu, olhou para Isa colorindo seu novo livro tranquilamente. Tudo parecia estar perfeitamente bem naquele instante. Tão bem que me perdi guardando-o em minha mente.

- Mãe? Mãe? - eu havia me distraído por dois segundos a observando e ela quase me mata do coração me chamando de mãe

Demorei uns três segundos para responder, o que a fez me chamar de "mãe" de novo para ver se eu estava ouvindo.

- Oi, filha. O que foi? - eu tentei agir naturalmente para que ela não se assustasse, para que ela não achasse que era algo ruim me chamar de mãe

- Eu pinto o peixe de amarelo e azul ou azul e amarelo? - ela apontou pro livro

Eu tentei me concentrar no livro, mas meu coração estava em festa. Era uma página da Pequena Sereia e demorei um pouco para entender sua pergunta.

- Ah, o Linguado? - perguntei

Ela confirmou com a cabeça.

- Que eu me lembre ele é amarelo com listras azuis. E por que você não pinta a cauda da Ariel com o seu lápis novo metalizado? Vai ficar lindo.

Ela sorriu, mas era eu quem estava sorrindo mais.

Olhei para Enzo, que estava com um sorriso bobo na boca.

- Sua câmera está com você? - ele perguntou

Eu confirmei a tirei da bolsa, entregando-o. Ele rodou o filme e pediu para que nós falássemos "xis". E eu tinha certeza que meus olhos estariam molhados na foto.

- Assim a gente eterniza esse momento e ainda tem um exemplo de um legítimo restaurante dos anos 50. Detalhe: sem nenhum patins.

Eu ri, tentando secar meus olhos.

21 AzulejosOnde histórias criam vida. Descubra agora