Treze

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Há muito tempo algo deu errado com a humanidade e os Deuses construiram um Labirinto para nos ensinar algo. Nosso mundo possui treze Deuses e nós os chamamos de os Treze. Cada um deveria atravessar o Labirinto da justiça dos Deuses aos treze anos. Acredito que há uma razão para isso, mesmo que muita coisa pareça sem sentido. Aos treze anos para treze Deuses o julgarem. Aos treze anos. Era assim que as coisas aconteciam.

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O Senhor da vida me deixara com tantas duvidas quanto eu tinha antes de escutar suas palavras na Clareira, a Deusa dos caminhos não me indicara uma direção para seguir adiante dentro do Labirinto e - para mim - as treze passagens dos portais ao redor do grande circulo pareciam umas iguais as outras conforme as olhava parada ao lado da mesa dos caminhos. Eu rodeei a clareira passando-as uma a uma e sentindo o ar que vinha do interior delas, então parei e pensei por um momento no que fazer, deixei que Timothy escolhesse por qual delas nós deveríamos seguir. Nos despedimos de Miguel e continuamos sozinhos.

Nós andávamos por um corredor alto e largo, arredondado em forma de arco conforme a forma de seu portal e eu sentia uma leve vibração no ar como se ele fosse mais denso e vivo do que todos os outros pelos quais já havia passado. Minha visão foi tomada por tons azulados e roxo em meio a uma sensação morna que tocava minha pele enquanto andávamos, eu olhei para Timothy ao meu lado e o visualizei entre esses mesmos tons. Pisquei e sua imagem voltou ao normal. Estranho. A minha frente esses mesmos tons coloridos continuavam. Sussurros chegavam aos meus ouvidos e eu sentia microparticulas vibrando e chocando-se ao nosso redor, bem como falando entre si ainda que não visse sentido nisso. Eu parei de andar por um momento segurando o ombro de Timothy e forcei minha concentração para entender os ruídos que percorriam a nossa volta.

_O que foi? - ele perguntou me olhando confuso

E foi nesse instante, quando olhei de volta para meu irmão, que me dei conta de qual corredor havíamos entrado. Algo nele me chamou atenção quando meu olhar caiu sobre seu colar com o minúsculo frasquinho de Vitta Cells, só poderíamos ter entrado no portal do Deus da vida com o fluido vital a nossa volta especialmente mais denso que o normal e os pequenos Vitta Cells mais visíveis e audíveis. Só então me ocorreu a pergunta mais óbvia que eu poderia ter feito.

_Como você sabia em qual passagem entrar, Tim?

_Eu não sabia.

_Porque viemos por aqui?

_Um dia você me disse que eu poderia falar com o Deus que eu gostava, que eu poderia confiar nele e pedir ajuda, que talvez ele me até me respondesse. Eu fiz isso. O Senhor da vida indicou seu caminho.

_Ele nunca te disse que era o caminho certo, só indicou seu caminho.

_Mas se nós podemos confiar Neles, tem um caminho errado?

_Eu não sei. Como todos os caminhos poderiam estar certos?

Naquele instante eu senti todas as vibrações do ar pararem por um momento e os ruídos silenciaram-se, o tom turvo do ar clareou um pouco e senti todas as partículas que ecoavam e agitavam-se se afastarem de nós de forma sincronizada enquanto um sussurro mais profundo e etéreo soava ao longo do corredor.

_Vocês fazem seu próprio caminho, assim o rumo que escolhem seguir não poderá estar errado se seguirem da forma correta. - Eu sabia quem era o eco e sabia que Timothy também escutara dessa vez. Vida falara com nós dois respondendo nossas duvidas sobre os treze corredores da clareira e seus guias.

Então eu fiz a coisa mais óbvia que poderia ter feito desde o inicio. Eu havia aconselhado meu irmão há muito tempo e naquele momento tão importante não segui meu próprio conselho, parei e pedi ajuda para a divindade com a qual mais me identificava e confiava, aquela com quem conversava frequentemente em casa. Pedi ajuda e esperei. Nada. A Justiça não me respondeu e me senti sozinha. Se por um lado eu tinha Timothy de volta, por outro o Labirinto havia me tirado Gabriele e nada havia de justo nisso se quando eu me concentrava em um dos Treze e lhe pedia ajuda não tinha resposta. Eu respirei fundo sentindo os minúsculos Vitta Cells a nossa volta preencherem meu corpo conforme respirava me conferindo uma vitalidade peculiar às partículas. Foi quando compreendi o que estava acontecendo, mas é claro que a Justiça não me responderia, nós estávamos dentro do arco do senhor da Vida. Isso devia fazer algum sentido na lógica do Labirinto... Eu suspirei e continuei andando frustrada e distraída com minha vista turva considerando uma forma de me comunicar com a Deusa.

O Labirinto dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora