Vi-me perdida, encarando o teto com os olhos abertos. Era óbvio que não iria dormir esta noite. Suas palavras rodavam pela minha mente.Eu tinha vontade de chorar, mas me faltavam lágrimas. Chorar por quê? Por que Catherine ia ser sempre o maior amor da vida dele como eu já sabia? Por que eu fui ingênua ao ponto de achar que podia fazê-lo feliz como ela o fez? Parecia que sempre haveria o fantasma de Catherine me perseguindo. Eu não queria ser ela, eu não queria ser igual a ela e também não queria substituí-la.
Respirei fundo, olhando para o teto novamente. Meu vestido ainda estava levantado, o lençol ainda estava fora de lugar. O que eu faria com aquele momento no futuro? Guardaria como uma lembrança ou um arrependimento?
Desci as escadas, conferindo o relógio. Eram quinze para as cinco da manhã. Arrumei a mesa, colocando o que sobrara do bolo na geladeira.
Depois que lavei a louça, com suas palavras rodando minha cabeça, peguei a caixa azul que Enzo me dera como presente. Mexi na fita de cetim que envolvia a caixa e encontrei um papel amarrado a ela. "De: Enzo Para: Mon Chéri". Não havia ponto final, ao invés dele, havia um pequeno coração. Lembrei de quando achei um bilhete de Catherine e ele me contou sobre o "coração final" dela. Meu coração se apertou.
Fui até a janela da cozinha, vendo as luzes da casa de Enzo acesas. Quase não reparei que ele estava deitado na cadeira de piscina, com a camisa ainda mal desabotoada, olhando para o céu. Puxei a janela de vidro para o lado, fazendo um grande barulho no silêncio da noite. Isto fez com que Enzo pulasse de susto.
- Não quer entrar? Comer mais um pedaço de bolo? - decidi perguntar
Ele me olhou um pouco surpreso.
- Não precisa trabalhar amanhã?
- Preciso. Mas sei que não vou conseguir dormir, ainda mais com você assim, com essa cara de quem está prestes a se afogar na piscina.
Tentei rir, mas não consegui. Foi uma piada frustrada. Enzo se levantou, abotoando a camisa e andou devagar, quase não querendo me encarar.
Ele parecia olhar mais para o bolo do que pra mim e eu estava sem vontade de comer, apenas pescando alguns pedaços pequenos com o garfo, encostada na pia enquanto ele estava sentado na mesa, à minha frente.
- Céus, isso está me torturando - ele se pronunciou, largando o garfo no prato - Eu não sei como me desculpar com você. Não sei se tem desculpa.
- Como assim, Enzo? Se desculpar pelo quê? Que eu saiba você já me pediu desculpas por algo que eu ainda nem entendi.
- "Me desculpa. Feliz aniversário?". Que merda eu pensei para te falar isso? Essas quatro palavras estão rondando minha mente até agora.
- Não foi nada demais. Eu entendo. Você não está preparado ainda - eu tentei ser calma, mas ele não aceitou a minha reação
- Não, Montreal. Eu ia fazer algo ainda pior. Sabe o que eu quase fiz? Eu quase te chamei de "Cath". Eu quase sussurrei o nome dela no seu ouvido!
Ele falou alto e depois colocou as mãos em seu rosto, cobrindo-os.
- Você deveria estar brava comigo - falou depois do meu silêncio
- Mas eu não estou. Eu só estou preocupada. Eu não quero te forçar a esquecê-la. Eu falei desde o início que não queria substituí-la.
- Você não vai... É que... - ele suspirou - A mesma casa, o mesmo quarto, sem conseguir ver o seu rosto... Minha mente acabou se confundindo com as memórias.
- Você quer... Terminar isso tudo?
- Não! Você quer? - Enzo levantou o rosto me encarando
- Não. Mas se você achar melhor terminar...
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21 Azulejos
General FictionNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...