Eu te Odeio

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Dizem que temos todos os sentimentos guardados dentro de nós e uma única centelha é suficiente para despertá-los... aquilo não foi uma centelha. Chame do que quiser. A verdade é que um incêndio de puro de ódio se formou dentro de mim e consumia cada célula onde antes eu sentia dor. Não sei por quanto tempo sofri antes do ódio me tomar. Somente quando tudo acabou eu soube que quem falara comigo em silencio havia sido aquele que sentira a perturbação dos Vitta Cells... A gente percebe as coisas tarde demais, odiei Ele, odiei a mim por não enxergar as coisas como realmente eram, odiei os Treze pela traição que eu presenciara e seu responsável. Eu não sabia o que doía mais, a imagem impregnada em meus olhos ou o ódio que se instalara em meu peito.

~~

Eu acordei com a luz do dia invadindo minha mente sobre meus olhos fechados e o som do rio ao nosso lado, abri os olhos assustada me levantando sobre o cotovelo e busquei a minha volta o que estava acontecendo. Vi Diego ainda dormindo, uma pequena pilha de frutas próximo de nossa fogueira apagada, a lança de Gabriele fincada no chão e sua dona sentada perto de mim no local onde ela havia dormido nos vigiando. Eu me deixei cair de volta para o chão buscando em minha memória o que havia acontecido, em que momento eu cedera e quebrara minha promessa de vigia-los. O peso da culpa caiu sobre mim. Eu sentei e esfreguei os olhos para acordar. Assimilei por um momento o cenário a minha volta e fui até a beira do rio me lavar para acordar completamente.

A sensação de sentir a água foi algo tão suave ao toque da minha mão que encarei intuitivamente o leito e a sequência de sua corrente ajoelhada na margem, respirei fundo e lavei o rosto. Eu observei cada gota escorrer entre meus dedos de volta para seu habitat com calma e paciência como se tivesse todo o tempo do mundo para estar ali, por um momento minha mente observou a Natureza em seus devaneios e eu sorri para o nada buscando uma imagem que confirmasse minhas ilusões de um dia ver uma das divindades parada em minha frente. Talvez fosse ousadia da minha parte crer em tal pretensão, me levantei com as mãos e rosto úmidos e retornei para junto do meu estranho grupo. Ao voltar, sentei em frente a Gabriele e me servi de uma maçã.

_ Me perdoe por dormir. - eu me desculpei de forma sincera já mais acordada.

_Eu vi quando você dormiu e assumi seu lugar - eu nunca saberia se era verdade.

_ Sério?

_Sério. Você parecia cansada, está tudo bem. - eu com certeza estava cansada.

Eu continuava cansada naquele momento. Eu podia sentir o tempo passando por mim como se as contas rolassem pelo chão e Ela brincasse entre nós recolhendo-as e derrubando-as novamente, bem como uma criança concentrada em um brinquedo especial. A brisa da manhã passava por mim e da mesma forma eu sentia o tempo passando por mim - coisas de Deuses. Não estivesse no meio do nada dentro do Labirinto procurando um caminho, além de ter que achar Timothy, aquela seria uma manhã muito agradável. Os acontecimentos da noite se encaixaram em minha mente ao longo da madrugada distorcendo o tempo a minha volta e eu me sentia confusa. Tempo tinha dessas coisas de brincar com nossas percepções. Meu momento na beira do rio me consumiu de forma intensa, assim como a conversa durante a noite, eu havia perdido o senso de quanto as coisas duravam naquele dia. Eu olhei para Gabriele - ela estava com uma expressão séria nos protegendo de uma ameaça invisível - e ponderei sobre contar a respeito da minha conversa com a impressão de Sérgio, então olhei para o amontoado adiante que era Diego e não sabia se ele estava dormindo ou se confiava nele, decidi deixar quieto.

_O que fazemos com ele? Vamos deixar ele ai dormindo ou a gente acorda para continuar? - acabei perguntando.

_Temos que continuar. Vamos esperar ele acordar... - ela respondeu sem muita convicção servindo-se de uma laranja da pilha de frutas.

O Labirinto dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora