O ser humano tem muitas formas de provar sua capacidade intelectual, a mais sensacional é a incoerência. Precisa ser muito inteligente para elaborar algo que jamais faria sentido, eu nunca seria capaz de entender certas coisas por mais que me explicassem. Eu tive certeza de que vivíamos um grande paradoxo quando enxerguei que as guerras são fábricas de heróis lutando pela paz. Naquele momento eu estive prestes a perder todas as esperanças.
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Um par de olhos brilhantes me fitava por trás das lentes embaçadas pela neblina em meio a teimosos fios loiros, ele tirou o cabelo caído sobre o rosto e esboçou um sorriso. Eu me aproximei em meio a névoa, a cada passo em sua direção um aperto no peito tomava conta de mim. Uma certeza: precisava alcançá-lo. Seu olhar me guiava, seu sorriso doce alimentava minha confiança a cada passo, ele estendeu a mão em minha direção. O aperto em meu peito se tornou mais intenso, houve um tempo em que nós nunca estivemos separados, eu queria correr para longe e fazer aquela dor sumir. Eu estiquei minha mão em sua direção enquanto minha mente era inundada por uma dor intensa, um prazer enorme em vê-lo tomou conta dos meus pensamentos e me senti paralisada diante de sua imagem buscando alcançá-la mas nossas mãos nunca se tocaram. Ele estava infinitamente distante em uma realidade quase esquecida... Aquela dor... Aquele aperto... Saudade. Uma realidade quase esquecida. Eu precisava desesperadamente tocá-lo e sentí-lo real em minhas memórias. Aquilo era insano, não se toca uma memória. Ele sorria com a mão estendida em minha direção, seu rosto cada vez mais nítido. O gosto salgado do suor tocou minha boca e o choque do frio noturno atingiu minha pele suada quase no mesmo instante em que uma voz penetrou em meu intimo mesclando-se aos meus pensamentos como uma parte de mim.
_Qual é a sua memória mais intima, Pandora? - Havia um sussurro muito nítido dentro de mim - Olhe para você. O que há de mais profundo e verdadeiro em seu interior?
Meu sentidos buscaram a origem da voz mas de alguma forma eu sabia que ela me manipulava de dentro de mim ecoando em minha mente com uma presença intima invisível. Eu abstrai a presença perturbadora do Deus sussurrando em minha mente, eu precisava alcançá-lo diante de mim e guardar sua imagem antes que fosse tarde demais. Minha respiração ritmada marcava o tempo que eu estava desperdiçando. Havia um abismo vertiginoso entre nós dois impedindo nossas mãos de tocarem-se e em meu intimo eu pedia desesperadamente por algo que curasse a dor daquela distancia enquanto sentia o gosto das lágrimas.
_Ah, Pandora, não minta para mim. - O sussurro em meu ouvido se fez mais nítido e claro - Eu te conheço, você não pode me ignorar. Diz, diz em voz alta. O que há de mais profundo e verdadeiro em seu interior, Pandora? - Eu sentia sua presença ao meu lado e não era capaz de distinguir onde Ele estava.
_Quem é você? - Eu perguntei num tom quase inaudível reprimindo um soluço com os olhos fixos na imagem a minha frente.
_Eu? Eu sou o Segredo, conheço tudo aquilo que você esconde de si mesma e do mundo. Me conta, Pandora. Qual é o seu desejo mais desesperado? A que e a quem você quer se agarrar para não se perder?
A resposta estava literalmente diante de mim com um contorno difuso cada vez mais nítido em meu desejo de tocá-lo, um brilho no olhar, um sorriso misterioso e a mão estendida em minha direção. Minha mente gritava Eu te odeio em resposta ao Deus por remexer meus sentimentos mais sinceros, mas o que saiu da minha boca foi outra coisa.
_Zac. - Minha voz soou mecânica e fria em meu desespero de alcançar meu amigo.
_Zac. - Segredo murmurou em meu ouvido seguido de um riso suave remexendo meus próprios segredos. - Boa escolha para ser sua ancora da realidade.
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O Labirinto dos Deuses
Adventure*Obra registrada * PLÁGIO É CRIME - LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998. Sinopse: Há muito tempo algo deu errado com a humanidade e os Deuses, descontentes com o rumo que o mundo havia tomado, criaram um Labirinto...