29. Tinta azul.

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Passamos o último dia com meus pais conversando sobre a vida, brincando com Isadora e - a melhor parte - nos empanturrando com a comida que minha mãe fazia. Meus pais concordavam com tudo o que Enzo dizia, principalmente tudo em relação a largar meu emprego de garçonete. Eu apenas ouvia, tentando entender como é que eu sobreviveria do meu hobby. Enzo até fez uma sobremesa, apesar de eu ter insistido que não era para ele trabalhar enquanto estava de folga.

- Se isso aqui é trabalho, então você não devia nem ter trazido suas câmeras - ele rebateu e eu fui obrigada a aceitar

Foi tudo mais tranquilo do que eu achei que ia ser e acabou passando rápido demais.

- Vamos nos despedir da vovó, Isa? - eu disse após termos colocado tudo no carro

- A gente já vai? - a decepção era evidente

- A gente precisa ir, mas a vovó vai nos visitar em breve, não é? - eu disse olhando para minha mãe

- Sim, e você provavelmente vai estar usando branco! - minha mãe deixou Isa sem entender muito bem

- Eu te ligo quando eu tiver tempo de pensar nisso - eu disse, vendo que esse "em breve" não seria tão em breve assim

- Muito obrigada pelos livros, pelos brinquedos, pelas roupas novas e pelo sorvete - Isa disse como se tivesse decorado

- Eu sou sua vó, vó serve para isso! - minha mãe agachou e a abraçou - Vou sentir saudade.

Eu despedi do meu pai, que não era muito de palavras.

- Eu estou muito orgulhoso de você, filha - ele disse no meio do nosso abraço e eu soube que eram palavras sinceras

- Vão nos visitar em breve, ok? E continuem com o computador ligado para gente se ver.

Enzo colocou Isadora na cadeirinha do carro, ajeitando o cinto e se despediu também, agradecendo por tudo. Um aperto de mão e um meio abraço com meu pai, um beijo no rosto e um abraço apertado da minha mãe, seguido de "não esqueça de me passar a receita para sua sobremesa!".

Nós seguimos caminho para Charlotte e eu estava contente, apesar de estar um calor infernal lá fora e ainda ser sete da manhã. Isa dormiu assim que entramos no carro e até eu dei uma cochilada. Acordar cedo não é meu forte.

- Onde estamos? - eu disse assim que acordei da minha soneca desajeitada no banco do passageiro

- Quase em Memphis!

- Uau, eu dormi para caramba - eu olhei para o banco de trás, vendo Isa ainda sonolenta - Nós duas dormimos demais.

- Mas é ótimo vocês acordarem agora, porque eu ia acabar acordando vocês de todo jeito. Eu não perco Memphis por nada!
Enzo parecia super animado e eu me senti mal por acabar com seus planos.

- A gente não vai conseguir parar por muito tempo em Memphis... - eu disse, esperando uma má reação

- Ah, por que não? É Memphis! Terra do blues, do rock and roll! - ele pareceu um garotinho contrariado e eu achei uma graça

- Porque se a gente parar em Memphis vamos gastar muito tempo lá. Nós já vamos chegar tarde em Charlotte, não quero chegar ainda mais tarde. Eu quero estar bem de manhã para visitar a galeria e ver minha foto.

- Ok. Ok... - ele pareceu chateado

- Mas... - eu continuei, vendo-o ficar animado de novo - A gente pode passar lá na volta. Sem hora para ir embora. Ou quem sabe a gente pode parar agora pra um lanche rápido, já estou ficando com fome.

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