O beijo

1.1K 79 2
                                    


Olho o folheto de festas do hotel e vejo que está rolando uma festa na praia. Visto um macacão branco curto e calço uma rasteirinha, já que vou para a areia. Quando chego na festa, vejo jovens bebendo e cantando ao som de uma banda que tocava Natiruts. Vou até o bar e peço um coquetel de frutas, sem álcool.

- Gostando da festa ou chegou agora? - A voz de Murilo no meu ouvido me faz arrepiar.

- Acabei de chegar. - Suspiro e ele senta ao meu lado. - Você me assustou.

- Desculpa, eu vi você vindo pra cá da janela do quarto e vim. Estava quase indo dormir. - Vejo sua calça preta de moletom e uma camisa polo branca. - Estou com a calça do pijama sim.

- Estou vendo. Quer um coquetel? - Pego o meu e tomo um gole.

- A gente divide esse, que tal? - Ele segura o canudo e dá um gole. - Sem álcool? Que menina de família.

- Se eu tomar um com álcool e ir dormir logo, fico com muita dor de cabeça.

- Então você não sabe beber direito. - Ele dá o número do seu quarto ao barman. - Uma cortesia por me acompanhar nessa música.

- Ah não... - Murilo levanta e me puxa pela mão para onde outras pessoas dançavam.

Terminamos o coquetel de uma vez, em segundos, antes de dançar e entregamos a um garçom que passava por ali. Murilo passou seus braços pela minha cintura e eu coloquei minhas mãos ao redor de seu pescoço. Quando nossos olhares se encontram, me perco.

Não vejo mais Murilo na minha frente, mas o Otaviano. Começo a lembrar do contrato, dos puxões que ele me deu no corredor e no chalé. De suas palavras fortes. Do seu pênis roçando em minha barriga. Sinto minha cabeça girar e umas mãos me segurarem. Fecho os olhos e espero a tontura passar, mas não passa.

- Senta aqui, Monica. - A voz de Murilo gira em torno de mim. Sento no banco do bar e abro os olhos devagar. - Barman, me dá uma água, por favor!

Murilo abre a garrafinha e eu bebo. Depois de vários goles, minha cabeça pára de girar um pouco, mas ainda me sinto tonta.

- Você comeu alguma coisa hoje a noite? - Nego. - Caramba, ainda bem que esse coquetel não tinha álcool. O que você comeu hoje?

- Uma taça de salada de frutas no Rio de Janeiro antes de viajar, um sanduíche no avião com café e um suco na piscina.

- Por isso, você nem jantou! Vou levar você pro quarto.

- Eu posso ir sozinha.

- Nada disso, você pode desmaiar ou ficar tonta de novo.

- Ela já disse que pode ir sozinha. - Olho para o lado e vejo Otaviano encarando Murilo. - Eu a levo, sou o marido de sua tia.

- Hã, hum... É que nós dois...

- Não quero saber, ela está fraca, vou levá-la pro quarto. - Murilo me olha, mas eu não falo nada.

- Tudo bem, amanhã passo no seu quarto às seis para irmos a Canoa, já reservei o carro. E outra coisa, é melhor você comer agora, nem que seja um bombom. Não fique muito tempo sem comer.

- Como assim? Você não comeu nada?! - Otaviano diz sério me olhando. Nego devagar, agora com medo dele. - Vamos, vou levá-la pro quarto e pedir alguma coisa no restaurante.

Levanto do banco devagar e abraço Murilo. A mão de Otaviano toca minha cintura e me puxa. Vou na frente enquanto Otaviano me segue. Vou direto para o chalé, tentando ir cada vez mais rápido, mas ele mantêm o meu ritmo, acelerando quando ando mais depressa. Abro o chalé e entro, Ota coloca o pé na porta para que eu não feche e entra.

- Cadê tia Helena que não está no seu pé? - Questiono tirando a rasteirinha e colocando o celular pra carregar.

- Está no quarto pronta pra dormir, eu falei que ia ver se você estava precisando de alguma coisa.

Vou até a mala, que está deitada no chão, e pego uma roupa para dormir.

- O que você quer comer? - Ele pergunta pegando uma tabela em cima do frigobar, abaixo da TV.

- Nada.

- Vou pedir lagosta, espero que não demore tanto. - Ele pega o telefone do quarto e disca o número da cozinha.

Entro no banheiro, fecho a porta e troco de roupa. Visto um roupão por cima, dou um nó na faixa e saio, ainda descalça. Otaviano está trocando o canal da TV quando nota que saio. Joga o controle sobre a cama, deixando em um canal de filme.

- Pedi lagosta e uma jarra de suco de maracujá, assim lhe dará sono. - Dou de ombros e coloco a roupa que estava vestida em uma cadeira.

- Melhor você voltar para o quarto, a minha tia...

- Ela deve está no terceiro sono com aqueles comprimidos que toma para dormir logo.

Cruzo os braços e mantenho um pouco de distância, por segurança.

- Como soube que eu estava na festa?

- Era o único lugar que você podia estar, ou então teria saído do hotel.

- Farei isso a noite com o Murilo, vamos a Canoa Quebrada.

- Qual é a desse cara? Faz amizade em uma dia, quer te trazer no quarto no mesmo dia e ainda convida pra viajar pra uma cidade longe daqui? - Ele aumenta o tom de voz.

- Não aumente o tom de voz comigo, você não é nada meu, já lhe disse isso. - Avanço sobre ele com o dedo em seu rosto, mas ele segura minha mão e escolhe o dedo polegar, levando a sua boca e chupando.

Tento puxar, mas ele segura com força e solta em seguida. Limpo o dedo no roupão e me afasto.

- Vá para o seu chalé, vou esperar o prato que pediu e dormir.

- Tudo bem, boa noite. - Ele sorri maliciosamente e eu rolo os olhos.

- Não faça isso, tenho vontade de lhe bater.

Vou até a porta e a abro. Otaviano se aproxima da porta sorrindo e antes que saia, me puxa ao encontro de seu corpo e nossos rostos se aproximam, mais do que deveriam. Sua respiração bate em meu rosto e tenho certeza que a minha bate no dele. Ele diminui o sorriso aos poucos me encosta na parede devagar, fechado a porta com o pé.

Seus lábios encostam nos meus e eu gelo. Tento me afastar, mas sei que será em vão, pois ele me segura forte pela cintura. O beijo começa lento, com ele ao comando, trabalhando com a língua dentro de minha boca.

Caramba, ele beija bem. Muito bem.

Passo meus braços para seu rosto e aprofundo o beijo e acelerando, esquecendo de tudo o que pode acontecer. Vou perdendo o ar, mas ele não perde de jeito nenhum. Vou me afastando de seus lábios e ele, enfim, me olha, com a boca vermelha, imagina a minha como deve estar.

Saio de seu "abraço" limpando a boca e me afasto, indo para o outro lado do quarto. O observo de braços cruzados, em forma de segurança. Caramba, estou com medo do que pode acontecer a partir de agora.

- Até... Amanhã. - Ele sai e deixa a porta aberta.

Quando vou fechar, vejo um funcionário empurrar um carrinho com o prato e a jarra. Ele coloca dentro do quarto, anota o número do chalé e sai. Tranco a porta e sento na cama com o jantar, agora pensando no que posso fazer com aquele idiota.

(Feliz ano novo a todoooos, um ótimo 2016! Não vou conseguir postar esses dias, então postei hoje e o próximo virá segunda.)

Amor E Suas DrogasOnde histórias criam vida. Descubra agora