- Café da manhã pronto! - Enzo gritou da cozinhaEu ajudei Isa a descer as escadas com cuidado. Ela parecia sempre acordar antes da gente e eu a encontrava de pijama, nas pontas dos pés, olhando pela janela. Eu agradecia mentalmente pela tela de proteção que colocamos.
- Hum, que cheiro bom - Isa falou enquanto eu a colocava na nossa cadeira improvisada com almofadas
- Ovos mexidos e torrada à francesa! - Enzo descreveu o menu
Eu me sentei ao lado de Isa para ajudá-la.
- Com você morando aqui parece que estou tendo todo dia um café da manhã de hotel - eu comentei
- Só que de graça - ele riu
- Só faltam os mini-sabonetes no banheiro.
Ele sorriu. Eu tinha que ter cuidado para não me perder no seu sorriso às vezes.
- Sabe quem vem aqui hoje, Isa? - eu mudei de assunto
- Quem? - ela disse depois de mastigar o que eu havia lhe dado
- A tia Valerie! Ela vem te visitar!
- Sério? Vou mostrar meu quarto novo pra ela! - a menina se animou
- Vai sim! Vai poder contar tudo o que aconteceu com você esses dias.
Ela concordou com a cabeça, de boca cheia. Eu posso parecer tranquila, mas eu não estava. A insegurança me fazia tremer de leve, eu não queria que nem Valerie nem a assistente social vissem nada de errado; eu queria que tudo estivesse perfeito porque, para mim, estava.
Foi uma correria para não nos atrasarmos, mas assim que a campainha tocou estávamos prontos. Isa tinha em seus braços seu cachorro de pelúcia e eu e Enzo tentamos parecer mais seguros, mais confiantes. Mais pai e mãe, para falar a verdade. Ao ver Valerie, Isa correu até ela. A assistente social não era de muitas palavras e só Deus sabe como isso me deixava nervosa. Ela olhava de um lado para o outro, anotando tudo, seca e sem falar um pio, sem dar um sorriso sequer. Pelo menos Valerie era o total oposto.
Depois de uma volta pela casa, sentamos no sofá e uma bateria de perguntas começou, primeiramente a mim e Enzo. Como havia sido, se ela chorou, se ela fez pirraça, se ela se comportou de modo estranho, se ela tentou fugir, enfim, um monte de perguntas chatas de se responder. Com Isa, a conversa se tornou mais leve.
- Ontem eu entrei na piscina e eu fiquei tanto tempo nadando que meus dedos ficaram todos estranhos - ela contou a Valerie com animação
- É? E você aprendeu a nadar? - Valerie perguntou
- Não, eu só posso entrar com uma boia no braço e outra redonda, parece uma rosquinha. Ah, e eu não posso esquecer do protetor! - Isa disse quase repetindo nossas palavras ontem na piscina, como se tivesse decorado
Eu vi a assistente social, Margareth, anotar algo. Eu espero que tenha sido algo bom.
- Você está se divertindo, então? É legal morar aqui?
- Sim. Muito legal - a pequena disse, sorrindo
- Que tal você ir brincar um pouco para gente conversar um pouco mais. Conversa de adulto é chata!
- Acho que aquele desenho que você viu ontem está passando na TV, você não quer assistir? - perguntei
Ela concordou com a cabeça. A TV ficou ligada na sala e fomos à cozinha conversar.
- Bom, ainda é cedo, faz pouco tempo, mas acho que ela está se adaptando bem. Ela parece bem mais feliz do que no orfanato - Valerie disse
- Ai, que bom! Estamos nos dedicando muito para isso, mas às vezes eu ainda acho que ela está desconfortável aqui - confessei
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21 Azulejos
General FictionNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...