Minha Vez

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Todos os meses, em seu último dia, as crianças que serão julgadas pelos Deuses na travessia do Labirinto no próximo mês, recebem uma notificação da organização firmado o compromisso de comparecer ao local e reiterando a breve história conhecida. Ao menos, assim como era passada de geração a geração, como se transmitia ao longo da história da humanidade. Todo aniversário de treze anos era comemorado com uma carta-convocação em casa e com a perspectiva de atravessar o Labirinto ao fim daquele mês.

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Às vezes eu sentia falta do Camping e dos amigos que fiz lá, mas eu senti saudades da minha casa, meu quarto, minha cama... Eu gostava de estar de volta, de acordar em casa de novo. Me levantei e fui até a janela, abri deixando a luz do dia entrar e olhei em direção a janela do quarto de Zac na casa vizinha sorrindo. Aquela era uma manhã de domingo, vinte e oito de fevereiro, quando recolhi uma carta oficial endereçada a mim na caixa do correio ainda de pijama. Levei para a sala, me sentei no sofá e abri. Era minha convocação formal, enviada pela organização da travessia, com o carimbo e assinatura do comandante Alceu no final. Eu li com cuidado, atenção e respeito. Respeito pelos Deuses, se alguém ali merecia respeito em relação ao Labirinto eram eles.

Cara Srta Pandora,

Como é de conhecimento geral, há muito, o Labirinto a Justiça dos Deuses encontra-se nos arredores de nossa cidade e devemos cruzá-lo em nosso décimo terceiro ano de vida. Ao que nos consta, para adquirir o conhecimento e passar pelo julgamento dos Deuses crescendo como pessoa sob seus olhos.

Por meio desta, felicitamo-la pela passagem de seu décimo terceiro aniversário.

Contamos que esteja, no inicio da última semana de março, em frente aos portões do Labirinto da Justiça dos Deuses para a cerimônia de abertura referente a travessia da qual a Srta. fará parte.

Att.

Comandante Alceu Norrinton.

Ao terminar de ler eu dobrei a carta e guardei de volta dentro do envelope onde ela viera, ainda permaneci no sofá com ele nas mãos encarando-o por tempo o suficiente para Timothy descer as escadas e vê-lo ao me encontrar na sala. Ele parou ao meu lado esfregando os olhos e olhou por um momento para o envelope nas minhas mãos.

_ O que é isso, Pan?

_Minha carta de convocação para o Labirinto - eu respondi sem a menor empolgação - quer ver?

_Posso? - ele olhou para mim como se eu oferecer não fosse o suficiente.

_Pode. - ofereci de novo e ele pegou.

Timothy abriu, leu se demorando um pouco mais que eu como se tentasse entender o significado da convocação e então me devolveu depois de guardar de volta no envelope do jeito que pegara. Eu sabia que essa hora chegaria mas isso não fez com que estivesse pronta para receber minha carta, não era realmente animador. Pelo menos o Comandante tentara ser simpático, eu acho. Eu percebi que Timothy ainda me olhava, sentado ao meu lado no sofá.

_Pan, você está bem?

_Estou sim - mentira - é só que - ele me olhava do mesmo jeito que eu olhei tantas vezes tentando protegê-lo - bem, eu não sei viu... Se está tudo bem, acho que a gente nunca está pronto de verdade...

_Bem, então, só não pense nisso. Quando chegar a hora você só deixe que os Deuses te digam o que fazer. É como deveria ser, não é?

_Claro que é. - Quem diria hem, Tim... parece que meu irmãozinho tinha crescido bastante ultimamente, por dentro e por fora.

O Labirinto dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora