Pesadelo?

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21:46

Ela havia me colocado na cama pra dormir até cedo demais, geralmente, a essa hora eu estaria com meu pai na sala assistindo seus filmes de ação, ou como na minoria das vezes eu estaria assistindo meus desenhos sozinho. Naquele minuto, eu estava olhando para o lindo rosto de minha mãe, ela era jovem, cabelos pretos/lisos e enrolados nas pontas, seus olhos eram cor de mel, quase da cor dos meus, diferenciando só o tom, o dela era mais escuro. Ela se abaixou e me deu um beijo na testa de boa noite, e eu pude sentir seu pequeno aroma de perfume colado em sua pele, era o que me fazia ficar apaixonado por ela. Ela levantou-se e parou na porta do meu quarto me olhando e desligando a luz com sua mão no interruptor, vendo a imagem do seu rosto pela última vez naquela noite. Eu sabendo que meu destino era somente de dormir, cedi ao sono, me fazendo fechar os olhos lentamente, até adormecer completamente.

23:17


No meio da noite, eu acordei com uma sensação estranha na barriga, era mais como um frio no estômago misturado com uma fome tremenda apesar de eu ter jantado a poucas horas, porém jantei pouco por causa do desentendimento de meus pais que havia me tirado um pouco a fome. Eu até queria descer pra ver o que tinha na geladeira, mas confesso que eu estava com medo do escuro, mesmo assim não estaria disposto a dormir com fome daquele jeito.

Em um estado sonolento, forcei meus olhos a enxergarem o relógio/despertador que ficava ao lado da minha cama em um criado mudo, já era tarde. Tentei a chance de levantar rapidamente mas o meu corpo pediu para que fosse com calma. Ao chegar no interruptor e ligar a luz, desci as escadas bocejando com a mão na boca, ouvi um barulho realmente assustador, mas me veio a cabeça que provavelmente seria meus pais  fazendo sua "festa" na cama. O quarto dos meus pais ficava em baixo do meu, eu sei, é bem diferente das casas padrões que tem seus 2 andares, em cima, os quartos e em baixo o resto da casa, mas não, era desconfigurado mesmo, meu pai até achava melhor pelo fato do meu quarto ser longe do deles, ele queria privacidade e tinha aquela sua ganância por "festas" na cama, era como um vício.

Ao passar pelo quarto deles para ir a cozinha, liguei a luz e logo avistei de longe a geladeira, deveria ter alguma coisa de comer pra cobrir a barriga que me cairia bem. Abri a porta da geladeira, e vi que minha mãe não havia feito as compras dessa semana, achando de interessante somente uma caixa de leite. Quando peguei, percebi que estava acabando, só tinha um resto que dava para embrulhar o estômago. Depois podia vasculhar os armários a procura de bolacha ou algo do tipo, mas meu foco era terminar de esvaziar primeiro aquela caixa de leite. Tirei a tampa e fui bebendo os poucos goles que tinha:

1º Gole - Eu olho para os meus dois lados, e percebo algo realmente estranho;
2º Gole - Ouço novamente um barulho, esse foi mais alto, o que me assustou;
3º Gole - Ouço o grito da minha mãe, que veio em seguida com vários barulhos mais altos. Com certeza não é coisa boa;

Meu coração disparou de uma forma que eu senti o medo vindo das pernas até a ponta do fio de cabelo que eu tinha em pé na cabeça, deixei cair a caixa de leite no chão, respingando a sobra que tinha. Dei passos rápidos e silenciosos indo direto para a porta do quarto dos meus pais, eu estava morrendo de medo, quando cheguei, vi a porta meio aberta, só estava uma fresta aberta, continuei ouvindo os barulhos mais fortes e cada vez mais altos, olhei pela pouca visão que tinha na fresta e imediatamente começou a sair lágrimas dos meus olhos sem parar, me impedindo de ver aquilo direito, e não acreditando no que vi.

Aquela escuridão não estava ajudando muito, mas eu sabia que tinha visto um cara, com um certo tipo de punhal ou faca na mão fazendo movimentos repetitivos de ataque contra meu pai que estava na cama, e um outro cara ajudando a segurar a minha mãe, suas roupas eram totalmente pretas, tinha sangue nos lençóis, não era muito, mas o bastante pra eles já estarem mortos. Por que esse cara estava fazendo isso? Eu não sabia o que fazer, queria somente chorar, chorar e chorar.

Corri direto para o meu quarto subindo as escadas com muita rapidez, não podia chorar alto, esse cara iria me ouvir, então respirei fundo e soltei leves crises de choro e desespero. Entrei no meu quarto e imediatamente tranquei a porta tremendo igual uma pessoa que acabou de sair de um freezer ou de uma geleira sem roupas. Olhei para a cama, peguei minha coberta e travesseiro, joguei no canto da parede, desliguei a luz e me encostei desesperado tentando pensar em uma maneira de ser uma mentira o que eu vi, mas não era. Meu corpo estava quente, coração acelerado aponto de estar suando, e ainda sim, eu estava com a coberta em cima de mim. Não quis me comprometer a deitar na cama, aquele lugar onde eu estava era confortante para o momento. Meu rosto já estava todo molhado, minhas lágrimas e meu nariz escorriam, mesmo assim o sono havia me enfraquecido, talvez fosse a melhor solução para aquilo tudo, dormir. A cada minuto que passava fui me amolecendo, demorei muito pra adormecer até que não aguentei e me entreguei novamente ao sono.

No outro dia de manhã


Acordei espremido na parede no mesmo estado em que dormi ontem, limpei uma baba ao lado da bochecha, respirei fundo e fiquei 4 segundos parado, eu havia relembrado todo momento em que passei ontem como um flashback, senti uma dor de perda dentro de mim.

Mas quem sabe isso foi um engano, quem sabe foi tudo produzido e inventado pela minha mente, quem sabe foi um sonho, espero que tenha sido, pois já não conseguia mais chorar por um motivo que nem ao menos sei se realmente aconteceu. Um silêncio total, levantei, apesar do medo estar me consumindo. Naquela hora me deu raiva, mesmo sabendo que podia ser tudo invenção da minha inocente mente, senti um tremendo ódio, tudo parecia ilusão.

Destranquei a porta e saí daquele quarto abafado, desci as escadas sem nem me importar se era real ou não o que tinha no quarto dos meus pais, minha raiva me consumia mais ainda, aposto que se eu visse o cara, acertaria a primeira coisa que tivesse do meu lado, apesar de ser criança, eu tinha motivos para brigar. Antes de entrar no quarto dos meus pais, fui para a cozinha e vi a caixa de leite caída no chão, e com alguns pingos derramado, logo me veio a cabeça de que aquilo poderia ser verdade, me veio toda a lembrança novamente da noite passada. Eu parei em frente a porta do quarto de meus pais, eu sabia que havia algo aí dentro de que eu não me orgulharia, mas eu tinha que saber. Girei a maçaneta fazendo um barulho pequeno que incomodou meus ouvidos diante daquele silêncio, eu estava sensível. Quando tomei coragem para abrir a porta eu vi exatamente aquilo. Tentei buscar respostas mas por quem? Não havia ninguém pra me ajudar, eu só queria despejar minhas lágrimas.

- Pai? Mãe? - pergunto assustado. Ali mesmo eu senti o começo de uma grande tragédia...

Segredos Mortais [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora