30. Eu não vou contar para ninguém.

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Não tivemos nem tempo de aproveitar mais os chocolates do frigobar ou os canais diferentes da TV do hotel: estávamos exaustos. O sábado foi cheio em Charlotte, parecia que, a cada esquina, havia algo interessante a se ver, uma escultura, um pôster na parede. Isa se divertiu até não conseguir mais ficar de olhos abertos e ser carregada nos braços de Enzo até o quarto. Nós também apagamos, sabendo que na manhã seguinte quilômetros e quilômetros de estrada nos aguardavam.

- O que foi? Você realmente achava que eles iam cobrar pelas coisas do frigobar depois da cena que eu fiz? - Enzo falou, conferindo os papéis do check out

- Estou impressionado, o que mais podemos deixar de pagar se você começar a dar uma de atriz por aí? - ele brincou

- A gente já tá indo embora? - Isa perguntou, com uma expressão um pouco decepcionada

- Infelizmente, meu amor - eu disse com pesar - Mas ainda temos um monte de coisa legal para ver em outros estados!

Ela concordou meio sem querer concordar. Eu sabia a razão dela estar triste por ir embora: no parque cheios de fontes que saíam do chão e crianças correndo de um lado para o outro vendo arco-íris se formarem nas gotas, ela fez um amigo. Enzo e eu conversamos um pouco com os pais dele enquanto sentávamos na grama, como todos os pais ali. Eles eram de uma cidade vizinha, estavam curtindo o fim de semana de verão com seu filho de cinco anos. Nós assistimos as duas crianças brincarem como se fossem amigas de longo tempo, mas sabendo que a amizade era apenas temporária. Mesmo sabendo que a distância era grande demais para as duas crianças brincarem mais, pegamos os contatos deles, talvez mais para Isa não ficar triste do que realmente para contactá-los.

Eu soube na hora quão especial foi o momento para Isa, eu também valorizava amizades inesperadas e naturais.

- Quem sabe a gente não acha mais um parque com fontes em outro estado e aí você brinca mais com outras crianças? - eu sorri

Ela sorriu de volta, esperançosa. Eu apenas esperava que em algum outro lugar ela fizesse mais uma amizade rápida, talvez para que ela não cresça pensando que fazer amizades é complicado demais como eu cresci.


Seguimos a Oeste, voltando para casa, mas por outro caminho. Enzo dirigiu para o Norte e logo estávamos no Tennessee novamente. Eu sabia bem da ansiedade dele para chegar logo em Memphis, então fui olhando o guia turístico e sua anotações.

- Hum... - eu expressei

- O que foi?

- Não sei... você acha que precisamos mesmo ver um elefante, uma roda gigante ou o maior cubo mágico do mundo? Porque... Sei lá. Quem sabe possamos apenas fazer uma parada curta pra comer algo e ir ao banheiro em Knoxville e em Nashville e partir direto pra Memphis para aproveitar mais.

- Sério? Bom, eu não me importo. Nashville é bem legal, na verdade. Podemos parar para uma foto na réplica do Parthenon... Ou quem sabe na estátua do peixe vestido de escoteiro.

- Realmente, não acho que vamos ver nada mais interessante em Nashville que um peixe vestido de escoteiro - eu ri

- Obrigado - ele falou, sem me olhar, prestando atenção na estrada

Ele havia percebido que eu estava querendo chegar em Memphis mais rápido para que ele ficasse feliz e aproveitasse mais da cidade.

- Obrigado nada. Acelera aí, quero chegar em Memphis quando ainda estiver claro - eu brinquei


Fizemos duas paradas: uma rápida em Knoxville e outra um pouco maior em Nashville. Tiramos sim fotos na réplica do Parthenon e uma com a escultura ridícula do peixe escoteiro. Nashville tinha muitas lanchonetes e cafés maravilhosos, então nosso almoço foi praticamente comida de café da manhã novamente. A cidade também tinha uma viva história musical, não é por acaso que foi e é a moradia de muitas lendas da música americana, mas resolvemos deixar o tour musical e cultural para Memphis. No entanto, percebi que Isa estava mais calada, talvez um pouco frustrada por não poder reviver o dia anterior.

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