O Que Foi Que eu Fiz?

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Regra #1: Membros julgados do Labirinto não devem matar outros membros

Um fato: Membros Julgados do Labirinto desconhecem a regra #1.

Ele havia se apresentado aos oficiais nas tendas como Miguel e aquele já era seu quinto dia caminhando pelos corredores do Labirinto sem entender qual o sentido da travessia. Um costume antigo repetido pelos avós, os pais e agora por ele; ensinado pelos mais velhos aos mais novos, sem sentido a seu ver - se no final não se lembraria de nada. Era assim que Miguel via a travessia do Labirinto da Justiça dos Deuses, foi com essa concepção que ele cruzou os portões de entrada e era com essa concepção que ele caminhava pelos corredores através dos inúmeros caminhos pelo interior do Labirinto procurando pela rota que o levaria até a saída.

O corredor de terra batida e grossas paredes metálicas era largo e recebia rajadas de vento frio com intervalos regulares, tão extenso que não se via a saída pelo caminho que seguia com a iluminação diurna do céu que entrava pelo teto aberto. O garoto de pele rubra, alto e forte para seus treze anos andava portando uma lança feita por suas próprias mãos e carregava o material entregue nas tendas pelos oficiais em uma mochila sobre os ombros. Cerca de quinze metros a frente viu duas passagens circulares em cada parede ao seu lado, a esquerda havia um caminho escuro e sem visibilidade, a direita via árvores e um amplo espaço iluminado pelo dia natural externo ao Labirinto. Escolheu a passagem da direita, curvou-se e cruzou o circulo de altura alguns centímetros menor que ele.

A brisa ali era muito mais suave e refrescante diante do sol quente que o atingia sob o teto aberto, adiante das primeiras árvores próximas podia ver um pequeno lago de águas claras e brilhantes. O garoto estudou a vegetação local avaliando suas possibilidades, escolheu a segunda árvore depois da passagem pela qual entrara e pousou sua mochila ao lado bem como a lança que carregava. Remexeu seu material na mochila escolhendo um facão e uma bolsa de pano, usou o facão para ajudar a sustentar-se ao escalar o tronco da árvore até seu topo e colher frutas guardando-as na bolsa que levara consigo amarrada na cintura; então desceu de volta ao chão.

Antes que pudesse guardar seu alimento, avistou um garotinho caminhando descalço em meio às árvores com a pele e as roupas sujas. Miguel recolheu a mochila do chão e a jogou sobre as costas sem desviar os olhos do menino alguns metros distante dele caminhando distraidamente, pegou a lança do chão e desamarrou a bolsa de pano da cintura guardando-a em seguida. Seguiu em frente intrigado com a criança. Ao passar pelo menino seus olhares cruzaram-se e um arrepio percorreu seu corpo fazendo-o parar de andar.

_Oi - uma voz delicada de criança chegou aos seus ouvidos.

_Oi?

_Desculpa, eu não queria assustar você.

_Não me assustou. Quem é você?

_Gabriel.

_Você entrou com a gente? - O garoto julgado perguntou confuso.

_Não. Eu moro aqui. - a voz de Gabriel saiu fraca e tímida

_Aqui dentro?

_Sim. - seus olhinhos brilhavam pedindo atenção.

_Isso não pode ser possível! Pode?

_Pode sim, se você não for real.

_Ta brincando, eu estou tendo uma alucinação.

_Eu estou com fome...

_O que você quer que eu faça?

_Eu não sei. - a imagem de Gabriel começou a oscilar.

O Labirinto dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora