Na cozinha dela

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Antes que eu responda algo, o garçom se aproxima com meu almoço. Massa a três queijos.

- Tia, eu posso explicar.

- Explicar o que? Que abriu as pernas para o meu marido assim que o viu?

- Não foi bem assim, ok? Otaviano ficou dando em cima de mim inúmeras vezes e eu sempre saía, me afastava dele, mas aí teve um dia que acabou rolando, depois de uma briga entre ele e eu sobre minha saída para um bar. - Helena escuta tudo atentamente. Dou uma garfada no prato e a encaro. - Juro que eu não queria, mas... Desculpa.

- Desculpa? Quando você engravidou? Há quanto tempo?

- Estou perto de completar 4 meses. - Ela abre a boca surpresa. - Minha gravidez é de risco.

- Isso é para aprender a não transar com o marido alheio! - Volto a comer e ela a beber. - O que vai fazer agora?

- Faltam dois meses para terminar a faculdade, estou trabalhando como modelo na empresa dele, então já sabe, né? - Tia Helena faz uma careta e encara a bebida. - Desculpa, eu errei e ele também! Ele me seduziu!

- E você atacou? Mas é claro, não passa de uma puta!

Aquilo dói. E como! Respiro fundo para não afetar o bebê, não posso me alterar e ter nada fora do normal. Respiro fundo mais uma vez e volto a comer.

- Olhe, antes mesmo desse casamento acontecer, estava na cara que ele não ia querer a senhora. Quando fomos todos morar juntos ele começou a me seduzir, ele me beijou na lua-de-mel, sabia? Ele entrou no meu quarto em casa e me  beijou, ele fez tudo comigo enquanto a senhora estava apenas tomando os seus remédios sem conseguir safisfazê-lo em porra nenhuma. Agora com licença, a senhora NUNCA acreditou em mim, quando um dos seus casamentos aquele seu marido me viu com a Dani e falou milhões de baboseiras sobre mim você preferiu acreditar nele, certo? Nunca confiou em mim em nada! Talvez eu esteja falando isso tudo aqui e você nem acredite. Só quero falar que Otaviano me ama e eu o amo. Eu o amo tanto que às vezes me assusto por conseguir ter tanto amor dentro de mim. A senhora nunca se importou com as coisas que eu fiz, sempre preferia seus maridos velhos e nojentos.

- Eu realmente não acredito em você. Otaviano nunca iria seduzir uma pessoa como você, ele tinha a mim. Certeza que você que o seduziu e o colocou contra a parede. - Meu queixo vai praticamente ao chão.

- Não vou ficar aqui escutando essas besteiras. Se quiser, vá você mesma falar com ele no escritório, estou nem aí! - Levantei e saí, deixando a conta para ela pagar.

Entrei no carro e respirei fundo. Dirigi para casa devagar, sem pressa. Em meia hora cheguei, subi e sentei no sofá. Aí sim me permiti chorar. E como chorei.

Minha tia sempre foi um terror comigo, mas porra! Porque está chorando? Tomo um banho, faço algo para comer e logo vou me deitar.

À noite acordo com alguém mexendo na cozinha. Me levanto devagar, coço os olhos e vou até lá. Quando chego, vejo Otaviano cortando algumas verduras e colocando na panela. Franzo a testa e me encosto no portal da porta, cruzo os braços e fico olhando suas costas.

- O que está fazendo? - Perguntei um minuto depois e ele deu um pulo. - Te dei um susto?

- Claro, nem faz barulho e fala quando estou de costas! - Rio e me aproximo, lhe dando um selinho. - Cheguei há uns dez minutos, desculpa se te acordei.

- Tudo bem, dormi a tarde inteira. Não me respondeu, o que está fazendo? - Olhei a panela que ele havia colocado as verduras. - Um jantar?

- Surpresa, acho melhor você esperar lá na sala.

- A cozinha é minha! - Cruzo os braços e sorrio.

- Eu sei e é bem pequena, precisa de um lugar maior. - Fecho a cara devagar e ele ri. - Mas vamos deixar isso pra depois, né? - Ele me dá um selinho e começa a molhar o arroz.

- Então não vai me falar mesmo? - Ele nega. - Tudo bem, então vou tomar um banho enquanto você termina, ok?

- Certo.

Volto pro quarto, tomo um banho de uns 15 minutos, visto uma roupa bem leve. Quando estou voltando para a sala com o secador portátil em mãos secando o cabelo, escuto o celular dele tocar. Desligo rapidamente e recuo para dentro do banheiro social.

- Oi Helena. Que? Almoçar comigo amanhã? Certo, tudo bem. Mas não ache que vou recuar com o divórcio. Agora você quem quer o divórcio? Tudo bem. Às 13h. - Ele desliga e eu termino de secar no banheiro.

Deixo o secador no guarda-roupa e volto para a sala. Ele havia colocado os pratos e copos na mesa de centro, com almofadas ao redor. Colocou uma vela no centro bem grande e luminosa e apagou as luzes.

- Para que isso tudo mesmo? - Perguntei rindo e me aproximando dele na cozinha.

- Vamos comemorar nossa união. - Franzo a testa. - Divórcio sai próxima semana.

- Que? Mas já? Isso demora tanto!

- Não quando você tem os melhores advogados. - Ele pisca e tira algo do forno.

- E dinheiro, né? - Ele ri e dá de ombros. - Espero que esteja bom.

- E está. Vem, pega o suco de uva na geladeira. - Rio e pego. - Porque está rindo?

- Suco de uva?

- Não pode beber vinho e outras coisas, esqueceu?

Ele coloca a travessa no meio da mesa de centro e me ajuda a sentar. Sirvo o suco e ele parte o jantar.

- Aprendi a fazer "escondidinho de salmão". - O encaro e ele me serve. Depois se serve. - Se quiser, fiz arroz.

- Vamos ver se sabe pelo menos fazer o arroz, né? - Falo rindo e nos sirvo.

Dou a primeira garfada no salmão e realmente está bom. Não sabia que ele cozinhava tão bem.

- Está tudo tão gostoso! - Falo suspirando. - Não sabia que cozinhava!

- Não sabia que eu cozinhava bem, né? É diferente... - Ele ri e dá uma garfada. - Como foi o almoço entre você e ela hoje?

- Não quero falar sobre isso...

- Brigaram?

- Acabei falando tudo que veio na cabeça, com certeza amanhã ela vai lhe contar. - Dou de ombros e volto a comer.

- Você está estranha...

- Só não quero falar sobre isso. - O encaro. - Amanhã você fala com ela, ok?

Ele dá de ombros e volta a comer. Após alguns minutos de silêncio, afasto meu prato e me aproximo dele. Fico de lado e envolvo os braços nos seus ombros.

- O que você quer como forma de agradecimento desse jantar maravilhoso? - Sussurro em seu ouvido.

- Quero escolher o nome do nosso filho. - O encaro e sorrio.

- E qual nome você quer?

- Tenho dois em mente: Lorenzo e Francisgleidson.

Amor E Suas DrogasOnde histórias criam vida. Descubra agora