Mais um casamento

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POV Monica

Chego no restaurante primeiro que minha tia para almoçar. Ela me mandou uma mensagem hoje cedo, durante a primeira aula da faculdade, falando que tinha uma novidade. Peço uma água e fico mexendo no celular até ela chegar.

Vou contar minha história primeiro.

Quando minha mãe engravidou, meu pai sumiu no mundo e mesmo assim ela continuou comigo em seu útero, sem fazer nenhum aborto. Após nove meses, quando eu nasci, ela acabou falecendo durante o parto. Meu pai voltou para me ver no berçário, mas quando soube que minha mãe tinha vindo a falecer, ele saiu de lá o mais rápido possível para não ter que cuidar de mim. Minha tia acabou me levando para casa, já que não podia engravidar por problemas de saúde.

Morei toda a minha vida com minha tia, ela sempre foi boa comigo, menos nas épocas de seus três casórios. Quando ela casou pela primeira vez, eu tinha apenas 7 anos. Não lembro muita coisa, mas sei que ela ficou três anos com o cara, mas logo descobriu que ele tinha outra mulher, que já tinha dois filhos. Seu segundo casamento foi na véspera do meu aniversário de 13 anos. Nunca vou esquecer daquele dia. O cara era um tremendo idiota. Depois do casamento, eles saíram em lua-de-mel e me deixaram em casa com uma empregada durante um mês. Quando voltaram, ela contou que não podia engravidar por causa da saúde e logo ele a largou, em menos de dois meses de casamento.

O terceiro e último casamento, foi quando eu completei vinte anos. O cara era preconceituoso com homossexuais e o casamento deles acabou por uma confusão que veio de minha parte. Estava em meu quarto com Dani, minha melhor amiga, quando ele veio abrir a porta de uma vez e nos encontrou de lingerie sentadas na cama. Eu ajeitava o cabelo de Dani em uma trança quando ele insinuou que nós tínhamos acabado de transar. Largou minha tia falando que não iria suportar ter uma lésbica dentro de casa, menos eu não sendo. A partir daí, minha tia não gosta muito de mim, disse que estraguei seu terceiro e melhor casamento. Hoje ela faz de tudo para me deixar para baixo, mas mesmo assim moro com ela, não vou largar minha tia-mãe por causa de um casamento, ela cuidou de mim, preciso cuidar dela até o fim.

Enfim ela chega. Senta na minha frente, sorri sem mostrar os dentes e chama o garçom.

- Um Martíni, por favor. - O garçom me olha esperando que eu fale o que eu quero. - Ela não bebe, traga mais uma água.

- Dois Martínis. Eu quero um. - Falo a encarando e voltando a olhar o garçom. - Por favor.

Ele assente e entrega dois cardápios de comida, e se retira. Abro o cardápio, olho para a página de massas e vejo macarrão quatro queijos.

- Qual a novidade, tia? - Pergunto mudando a página para sobremesas.

- Ah, vou me casar dentro de um mês. - Olho para ela imediatamente por cima do cardápio. Ela sorri e abaixa o meu cardápio com a mão. - Ele é uma ótima pessoa.

- Já escutei isso umas três vezes.

- Prometa-me que não vai estragar meu casamento.

- Você não vai ficar casada com ele nem três meses, sempre foi assim.

- Ele é diferente, ele gosta de mim.

- Todos gostavam da senhora, não era?

- Você está sendo grossa.

- E a senhora está sendo muito rápida, de novo! Tia, você não pode ficar com esse cara sem casamento? Depois de anos vocês se casam, como qualquer casal normal.

- Nosso amor não quer um namoro, Monica. Nós queremos um casamento.

- Os Martínis. - O garçom coloca as bebidas na mesa. - Já escolheram o prato, senhoritas?

- Prato individual de massa quatro queijos. - Entrego o cardápio e Helena devolve o cardápio, sem pedir nada. Ele se afasta.

- Eu só quero pedir uma coisa. - Bebo meu martíni enquanto ela já coloca seu copo na mesa na metade.

- Só falta pedir que eu seja sua dama de honra com 24 anos. - Rio e ela nega com um sorriso no rosto.

- É claro que você vai morar com a gente, já que não quer me largar pra cuidar de mim, certo? Eu só peço uma coisa. Não estrague meu casamento.

Começo a rir devagar e bebo mais um gole do martíni. Ela acha que eu sou lésbica?

- Pela milésima vez, eu não sou lésbica. Não vou estragar seu casamento.

- Prometa.

- Porra, tia! Eu não tenho dez anos para ter que prometer coisas desse tipo.

- Olhe, eu sempre amei você querida, mas a partir daquele dia que o Jorge viu você com aquela garota dentro do quarto se esfregando na outra, eu quero te afastar de mim. Mas você não sai porque quer cuidar de mim, mas eu sei me cuidar.

- Às vezes eu quero fugir, ficar bem longe da senhora.

- E porque não faz isso logo de uma vez?!

- Porque você fez da minha vida um inferno depois desse dia no meu quarto, então eu quero fazer a sua vida um inferno, cuidando da senhora.

- A sua massa. Bom apetite. - O garçom coloca o prato na minha frente e sai.

- Pode comer se quiser. - Afasto o prato pra ela, bebo o resto do martíni e saio do restaurante.

Entro no meu carro e o travo. Ligo para Dani antes de começar a dirigir e ela me atende no primeiro toque, com uma voz animada.

- Oi, gata! Me ligando durante sua aula extra da tarde? - Merda, perdi a aula extra!

- Minha tia vai se casar, de novo. - Escuto a risada de Dani do outro lado da linha e meus olhos lacrimejam.

- Vamos ter que nos agarrar no quarto pra acabar logo ou vai querer aguentar algum velho?


Amor E Suas DrogasOnde histórias criam vida. Descubra agora