Coisas de Meninos

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Havia algo de incrivelmente puro na essência mais íntima do Labirinto, algo maravilhoso que revelava a face mais inocente da infância. Havia algo de maravilhoso no Labirinto que nos mostrava nós mesmos em nossa identidade mais ingênua e verdadeira. Aquela aura que só uma criança poderia carregar. Eu não sei dizer no que nós acreditávamos naquela época, mas nos deparamos de uma forma reveladora com nosso íntimo mais infantil e puro.

~~

_...É só o Nicolas!

Eu lancei um olhar para Timothy ao nosso lado e voltei a encarar o garoto preso por mim ponderando a informação inútil do meu irmão enquanto todas as outras que eu tinha procuravam um sentido na minha mente. Suas trancinhas caiam sobre o rosto negro e seus olhos buscavam o mesmo apoio que eu em meio a toda aquela confusão, se tanta coisa não fazia sentido eu queria encontrar um elo de verdade entre nós.

_Como você sabe que Gabriele está morta? - Eu repeti a pergunta que já havia feito.

_Eu... Você não entenderia... - Será?

Seus olhos em meio às trancinhas caídas tinham um pesar que eu conhecia de forma muito familiar em meu íntimo mas ainda não entendia onde ele queria chegar, ele sustentou meu olhar por um momento e em seguida encarou o chão com a determinação de quem não quer realmente se explicar. Eu o soltei e me afastei alguns passos deixando-o livre.

_Por que você não tenta? - Eu pedi desejando mostrar uma compreensão sincera.

_Eu... - Talvez ele estivesse avaliando se eu merecia uma resposta, ou se eu entenderia. Em seu lugar minha resposta seria não para ambos, eu admito. - Eu encontrei ela. - Antes que eu pudesse interrompê-lo ele continuou. - Quero dizer, aquilo era ela mas... Ao mesmo tempo não era. Não faz sentido, eu sei.

Ele se esforçava para que suas palavras fizessem sentido como se ele próprio não acreditasse nelas e eu as juntava uma a uma como peças de um quebra-cabeça minucioso e delicado. Eu já havia passado por tanta coisa lá dentro que dificilmente escutaria algo estranho em sua história e esperava encontrar um sentido no que estava escutando.

_Aquilo? - Eu fui mais rápida dessa vez e o cortei antes que dissesse qualquer outra coisa.

_Eu disse que você não entenderia, é estranho porque... Era ela, mas era diferente. Nós eramos amigos sabe, antes do Labirinto. - Ah, a sensação familiar de pesar em seus olhos... Eles eram amigos. - Então eu encontrei ela aqui dentro e ela estava diferente como... Como se não fosse real.

_Como se não fosse real? - eu repeti mais para mim do que para ele. Nicolas assentiu nervoso.

Ele parecia cada vez mais corresponder à repreensão que eu recebi de Timothy: era só o Nicolas, um garoto como nós. Como eu, que havia perdido uma amiga e visto coisas estranhas demais. Eu finalmente entendi o que havia de familiar em seu olhar, ele havia passado por muita coisa, assim como eu.

_Ela parecia com uma imagem que eu já tinha visto aqui dentro, eu pensei que fosse uma ilusão, porque aquela imagem era uma criança pequena e não tem crianças pequenas aqui, não é? - Nesse instante ele lançou um olhar confuso para Timothy. - Bem, ela disse que estava... Morta. - Ele reproduziu a última palavra quase com medo dos seus efeitos. - Não exatamente assim, mas eu sei que foi isso o que ela disse.

_Você encontrou com a impressão dela! Ela está aqui! - Uma chama se acendeu em meu peito, de esperança talvez?. - O que mais ela disse?

_Impressão? Mais nada, as coisas aconteceram muito rápido. O outro garoto apareceu, ela sumiu e eu fugi. - Ele encarou o chão por um momento. - Eu sinto muito, Pandora. - Ele completou.

O Labirinto dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora