Ilusões

66 14 8
                                    



Não deixe o Labirinto te enganar, não deixe seus olhos te trairem, não confie nas lembranças da sua memória. Escute sempre seu coração, a sua voz interior, feche os seus olhos e escute os Deuses. Confie neles, não tema seu julgamento. Quanto pesa seu coração? Não se deixe levar pelas tentações e traições dos seus sentidos viciados e vulneráveis, calejados pelo que te rodeia em meio a esse caos.

~~

_Eu estou cansado, Pan.

_Eu sei. - Lancei um olhar para meu irmãozinho ao meu lado, eu também estava cansada. - Mas precisamos continuar, não podemos parar agora.

Eu o olhei com pesar, seu cansaço era visível. O Labirinto não era um lugar para crianças de dez anos. Nós nunca mais voltaríamos a falar sobre isso, era um acordo silencioso entre nós dois não discutirmos mais sobre a presença dele lá dentro, mas não era um lugar para crianças tão pequenas e eu arriscaria dizer ainda que talvez nem para crianças de treze anos - mesmo que não fossemos mais tão criança assim. Mas o que eu sabia sobre Deuses e pessoas, sobre Deuses e o mundo, ou sobre nós? O que eu poderia saber sobre as coisas da vida?

_Falta muito? - Ele arriscou.

_Eu não sei, Tim. - Como eu queria apenas responder que não...

Como eu saberia? Já fazia algum tempo que havíamos nos embrenhado em meio a corredores e tuneis metálicos, eu não saberia dizer como isso aconteceu mas em algum momento nos enfiamos mais a fundo nos caminhos sem volta do Labirinto. Nós percorríamos um corredor estreito em meio a uma penumbra, a luz vinha de frestas dispostas a intervalos irregulares no teto por onde passavam os raios do sol - era isso o que eu supunha naquele dia. Qualquer ruído reverberava entre as paredes metálicas, nossos passos eram cautelosos e minha única certeza era seguir em frente.

_Nós não podemos parar agora, Tim, é perigoso. - Eu completei.

Se você deixa o medo assumir sua mente, ele toma conta de você e assume o controle. É um caminho sem volta. Mas se você se fecha para as sensações a sua volta e abstrai o medo, então vai se entregar a todos os perigos, admita: no fim é ele quem te salva. Por mais forte que eu gostaria de admitir que eu fosse, a verdade é que todos tínhamos medo e aquele era um momento em especial do qual sempre me lembrarei. O medo era um sentimento terrivelmente ambíguo, ele nos mantém cautelosos e naquele momento era assim que eu me sentia com milhares de ruídos, ecos e vibrações chegando até nós vindos de todos os lados.

Quase com a mesma regularidade com que se encontravam as frestas no teto, havia pequenas passagens laterais levando a outros corredores, bifurcações, ou à pequenas galerias de onde vinham correntes de ar frio. Nós passamos reto por todas elas seguindo sempre em frente; se algo lá dentro fazia jus ao nome "Labirinto", era esse emaranhado de túneis e corredores. Eu tinha certeza de que ia me perder no instante em que saísse da via principal. Minha mão procurou a de Timothy intuitivamente enquanto caminhávamos e eu a segurei temendo nos separarmos mais uma vez.

De repente nós escutamos um grito, passos sobre passos e a sensação óbvia de que algo muito ruim estava próximo, eu puxei Timothy para perto e paramos no mesmo instante para ouvir de onde vinham os sons. Então as coisas aconteceram muito rápidas, um garoto surgiu correndo em nossa direção. Ele tinha a pele negra e trancinhas caindo sobre o rosto. O garoto passou reto e logo vimos outro vindo atrás dele que parou de perseguí-lo ao nos ver em seu caminho, esse era duplamente familiar. O primeiro havia parado encolhido próximo à parede atrás de nós. Eu olhava confusa de um a outro sentindo uma sensação terrivelmente familiar em meio a penumbra do corredor. Só quando o segundo garoto passou sob um feixe de luz vindo do teto que um gatilho disparou em mim e eu entendi a sensação perturbadora que se instalara: Diego.

O Labirinto dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora