Adeus, Pandora

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Dizem que ao cruzar um rio você já não é mais o mesmo, tampouco o rio é o mesmo que você entrou. Se você jamais vai sair do Labirinto da mesma forma que entrou ou deixá-lo da mesma forma que o encontrou, então deve se despedir daquela mesma pessoa que existia no inicio do ciclo antes que você e ela jamais se cruzem novamente no mesmo tempo e espaço dentro da Existência.

~~

Havia um garoto sentado na beira de um rio e, depois de tudo o que eu havia passado até ali eu tinha não tinha mais nenhuma dúvida se alguém era mesmo uma pessoa ou uma impressão do Labirinto, ele era a primeira impressão que eu via tão adulta. Eu achei aquilo muito estranho porque todas as outras que encontrei pelo caminho eram crianças bem pequenas ou o senhor além do próprio Miguel mas eu poderia dizer que ele provavelmente tinha a mesma idade que eu mesmo vendo-o de costas. Ele estava sentado na grama olhando o rio a sua frente, eu me aproximei devagar mas Timothy ainda não entendia o Labirinto como eu e segurou meu braço.

_Pan. O que você vai fazer?

_Ele é só uma impressão, não pode fazer mal.

_Como você sabe que as pessoas que não são de verdade não podem fazer mal?

_O que eles poderiam fazer?

_Eu não sei.

_Mas ele não vai fazer mal. Você vem comigo?

Timothy não respondeu. Mas isso eu tinha certeza, o garoto sentado à frente do rio alheio a discussão sobre sua natureza não ia fazer mal a alguém. Eu também sabia que ele já teve medo e agora não tinha mais mas não sabia mais o que fazer e... Era só isso que eu sabia ou que o Labirinto me deixava saber e eu queria falar com ele. A cada passo em sua direção os Vitta Cells mudavam seu movimento e eu sentia a ansiedade do garoto como se fosse a mesma que eu sentia nos dias anteriores a entrar no Labirinto, uma sensação estranha tomou conta de mim e me vi momentos antes de cruzar os portões. Depois me vi no meio da floresta com Zac enquanto uma multidão cercava o cordão de isolamento na abertura que fomos assistir, as partículas se dissolviam e se reagrupavam muito rápido, eu esfreguei os olhos para focar as imagens reais diante de mim e sentei ao lado da impressão do garoto. Ele se virou no mesmo instante e olhou para mim com um sorriso.

_Oi, Pandora.

Dois olhos escuros e tristes me encaravam por trás das lentes sujas de um par de óculos, sua pele negra tinha um tom brilhante sob o sol do fim da tarde e era incrível como não estava sujo como todas as outras pessoas que encontrei lá dentro. Então ele puxou o capuz e tirou o casaco colocando-o ao lado junto com sua mochila, ele vestia uma camiseta branca rasgada nas mangas e tinha uma cicatriz no ombro direito. Havia uma vibração sutil naquela região que eu ainda não estava entendendo, mas o rosto do garoto se destacou na minha mente trazendo uma memória muito forte e eu me senti feliz por encontrá-lo.

_Eu conheço você! Quer dizer, eu já vi você antes.

_Claro que viu. Nós estudamos na mesma escola, eu sou o Igor da outra classe.

_Mas... - Foi naquele momento que o fato de que ele havia entrado ali exatamente como eu e nunca conseguira sair me atingiu. - O que...? - Eu toquei sua mão sobre a grama, sua pele era quente assim como a impressão de Gabriele, então a recolhi como se tivesse ultrapassado algum limite invisível e me obriguei a encarar seus olhos. - O que aconteceu, Igor?

_Agora não importa mais, mas eu estou feliz que esteja aqui. Por me encontrar. - Ele parecia calmo e eu nunca senti os Vitta Cells tão estáveis como naquele momento.

_Você não tentou sair? Mesmo depois de tudo?

_Eu não posso atravessar a porta do Labirinto então nem tentei mais chegar até lá.

O Labirinto dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora