A Última Flecha

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Uma vez alguém me disse que todo tiro encontra um alvo. As vezes ele erra, mas mesmo assim encontra seu alvo. Há um alvo certo destinado para cada tiro e eu sabia disso ainda que não acreditasse em destino. Eu sabia disso mesmo que odiasse a ideia de destino e lutasse contra ela. Foi assim que eu odiei os Treze mais uma vez.

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Nós estávamos sendo seguidos e sabíamos disso. Eu não tinha certeza de onde estávamos indo mas seguia nossos instintos, algo nos guiava por um estranho caminho tortuoso fugindo de uma perseguição sem sentido. Subíamos um caminho íngreme e circular com o chão de terra e as paredes metálicas, eu não me lembrava bem como entramos ali mas não havia céu, era completamente fechado e escuro com luzes naturais vindas de falhas estruturais como se ela quisesse nos provar sua força dentro de um universo limitado de possibilidades. Pequenos feixes invadiam o breu do túnel em que estávamos clareando partículas de poeira suspensas no ar, eu poderia parar para admirar a beleza singular minimalista desses feixes não fosse nossa tensão e urgência em seguir adiante - eu realmente amava essa trilha de pó brilhante te guiando para o infinito...

As coisas começaram a dar errado há alguns dias quando definitivamente nos perdemos dentro dos incontáveis túneis que ligavam uma galeria a outra, que dava para outro túnel, que dava para outra galeria, que dava para outro caminho, que nós não fazíamos a menor ideia de realmente aonde nos levaria. Eu demorei para admitir que estávamos perdidos, Nicolas demorou para concordar, mas Timothy já repetia isso exaustivamente por dois dias e nos venceu pelo cansaço - crianças pequenas sempre sabem das coisas. Quando você encontra vestígios deixados por você mesmo, fica muito difícil se convencer que está seguindo uma trilha exatamente inédita e foi assim que aconteceu até que nos demos por vencidos.

_Eu sei que vocês vão discordar de mim de novo, mas eu acho que já passamos por aqui antes. - Timothy arriscou próximo da parede oposta, mais perto de Nicolas do que de mim.

Eu era muito orgulhosa para admitir, mais ainda para admitir o quão orgulhosa estava sendo, mas havia uma chance muito grande de que eu apenas quisesse muito estar certa. Talvez eu quisesse muito que ele estivesse errado porque seria muito mais fácil assim. Ah, Decisões estúpidas, Pandora. A verdade é que eu neguei e neguei de novo. Talvez Nicolas quisesse sair de lá tanto quanto eu, ou mais, porque ele também negava que estava perdido para que acreditasse nisso e assim isso virasse verdade. - Repita uma mentira tantas vezes até que ela se torne verdade. - Ah, as mentiras que contamos a nós mesmos. Ainda eram mentiras com as quais nós dois insistimos em nos iludir.

_Acho que não, Tim. Nós ainda não passamos por aqui.

_Mas nós... - Timothy interrompeu sua fala tão rápido quanto começou, visivelmente frustrado.

_Nós só precisamos continuar, Tim. - Eu nem sei quantas vezes mais repeti isso sem acreditar no que dizia.

Se eu não estivesse tão ocupada em me convencer de que ele estava errado mesmo que o Labirinto me provasse o contrário a cada passo, se eu não tentasse desesperadamente mostrar a mim mesma que estávamos no caminho certo enquanto me recusava a admitir o contrário para a realidade não se tornar mais real do que já era... Talvez eu tivesse notado aquele olhar peculiar entre os dois, o mesmo olhar que eles ainda trocariam mais algumas vezes, o mesmo olhar que eu conhecia desde meus cinco anos.

_Tudo bem, vocês sabem o que fazer. - Timothy finalmente se deu por vencido.. Embora eu ache que nem ele acreditava mais nisso.

_Vai dar certo, cara. - Boa sorte com ele, Nicolas, você também não acredita nisso.

O Labirinto dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora