- Mal acredito que acabou! - eu falei, me jogando no sofáEu estava me referindo ao semestre. Férias! Finalmente!
- Mas você ainda tem mais um ano de curso pela frente... Ou você vai deixar o orgulho de lado e admitir logo que odeia o que estuda? - Enzo falou, fechando a porta atrás de si. Ele havia me levado e buscado do trabalho por insistência própria.
- Não me lembre disso logo no meu primeiro dia de férias - foi tudo o que eu disse
- E ainda tem seu trabalho. Por que você não desiste disso logo!? - falou ao se sentar ao meu lado
Eu estiquei minhas pernas em seu colo. Ele mal sabia que desistir não era uma palavra muito recorrente no meu vocabulário.
- Enzo - resmunguei - Por favor, vamos mudar de assunto!
- Tudo bem, não queria te estressar. É que eu vejo você passar o dia todo fazendo algo que não gosta. E ainda chega em casa de noite exausta e com os pés sangrando por causa dos malditos patins. Não me deixa feliz.
- Ei - eu exclamei, tirando minhas sapatilhas com os próprios pés e deixando-as caírem no chão - Eles não estão sangrando. Talvez só um pouco roxos por falta de circulação.
- É sério, Montreal - ele não riu da minha piadinha - Você podia largar tudo isso. Eu te ajudaria financeiramente se precisasse. Você precisa se dedicar ao seu dom.
- "Dom" - ri - Não é tão fácil assim - eu disse vendo-o começar a massagear meu pé e agradeci mentalmente - Eu não tenho nome, arranjar clientes é difícil, não dá para me sustentar com isso. Não dá nem pra comprar os materiais que eu preciso pra começo de conversa.
- Eu disse que te ajudo.
- Enzo, eu não quis seu dinheiro quando você me ofereceu para me indenizar pela história da piscina. Eu sei que muita coisa mudou, mas, não me leve a mal, eu ainda não quero.
Ele suspirou, contrariado.
- Eu tenho meus motivos, Enzo. E, meu Deus, essa massagem está divina! - eu expressei
Ele riu, me falando que havia aprendido com o avô pizzaiolo. "Só que foi para amassar massa de pizza e não pés. Bom saber que tem o mesmo efeito", disse rindo.
- Já revelou as fotos? - sua pergunta foi acompanhada do toque do meu celular
- Ugh! - resmunguei
Eu me levantei, andando até onde tinha deixado a bolsa, descalça, sentindo meus pés doloridos.
Assim que peguei o celular, ele parou de tocar. Droga. Reparei que havia duas mensagens de voz para ouvir e, mesmo sabendo que eu iria pagar por aquilo, resolvi ouvi-las só para que a notificação de mensagens não lidas sumisse do canto da tela. Eu era sistemática com notificações, não descansava até que elas não estivessem mais ali.
Enquanto esperava completar a ligação para o correio de voz, respondi Enzo.
- Ainda falta um rolo para revelar - eu disse e mal reparei que a mensagem de voz já começara
Eu fiquei estática quando assimilei de quem era e sobre o que era a primeira mensagem. Ouvi com atenção e senti meu coração bater mais forte. Não era possível. Minha hora finalmente havia chegado. Disquei o número que havia me ligado na mesma hora, sem nem menos ouvir a segunda mensagem mais recentes, e esperei apreensiva para que atendessem. Demoraram um pouco para atender, me deixando ainda mais nervosa. Quando atenderam, disseram para ligar amanhã, em horário comercial, mas eu não desisti até que alguém pudesse me confirmar a mensagem. Enzo me olhava com curiosidade.
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21 Azulejos
General FictionNão há nada mais angustiante que uma vida monótona. Montreal sabia disso. Acordar, trabalhar, estudar e dormir. No outro dia, repetir a sequência. Aos 26 anos, ela sabia que sua vida tinha um propósito, algo mais significativo do que apenas servir e...