"Télamon na Terra dos Desgraçados"-7

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No dia seguinte, horas antes do combinado Télamon dirigiu-se àquela mesma encruzilhada, onde encontra um pequeno baú de madeira talhada, com seu nome inscrito na parte superior. Imediatamente o abre e descobre um colar de pedras brancas e uma folha de papel contendo as instruções de que necessitará em sua procura pela Chave:

"Hahaha, pensava que eu iria lhe esperar pessoalmente, não é? Mas para quê, se posso te mandar uma mensagem? Enfim, siga a estrada sul, ultrapasse o vilarejo das Aroeiras e alcance o Monte das Torres. Lá por entre os montes existe um santuário em ruínas, e dentro delas o Pórtico dos Mundos. O Pórtico vai te transportar para o lugar certo quando um corvo pousar sobre ele. Não passe sem que seja essa a condição, caso contrário você irá para qualquer outra dimensão e nunca mais voltará. Esse colar de pedras brancas irá manter seu corpo protegido da densidade energética da Terra dos Desgraçados, porém se for derrotado em batalha, perecerá sem esperanças. Quando regressar, lhe encontrarei pessoalmente e levarei seus pequenos "bonecos" hehehe."

-Velho esperto! – esbraveja Télamon, golpeando o solo com seus punhos.

Não havendo tempo a perder, ele seguiu as coordenadas e partiu, chegando aos Montes das Torres ao amanhecer. O local recebia esse nome por causa das altas formações cônicas de pedra que pontilhavam os morros cobertos de floresta. Algo chamou sua atenção, uma das torres libera um fino brilho ao lhe ultrapassar, porém nada além ocorre. Cauteloso continuou.

Télamon seguiu por uma suave trilha sinuosa em meio ao matagal e apenas parou quando desembocou num imenso terreno plano, onde comportava as ruínas do tal santuário. Colunas destruídas espalhavam-se pelo piso misteriosamente polido e toda a estrutura era colorida de diversos tons claros de verde e amarelo.

-Lá está! – Télamon enxerga o pórtico, um simples arco de pedra cinzenta, cujo aspecto pouco lhe distinguia do resto das ruínas, senão fosse sua particularidade: tele-transportava-se de um canto a outro após permanecer por dois minutos e certo ponto. – Agora só preciso esperar um corvo pousar a bunda nessa coisa! Que legal!

Desprovido de alternativas cruzou os braços e aguardou resmungando. Foi então que as torres começaram a brilhar sem interrupção e a produzir um zumbido grave. Télamon sacou sua adaga e subitamente foi arremessado para o outro lado das ruínas, a chocar-se contra os destroços. Com rapidez ergueu-se para enfrentar um monstro alado, semelhante a um rinoceronte, porém munido de longas e potentes asas de bronze, além de chicotes a brotar de suas costas.

- Nem pense em querer atravessar o portal! Eu sou a guardiã deste local não permitirei que profane este santuário sagrado! – disse uma resoluta voz feminina, surgindo da parte mais alta do terreno, da floresta negra.

-Santuário sagrado?! Estes pedregulhos?! Há! Faz-me rir! – Télamon saltou e evitou ser atropelado pela fera insana.

-Debochado e desrespeitoso, terá seu castigo! Haaa!!! – ela arremessa um objeto fino e dourado no ar e intriga Télamon. Ele pensou em dizer alguma palavra zombeteira, mas imediatamente a pequena agulha tornou-se uma lança dourada que lhe atingiu como um ofuscante relâmpago dourado. Télamon recebe uma tremenda descarga elétrica e cai todo molenga no chão. A fera avança contra ele, dá um pulo e pretende esmaga-lo com suas patas destruidoras.

-Não tão rápidooo!!!- ele aciona sua espada e num lampejo descarrega um potente raio rubro, criando a ilusão de uma grande lâmina a perfeitamente partir a criatura ao meio, cada parte da carcaça despencando de um lado a outro.

-Hmmm, realmente não pertence a raça comum de mortais! Pois bem, vou tornar as coisas mais difíceis!

Télamon levantou com certa dificuldade e viu a mulher começar a levitar erguendo os braços:

-Espíritos das Torres Sagradas, deem-me seu poder para que eu seja o Escudo do Santuário!!!

As Torres responderam a evocação e brilharam mais intensamente, emitindo grande calor e luz. Télamon protegeu os olhos parcialmente com a capa, porém foi paralisado e a preocupação fez-se sentir. Algo energeticamente pesado e quente se reunia acima de sua cabeça e não podia mexer um dedo sequer. Então, ouviu alguns resmungos da mulher e de mais alguém e toda aquela energia se dissolveu com rapidez, e seus movimentos restabelecidos.

- Saia daí, Kalímachos!!!- a mulher esbravejou para um garoto que corria empunhando um pedaço de pau na direção de Telamon. Este vê a oportunidade e prende a criança entre os braços.

-Ah, então fui salvo por um pentelho! Hahaha! Que irônico!

-Me solta!Me solta! Vou matá-lo! Deixe minha mãe em paz!!! – a criança esperneava e xingava Télamon, mas ela tinha algo distinto, uma força além do normal para um humano.

-Solte-o!!! – gritou a Guardiã.

Antes de responder qualquer coisa, o corvo surge voando e pousa sobre o Pórtico, que se finca num dos destroços do santuário, talvez um coluna.

-O soltarei sim, quando eu atravessar o portal. Tenho certeza de que não vai me atrapalhar dessa vez.

Ele corre com a criança pendurada nos braços e a solta de qualquer jeito ao ultrapassar o portal, desaparecendo de vista.

Contrariada e furiosa, a mulher puxa a criança pelas orelhas e sai com ela berrando.

-Não, mãe! Não, mãe!

-Eu já disse para ficar em casa quando eu sair em missão!!! Vai apanhar quando chegar em casa!!!

E arrasta o filho floresta adentro.

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Crônicas de St. YóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora