Cap. 143-"Isso não passa de um pesadelo não é?"

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Não, não, não, não. Fechei os olhos, tentando convencer-me que aquilo não passava de um pesadelo ou talvez uma brincadeira de mal gosto. Talvez, só talvez, ele diagnosticou errado o exame. Abri os olhos e ali estava o médico, olhando para mim e apesar de sua pose de profissionalismo, pena brilhava em seus olhos. Mordi o lábio, tentando me controlar e simplesmente não enlouquecer; enquanto isso, o doutor retirou a foto do ultrassom e colocou na mesa, empurrando na minha frente.
- Esta é a chapa da sua região pélvica - disse apontando com uma caneta - esses são seus ovários, a parte escura é onde está o tumor - ele esperou um momento e como eu não disse, ele continuou - o tumor é de células germinativas, um tipo raro que começa nas células produtoras de óvulos. O câncer de ovário costuma ser assintomático inicialmente, o que a torna uma mulher com sorte apesar dos pesares.
Claro, porque todo mundo devia passar por isso uma vez na vida. Eu quase bufei, mas entendi o que ele quis dizer de qualquer modo.
- O seu ainda está apenas no ovário esquerdo, teremos que retirá-lo e juntamente a trompa esquerda. Após a cirurgia, terá que ser submetida à quimioterapia para eliminar qualquer vestígio da doença, pois não sabemos se ela se espalhou.
- E se a quimioterapia não adiantar? - questionei.
- Teremos que fazer exames frequentes e ver se ele não passou para o outro ovário.
- Mesmo com apenas um ovário e uma trompa, ainda posso engravidar?
- Sim, apesar da produção de óvulos se tornarem menores, ainda é possível - ele parecia não querer continuar - Lídia, você também tem um cisto no ovário direito. Muitas vezes, os cistos somem sozinhos, porém, faremos ultrassons e exames pélvicos periódicos; se não sumir, teremos que recorrer à cirurgia para retira-lo. A cirurgia não é complicada, mas há a possibilidade de não ser extraído completamente, então teremos que recorrer à remoção do outro ovário e do útero.
Nesse momento, eu não consegui mais ser forte como eu queria; lágrimas silenciosas escorriam uma atrás da outra como em uma maldita cascata. Eu era filha única e sempre sonhei em ter uma família grande; vi meus sonhos e possibilidades escorrendo para longe. As coisas não estavam ao meu favor. Eu não me submeteria a sessões de quimioterapia, então eu sabia o que aconteceria se a doença se alastrasse como uma grande pandemia.

Conquistando Um SullivanOnde histórias criam vida. Descubra agora