- Onde ele está? O que aconteceu? - eu cheguei já um pouco desesperada na delegacia, interrogando a primeira pessoa que encontrei por láEu carregava Isa no colo sem perceber que estava assustando-a. Estar em uma delegacia já não era o melhor lugar para uma criança cheia de traumas, mas estar nesse lugar enquanto eu estava em desespero conseguia ser pior.
- Por quem você está procurando? - uma jovem policial me perguntou, sorrindo para nós
- Enzo. Enzo Scopelli - eu disse - Ele me ligou, falou que está aqui, o que ele fez, por que ele ainda está aqui? - eu embolava as palavras
- Eu vou ver onde ele está. Sei que você não vai ficar tranquila até vê-lo, mas a melhor coisa a se fazer agora é manter a calma - ela falou, olhando para Isa
Percebi que ela estava assustada em meus braços.
- Eu vou ver se você pode vê-lo. Se quiser se sentar... - ela falou novamente em um sorriso
Sua expressão me acalmou um pouco. E eu percebi que tinha que manter o equilíbrio por causa de Isa. Acabei me sentando nas cadeiras vazias da entrada. Não havia ninguém ali a não ser nós duas.Respirei fundo, tentando não pensar em coisas ruins.
- Papai tá bem? - a menina me perguntou do meu colo olhando para cima
- Tenho certeza que sim. Já já vamos ver ele e voltamos para casa, ok? - eu não pareci muito convincente, mas ela não perguntou mais nada
Meu coração batia cada vez mais angustiado a cada segundo de espera. Já havia lido todos os cartazes e avisos pregados na parede. Eu não sabia direito o que esperar. Enzo não havia me dito o motivo, apenas que era para eu não me preocupar. Como? Como ele queria que eu não me preocupasse? E se ele estivesse sido interrogado pelo acidente da piscina? E nossa adoção? Eu imaginei todos os piores cenários dentro de minha mente.
- Você pode vê-lo se quiser - a mesma policial falou ao aparecer no balcão de atendimento novamente
Eu levantei, levando Isa, sem saber o que dizer a ela.
- Se quiser, pode deixar ela aqui comigo. Tenho caneta e papel de sobra, acho que a conversa vai ser mais adulta - ela sugeriu
- Claro, claro - eu concordei sem pensar muito - Perdão, mas qual o seu nome?
- Claire - ela falou no sorriso de sempre
- Montreal - me apresentei - Isadora, você fica com a Claire por um minuto enquanto eu falo com o papai?
A menina virou para mim e parecia querer dizer que não, que queria ir comigo, mas não tinha coragem de falar em voz alta.
- Eu devo ter umas balas aqui também se te interessar - a policial comentou
- Fica um pouquinho, amor. Eu juro que já volto. Qualquer coisa você grita, aqui tá cheio de policial para te proteger - sorri, e ela pareceu se convencer
Outro policial se encarregou de me levar mais a fundo na delegacia. Meu peito estava queimando de nervosismo: em primeiro lugar para saber o que havia acontecido, e em segundo lugar por ter deixado Isa com um estranho.
Encontrei Enzo sentado em uma cadeira, a cabeça encostada na parede atrás dele, olhando para o teto, perdido em pensamentos. Ele se virou e se assustou ao me ver entrando no cômodo.
- Mon, o que você está fazendo aqui? E a Isa?
- Você me liga dizendo que está na delegacia e quer que eu fique em casa esperando você chegar? - eu me sentei ao lado dele - A Isa está aqui, uma policial está cuidando dela, deve estar desenhando. Mas esse não é o ponto. O que aconteceu, Enzo? Por que você está aqui?
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21 Azulejos
General FictionNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...