Lá estava, não havia nada e nem ninguém em cima da cama, nem mesmo algum lençol, travesseiro ou sangue. Como se meus pais tivessem tirado toda a fronha e lençol para lavar e saído para trabalhar. Isso me assustou de uma forma tremenda, não havia sangue, nem um pingo de sangue se quer, a janela estava fechada, trancada e nenhum sinal de que algo aconteceu na noite passada. Por um segundo eu pensei estar maluco, mas se realmente foram os caras de preto que fizeram isso, ele deve ter saído pela porta da frente ou algo assim, eu queria ir para fora de casa, pra pedir ajuda de algum vizinho, não era uma das melhores opções que eu tinha, mas era a única que eu pensei naquele estado de choque que me encontrava.
Isso era loucura, eu estava paranoico, eu nem sabia ao menos o motivo desses caras matarem meus pais, e o pior é que eu estava em época de férias, dando mais tempo para pensar nessas coisas. Talvez eu ligasse para a polícia, explicaria tudo e a polícia simplesmente dizer para eu não fazer mais trote, é, eu já descartei essa opção. Eu não sei o número de alguém da família, porém eles não podem saber, tenho medo de contar pra eles que meus pais desapareceram e falarem que meus pais só saíram para dar uma volta, ou foram fazer compras. Não, ninguém precisa saber disso, vão me insinuar de psicopata, eu estou sozinho nessa, pelo menos uma vez na vida eu posso dizer que sou independente, eu acho, não que isso seja bom. Eu não sou igual as outras crianças, sou diferente, não preciso falar disso para alguém, quero primeiro tentar entender, se caso eu conseguir.
Parei de pensar naquele momento, abri a porta da frente que estava destrancada e sai de casa, mas não para pedir ajuda, só queria sair dessa ilusão quase irreal pra mim, eu já estava do lado de fora, então fechei a porta e comecei a caminhar com a maior tranquilidade de alguém que devia se preocupar.
Minha vizinha já tinha os seus 68 anos e seu nome era Sara, ela estava plantando em seu jardim, estava ativa logo de manhã. Ela me viu e acenou para mim, eu não pude recusar, pois ela já tinha visto eu a olhando, e retribuí com o mesmo.
Cada passo que eu dava na minha caminhada me deixava mais confuso sobre ontem, na verdade, mesmo tendo visto com meus próprios olhos, ainda não acreditei, isso está suspeito. Não tem nem ao menos algo para encaixar nessa história e tudo fazer sentido, simplesmente não faz, estou sozinho nessa.
Depois de muito tempo rodeando o quarteirão várias vezes, voltei atormentado para minha casa, sentei na escada em frente à porta, coloquei meus braços em cima do joelho, abaixei a cabeça e comecei a chorar, fiquei muito triste, abalado, naquele instante, a ficha caiu pra mim, eu percebi que realmente perdi meus pais "para sempre".
Afogado em meus pensamentos, talvez de ingenuidade, o telefone começou a tocar lá de dentro de casa, nessa hora, tive um pequeno ataque do coração pelo fato de tudo estar em silêncio até o telefone me assustar. Quem será? Me levantei e entrei para atender.
- Alô? – disse engolindo a seco
- Quem fala? - uma voz feminina, que parecia ser da minha tia - Aidan?
- Tia é você mesmo? - fiquei feliz em ouvi-la
- Sim querido, é a titia, cadê seu pai? - ela é irmã do meu pai ou era - você está bem? – ela percebeu minha que minha voz não saia naturalmente e sim entristecido. Era uma pergunta complicada, acabei chorando baixo aponto dela conseguir ouvir – Aidan fala comigo, o que houve? – ela se desesperou
- Não é nada tia – Pensei muito em dizer, mas eu não pude deixa-la tão ruim quanto eu, ela não precisava passar por isso também
- Como assim, calma, eu vou pra aí ago...
Tive que desligar o telefone, quem mais me entenderia? Não era hora de contar para alguém ainda. Tive a ideia de ir para casa de minha avó, talvez ela me acolheria. Ela mora em outra cidade, preciso de dinheiro para viajar de ônibus e comer algo. Fui para o quarto de meu pai e vasculhei sua gaveta até achar algum dinheiro, na segunda gaveta de meias, encontrei um rolo de dinheiro enrolado dentro de uma meia, acho que tinha mais de 50 dólares, ótimo dava pra comer e comprar uma passagem. No momento em que consegui arrumar minhas coisas, fugi dessa casa que só me fez sofrer, talvez minha tia estivesse vindo pra cá, ela descobriria sozinha, seria melhor não ter de estar aqui para explicar tudo a ela. Fiquei minutos caminhando na rua com a mochila preta nas costas e meu boné na cabeça, a rodoviária era longe, mas como eu conhecia todo o território perto de casa, sabia que tinha um moto-táxi por perto. Depois de ter chegado a rodoviária, paguei o moto-taxista que me trouxe e fui direto a lanchonete. Havia salgados que me davam água na boca, pedi a moça que pegasse um.
- Onde está sua mãe menino? – a moça que me vendeu o salgado perguntou
- Tenho quase certeza de que está... – Queria poder falar "morta" mas não soaria bem, tive que mentir – ...comprando algo aqui ao lado
- Então tome cuidado, aqui tem muita gente estranha – Acabei considerando o que ela disse e saí de lá
Comi o salgado que tinha 90% de massa, 5% de frango, e os outros 5 % eram de tomates cortados e misturados com o frango, não sei se me fez bem mas me encheu, objetivo concluído.
Eu comprei a passagem para a cidade dos meus avós, não sei se havia uma idade certa para viajar mas eu consegui por pouco, tive que mentir novamente. Dentro do ônibus, já sentado no lado da janela, ninguém viajaria ao meu lado, que bom, não teria que lidar com os adultos. Partimos para a viagem. Tive tempo de pensar muito, até demais, nunca escolhi sofrer tanto, talvez algum ser celestial quisesse me punir por eu ter deixado muitas vezes de fazer tarefa da escola pra assistir meus desenhos, juro, não queria que isso acontecesse...
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Segredos Mortais [COMPLETO]
Misteri / ThrillerQuando eu tinha apenas 11 anos de idade, presenciei a pior tragédia de minha vida, meus pais foram assassinados brutalmente por psicopatas. Depois disso, eu tive de lidar sozinho com toda a minha perda. Para onde eu iria? O que eu tinha de fazer naq...