O mundo é um lugar muito grande e há muita gente dividindo o mesmo tempo e espaço. Nós cruzamos com muitos acasos todos os dias e cada um deixa algo de si conosco assim como leva consigo algo de nós. Mas com meu irmãozinho era diferente, ele era meu irmão e nós estaríamos presos um ao outro para sempre. Essa sempre foi uma grande verdade para mim. Era nisso que eu acreditava.
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Eu não sei há quanto tempo estava dentro do Labirinto, eu deveria ter prestado atenção nos dias para me guiar pelo tempo durante a minha travessia mas não fiz isso e estava perdida dentro do meu ciclo. A verdade é que não fazia ideia de quantos dias me restavam e se tornava cada vez mais urgente achar a porta de saída, eu não tinha certeza do que aconteceria se não a encontrasse a tempo. Eu tinha meu irmãozinho de volta e depois de tudo o que já passara lá dentro isso era o que mais me importava. Eu já fizera promessas a Zac, Gabriele, a mim mesma e a Timothy, nenhuma delas eu realmente podia cumprir. Você não deve fazer promessas que não pode cumprir mas há coisas que você simplesmente não pode negar, mesmo que elas sejam impossíveis. Até aquele momento eu acreditava que havia prometido coisas impossíveis e a minha consciência pesava por isso, eu lidava com isso constantemente e me culpava por todas as coisas que não fui capaz de evitar - inclusive as que eu sabia que ainda viriam e que não seria capaz de fazer, como eu poderia me lembrar do que havia na porta de saída depois de cruzá-la como prometi a Zac?
Nós estávamos sentados à beira de um lago de águas claras, eu havia escalado uma árvore para arrancar alguns cipós e os desfiava e trançava os fios para fazer uma corda enquanto Timothy fazia uma fogueira entre nós dois. Ele estava com o rosto, o braço e as mãos sujos de fuligem e essa imagem me encheu de alegria, eu tive muito medo de nunca mais vê-lo encardido desse jeito depois de brincar com fogo e agora seu rosto sujo a minha frente me deixava feliz. Meu irmão tinha o mesmo olhar teimoso e decidido do dia em que me contou sobre suas primeiras aulas, ainda bem que ele escolhera o Fogo porque eu não lidava bem com isso. Em pouco tempo sua fogueira ficou pronta quase ao mesmo tempo em que terminei de trançar minha corda, eu amarrei o cabo de uma flecha com um nó apertado e atirei em um peixe no lago a nossa frente com o arco. Fogo e água, se ele lidava bem com o Fogo, eu me entendia com a Água. Minha flecha flutuava presa ao peixe no meio do lago e o puxamos pela corda que ficara na margem. Arranjei ele sobre a fogueira com gravetos e peguei mais um por precaução antes de nos acomodarmos em frente ao fogo.
Conforme o cheiro do peixe assado começava a encher o ar a nossa volta e invadia meus pulmões eu me dei conta de que não sabia quando havia comido algo pela última vez, só então percebi como estava com fome. Antes que nossa comida ficasse pronta eu revirei minha mochila atrás de garrafas, enchi com água do lago e dei uma para Timothy, essa foi a segunda descoberta do dia - eu também estava com sede. Então, sentada a sua frente, percebi que havia algo errado com ele. As coisas pareciam bem naquele momento, mas ainda assim ele parecia aborrecido com algo.
_Tim?
_Hm? - ele estava distraído brincando com gravetos na beirada da fogueira e virou-se para mim.
_O que há Tim? Algo errado?
Ele deu de ombros sem jeito. Remexeu nos gravetos que estava brincando e, por fim, os colocou todos de volta na fogueira olhando para mim.
_Me desculpe, Pan. - foi a única coisa que ele disse antes de voltar a encarar o peixe sobre sua própria obra de arte.
Tinha muita coisa acontecendo, mas nenhuma era exatamente culpa dele. Se nós deveríamos culpar alguém eram os Treze por deixar coisas ruins acontecerem ou que nós tomássemos decisões estúpidas... E nesse instante algo no fundo da minha mente tentou me dizer que isso tiraria a responsabilidade de nossos atos dos nossos ombros e seria ainda mais estúpido culpar os outros pelas nossas próprias ações. Eu ignorei, pisquei e voltei minha atenção para Timothy à minha frente.
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O Labirinto dos Deuses
Adventure*Obra registrada * PLÁGIO É CRIME - LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998. Sinopse: Há muito tempo algo deu errado com a humanidade e os Deuses, descontentes com o rumo que o mundo havia tomado, criaram um Labirinto...