O cheiro de café me acordou. Rolei nos lençóis e não encontrei Enzo ali, sabendo na hora que o cheiro de café era culpa dele. Levantei e fui até o quarto de Isadora, ela também não estava lá.- Bom dia! - Enzo disse assim que me viu descer as escadas
Ele estava sentado em um banco no balcão da cozinha, tomando café e observando algo em seu notebook.
Isadora apareceu pela sala e correu até a mim, agarrando minhas pernas.
- Bom dia, Isa - eu beijei sua testa - Dormiu bem?
Ela concordou com a cabeça e voltou a correr, com os braços abertos. Eu olhei para Enzo, rindo.
- Ela está imitando um avião - ele explicou
- Ok... - estranhei - Por quê?
- Porque ela estava me ajudando a planejar nossa viagem e, quando eu disse que ia de carro, ela falou que ia tentar ir voando que nem um avião. Eu disse que só deixaria se ela aprendesse a levantar vôo. Deu nisso.
Eu gargalhei.
- Planejar nossa viagem, então? Lembra que meus pais me matam se a gente não visitá-los.
- Pode deixar. Já está no roteiro - ele sorriu - Você vai pedir férias hoje?
- E avisar que vou fazer apenas meio período. Cruze os dedos, porque não vai ser fácil.
- Por causa do gerente?
- Uhum - eu respondi, assoprando o café quente
- Por que você não fala direto com o dono? Sei lá, ele é só o gerente.
- Eu quase nunca encontro com o dono, ele só aparece lá algumas vezes. Ele tem outros restaurantes.
- Tenta ligar pra ele, falar que precisa muito que ele vá hoje no restaurante. Ou tenta avisar pra ele antes do gerente, não sei.
- Será? - eu desconfiei
- Sim. Eu vou tentar achar um telefone aqui pra você e você liga, ok? Não aceite não como resposta.
- Combinado.
- Eu não estou conseguindo - Isa disse, com um bico, nos olhando
- Eu vou te ajudar.
Enzo se levantou e pegou a menina pela cintura com rapidez, a levantando enquanto ela ria com os braços abertos, deitada no ar. Eu não queria outra história, outra casa, outra vida.
Acabou que Enzo conseguiu um telefone para que eu falasse diretamente com o dono. Após ser passada de secretária para secretária, ele atendeu. Eu me senti um pouco nervosa, eu mal o conhecia. Tentei explicar minha situação e ainda acabei reclamando do gerente. Ele se surpreendeu, acho que eu fui a única que reclamara do infeliz. Ele falou que iria hoje no restaurante, mas que era para eu conversar com o gerente e ver o que ele ia dizer. Por fim, não tive resposta concreta, só descobriria mais tarde... O que me deixou ainda mais apreensiva.
Minha cabeça estava a mil enquanto eu tirava o pijama de Isa e ajudava-a a se vestir.
- É assim mesmo? - ela perguntou
Eu percebi que havia colocado a blusa dela do lado avesso. Eu ri comigo mesma.
- Eu não estou nada bem hoje mesmo, ein? - eu brinquei, tirando a blusa e a desvirando
- Não está? - ela perguntou, inocentemente
- Estou, estou. É que eu não consigo parar de pensar, às vezes eu queria um botãozinho pra desligar, sabe?
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21 Azulejos
Fiction généraleNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...