- Montreal, posso ter uma palavrinha com você? - Sr. Henke falou assim que acabou a aula e eu já estava saindo- O que foi, professor? - eu disse, dando meia volta
- Eu sei que você tem hora para entrar no serviço, mas parabéns pelo trabalho.
Ele me pegou de surpresa. Um elogio? Nada de acusações sobre como eu estava errada em ainda estar em sua aula? Ou sobre eu trabalhar como uma mera garçonete?
- É sério? - perguntei desacreditada
- Apesar de ver que você não gosta da minha aula, seus trabalhos sempre foram bons. Só que esse se superou. Você foi a única que realmente me convenceu a visitar a cidade. O modo com o qual você escreveu foi pessoal, casual, sem clichês pré-definidos, algo realmente poético.
Eu sorri, sem graça com tantos elogios.
- Obrigada, professor. Eu só quis fazer algo diferente.
- Você não percebe, né?
- O quê?
- Você não vê as possibilidades que o curso te oferece! Você tem turismo até no nome, Montreal! - ele riu - Mas agora vá servir mesas, sei que tem pouco tempo.
Eu agradeci mais uma vez e, já na porta, ele chamou minha atenção de novo.
- E não pense que eu não sei que foi você quem tirou as fotos do trabalho. Eu não achei em nenhum lugar da internet, e olha que eu procurei em tudo! - ele falou
Eu saí rindo, contente e pensando no que ele disse: quais possibilidades esse curso poderia me oferecer? O que eu não estou enxergando, afinal de contas?
O barulho vindo de uma câmera chamou minha atenção. Eu parei na porta, observando um aluno tirar fotos no estúdio da faculdade. Aquilo me fez sorrir, sem razão. E minha auto-confiança teve seu auge naquele exato momento.◆
- Entra! - eu gritei, enquanto me deitava no sofá e colocava as pernas para cima
Eu tinha um pacote de pipoca no colo e já estava em minhas roupas de dormir. Liguei a TV e Enzo entrou, se sentando ao meu lado.
- O que tem de bom na TV? - ele perguntou, jogando sua mão dentro do pacote de pipoca e pegando umas para si
- Não faço a menor ideia - eu sorri
Ele ficou silencioso ao meu lado, me vendo trocar de canal a cada três segundos.
- Você vai parar em algum canal ou o botão do controle agarrou? - ele perguntou
- Eu só tô tentando achar alguma coisa para me distrair - falei, ainda rodando os canais
Ele pegou o controle de minha mão e desligou a TV. Antes que eu pudesse contestar, sua boca já estava na minha, com calma, sem movimentos muito rápidos.
- Isso te distraiu? - ele falou ao largar meus lábios
Eu concordei com a cabeça, sem ter aberto meus olhos ainda. Ele deu uma risada curta com a minha reação.
- Eu odeio televisão - ele disse ainda rindo e foi assim que percebi que ele não tinha uma televisão em sua casa, pelo menos não na sala
Eu olhei em seus olhos e, por mais estranho que fosse, eu não consegui desviar meu olhar do seu. Não sei por quanto tempo fiquei olhando-o, analisando cada brilho em sua íris, vendo seus cílios abanarem o ar enquanto ele piscava.
- Você parece feliz - ele comentou, me tirando do transe
Eu abaixei meus olhos, sorrindo, finalmente desviando meu olhar do dele.
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21 Azulejos
Ficción GeneralNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...