- Tudo pronto, Isa? Já colocou seu sapato? - falei, me apressando para procurar a chave do carro e colocar tudo o que eu precisava dentro da bolsa- Eu não sei colocar - ela falou, do sofá
- Não sabe? - eu perguntei sem pensar
- A história da orelhinha de coelho não funcionou pra você, filha? - Enzo disse, quase me dando um susto ao descer das escadas
Ele ainda estava com sua roupa de dormir e eu não estava achando meus óculos.
- Você pode ajudar a Isa a fazer o nó do cadarço? Eu tô um pouco ocupada.
- Claro - ele me respondeu - Bom dia pra você também.
- Desculpa, eu tenho tanta coisa pra fazer hoje, eu tô ficando maluca! Eu não acho os meus óculos!
Eu respirei fundo por um momento, tentando me concentrar. Ouvi Enzo e Isa rindo baixo do sofá, enquanto ele dava os nós nos tênis dela. Olhei para baixo e lá estava meus óculos de sol: presos no decote da minha blusa.
- Obrigada por me avisarem! - eu bufei - Vamos, Isa, senão eu vou me atrasar pra tudo hoje.
- Não demorem muito escolhendo um vestido, vou ficar curioso - Enzo piscou
- É melhor mesmo não demorarmos, ainda tenho que pagar umas contas e - a campainha tocou
Eu fiquei parada por um momento, buscando explicações.
- Eu não convidei ninguém - Enzo já se defendeu
Ao abri a porta, vi que havia me esquecido que segunda feira era dia do acompanhamento de Isadora. Valerie estava à porta, esperando ser convidada para entrar.
- Cheguei em um mal momento? - ela perguntou quando demorei a cumprimentá-la por pura falta de reação
- Não, não. Não, pode entrar - eu fingi. Era sim um péssimo momento, mas ela não tinha culpa.
Tive que largar a bolsa e me sentar no sofá para conversarmos e Enzo subiu rapidamente para trocar de roupa. Isa contou sobre o fim de semana, sobre termos colado as fotos da viagem em sua parede, escrevendo o nome de cada estado na moldura branca. Depois contou sobre a porta do seu quarto, onde começamos a marcar sua altura, já que nós mesmos não percebíamos a rapidez com a qual ela estava crescendo. Falamos de escolas e nós realmente não tínhamos pensado em matriculá-la em nenhuma, mas provavelmente teríamos que correr atrás disso. Apesar de entender a importância daquela conversa, eu não estava contendo minha ansiedade para que aquilo acabasse logo. Enzo até colocou a mão em meu joelho uma hora para que eu parasse de bater o pé freneticamente.
- Bom, eu preciso ter uma conversa de adulto com seus pais agora, Isinha. Você pode ficar aqui esperando enquanto nós vamos à cozinha? - Valerie perguntou e depois olhou para nós
De repente, o assunto ficou mais interessante e eu esqueci minha ansiedade. Enzo ligou a TV e nós três fomos ao outro cômodo.
- Eu tenho notícias sobre o caso do garoto - ela se referiu a Daniel - Não foi fácil, mas eu e Olga convencemos Margareth que isso só ia causar mais estresse e trauma pra Isa e que mesmo tendo sido algo potencialmente grave, não deveríamos levar isso adiante.
Eu suspirei aliviada.
- Então ela fica com a gente? Nada vai ser relatado sobre o ocorrido? - Enzo perguntou
- Não. Mas é uma exceção. Nada mais do tipo pode acontecer durante esses seis meses de adaptação, senão eu não garanto mais nada. Como andam as coisas com Daniel?
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21 Azulejos
General FictionNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...