"Télamon - O Cão e o seu Menino"

5 0 0
                                    


O pequeno garoto e sua cachorrinha de pelos espetados tanto caminharam que conseguiram alcançar os limites da grande, moderna e agitada cidade-estado de Gavinus. Extensas planícies a cercavam e outras localidades apareciam apenas a milhares de quilômetros.

Onze e Cindy pararam diante daquela dourada paisagem, verdejantes campos pontilhados por inúmeros bosques e rochas que brotavam do chão tornavam aquela visão deslumbrante. Um imenso sentimento de liberdade se apossou dos dois, que há muito viviam trancafiados na cidade cinzenta e maléfica. Seus olhos brilhavam e infinitas possibilidades surgiam á mente. O menino estava ofegante, não pela longa caminhada, e sim por causa daquele outro mundo que se apresentava, novo e resplandecente. Para ele era a chave de uma nova vida, tamanho o entusiasmo.

- Cindy, isso é incrível! Como nunca viemos aqui antes??? – ele sorria, a imaginação borbulhava. A cachorrinha latia alegre em resposta, como se entendesse perfeitamente. E entendia.

- O ar é fresco, puro!- exageradamente encheu os pulmões de ar, enquanto uma brisa suave soprava-lhe o rosto.

De repente, Cindy o percebeu a metros á sua frente, correndo de braços abertos e gritando feliz. Latindo logo o seguiu, acionando suas perninhas curtas antes que o perdesse de vista.

Uma única estrada de chão batido cortava as planícies que pareciam não ter fim. E realmente, tão cedo não viria qualquer comunidade humana perto. Onze e sua companheira praticamente voavam pelo caminho, experimentando uma liberdade inédita para ambos. O infinito e limpo céu azul acima, escurecendo aos poucos na medida em que o sol deitava a oeste, fortalecia aquele sentimento.

E eles correram rápido, mais rápido e mais rápido, e só pararam quando suas pernas amoleceram de exaustão. Então, se lançaram bruscamente no gramado macio ao lado da estrada e contemplaram todo aquele espaço em volta.

- Puf... puf... Uau! Cansei! Nunca corri tanto antes!

Cindy tinha quase um palmo de língua para fora.

-Nossa, olha como Gavinus está distante. Só dá pra enxergar o topo dos prédios. Até a estrela no entardecer já está aparecendo. Em breve irá anoitecer...

Cindy começou a gemer, parecendo apontar para a direção da cidade.

-Quer voltar? Está escurecendo, né...

Porém a atenção dele dirigia-se ao lado oposto, misterioso e inabitado, onde montes se erguiam não muito distante.

-Ai, Ci... Eu não quero voltar, não. Prefiro passar a noite dentro de uma caverna a voltar para aquela cidade que só nos fez mal.

A cachorrinha só escutava, com olhar incrédulo.

-Não estamos sozinhos. Temos um ao outro. Sempre nos apoiamos, não é? A dona Leonora nos acolheu, sim, mas era muito severa conosco. Lembra das tantas vezes que eu queria dividir com você a comida e ela não deixava de jeito nenhum? E aquelas pessoas, que nos enxotavam dos lugares, nos chamando de vagabundos?

Cindy baixou cabeça e as orelhinhas, triste, e encostou no chão. Realmente as memórias eram pouquíssimas saudosas. Ela mesma levou vários chutes e pontapés pelo simples fato de existir.

-Viu, não há nada para nós em Gavinus. E, para falar a verdade, a dona Leonora irá ficar bem feliz em ter menos bocas para alimentar. Deixemos ela com seus cinco filhos...

-Bem, precisamos encontrar um esconderijo. Talvez naquele bosque ali haja um interessante.

bR$

Crônicas de St. YóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora