31. Você tem que me impedir, Montreal.

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Não conseguimos encarar o dia da mesma forma, como já era de se imaginar. Levei Isa ao hospital só por segurança. Foi chato ficar esperando atendimento sem muito o que fazer a não ser ler revistas velhas, mas fiquei aliviada quando o médico apenas passou um expectorante de gripe, já que não era nada grave. Isa permaneceu quieta, como se ainda estivesse com medo de que fôssemos bater nela. Meu coração estava apertado, mas o de Enzo havia se enchido de revolta. Ele instalou a babá eletrônica enquanto estávamos no hospital e vasculhou o quarto de Isa para ver se havia algum vestígio desse tal de Troy, mas não achou nada. Eu sentia sua frustração de longe.

- Não sei se vou conseguir dormir essa noite, vai te incomodar? Posso dormir no sofá lá de baixo se for melhor.

O quarto já estava escuro e meus olhos já estavam fechados quando ele me disse isso. Eu alcancei o abajur do meu lado e o liguei, me sentando na cama.

- Não sei se eu vou conseguir dormir também, estou com medo de ter um sonho bom, mas acordar dentro de um pesadelo.

Enzo respirou fundo, se arrastando pelos lençóis e se sentando também.

- Você ainda está brava comigo? Por ter me descuidado e Isa quase ter se afogado?

- Isso agora é o de menos, Enzo. Eu não vou te culpar mais do que você está se culpando, mas agora é diferente. Ela pulou não por seu descuido e sim porque alguém a fez acreditar que ela podia. Alguém ainda a fez jurar silêncio para nós sobre isso. É grave demais.

- Bom, pelo menos agora você concorda comigo que essa história de amigo imaginário é mentira. Quem está querendo mal para Isa é tudo menos imaginário.

Eu exalei o ar preso em meus pulmões, concordando.

- Queria que ela estivesse dormindo aqui com a gente hoje.

- Ela ainda está com medo de alguma forma pelo que fez. Ela mal nos olhou nos olhos o dia inteiro. Não vamos forçá-la a dormir aqui, senão ela não vai se sentir confortável.

- Você tem razão, na verdade, você sempre teve razão desde o começo. Eu deveria ter acreditado mais em você, não deveria ter achado exagero, super-proteção. Talvez hoje não teria sido assim se eu tivesse confiado um pouco mais.

Minha voz se quebrou e eu percebi que eu estava chorando. Ele me puxou para os seus braços e beijou meu ombro.

- A gente vai resolver isso. Não vou deixar nada tirá-la de nós. Eu prometo.

Joguei minha cabeça na curva do seu ombro, sabendo que a noite seria longa.


Meu sono foi leve. Eu me revirava, sem achar uma posição agradável. Enzo passou pelo mesmo. As horas não passavam. Perto das sete da manhã, ele pegou seu celular no criado mudo e ficou assistindo à câmera da babá-eletrônica. Não era lá a melhor resolução do mundo, ainda mais por também ser uma câmera noturna, mas podíamos ver que Isa estava dormindo. Eu preguei meus olhos por mais uns minutos, até que Enzo se mexeu mais bruscamente.

- O que foi? - eu perguntei ainda sem abrir os olhos

- Ela acordou. Está se levantando - ele falou, já com um nervosismo aparente

Meus olhos se abriram no mesmo instante e nos sentamos na cama, olhando a tela do celular fixamente.

Isadora se levantou, foi até a janela e a abriu. Ficou na ponta do pé observando, esperando algo.
Eu quis ir até seu quarto e ver o que ela tanto observava, mas Enzo disse que era melhor não interferir, não acabar com nossas chances de saber o que realmente estava acontecendo.

Nada aconteceu por alguns minutos, Isa simplesmente observava o dia pela janela. Quando eu já estava quase convencida de que ela estava apenas olhando o sol, a pequena acenou.

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