Numa encruzilhada de estradas de chão batido, a meio caminho do bosque onde ficava o casebre, surge uma carruagem púrpura, da qual desce um velho senhor, encurvado, de pele bem enrugada. Duas pessoas mascaradas o acompanhavam, um de cada lado. Todos vestiam preto.
- Télamon, estou certo?
-Quem deseja saber?
- Procuro por alguém capaz de realizar um importante serviço para mim. Pago muito bem. Inclusive dou um belo adiantamento. – um dos mascarados mostra uma maleta cheia de dinheiro.
-Não sou mercenário. – Télamon vira as costas e sai andando.
-Sei que necessita do dinheiro, meu caro. E a missão que tenho para você está a sua altura. Como vê, não posso me aventurar em mais nada. Poderia ao menos ouvir, não?
Télamon engole em seco e suas reflexões de cedo retornam à mente:
-Curioso saber tanto assim de mim. Isso me cheira a feitiçaria e chantagem.
Volta-se ao ancião e ele prossegue:
- Hehehe. Bem, rapaz, preciso que resgate uma Chave para mim. Já ouviu falar nas Pedras do Poder?
-A lenda das bolinhas coloridas que controlam elementos? Ouvi isso na minha infância. Ainda acredita nessas coisas?
-"Bolinhas"? Hahaha! Penso que mudará seu pensamento depois disso...
Do bolso da calça retira algo e mostra na palma da mão uma pedra lisa, oval, cor marrom escuro, com um orifício no centro.
-Uma bolinha colorida, como eu disse. E daí? Olha, eu realmente tenho mais o que fazer... Adeus!
No instante que Télamon pretendia se afastar novamente, a pedra libera uma onda de finos raios e fica maior, precisando das duas mãos do velho para ser amparada.
-Preciso da Chave que abre esta gema. Apenas isso. Como vê, não é uma simples "bolinha colorida".
- E onde está essa tal chave?
-Na Terra dos Desgraçados. Conhece ?
-Terra dos Desgraçados? Que belo nome. Não me recordo.
-Um lugar em outra dimensão, geralmente reservada aos mortos. Mas posso assegurar sua ida muito bem vivo. Mas claro, vai depender de seu desempenho lá para retornar com vida. E com minha chave.
-O que "sua" chave faz em outra dimensão?
-O que interessa a você é o que estou dizendo. Traga-me a chave e receberá grande recompensa. Aliás, posso te ajudar em muito mais. Sou inimigo pessoal do Xanto, aquele que te rogou inúmeras pragas que logo surtirão efeito.
- Xanto? !O que sabe sobre ele? !Como posso encontrá-lo?!
-Calma, calma. Posso ajudá-lo contra ele. Porém, precisa fazer a primeira parte: trazer minha Chave. E então?
- Te dou a resposta amanhã, nesta mesma encruzilhada, ao entardecer. Agora preciso ir.
-Está bem, posso esperar um pouco mais. Leve isto, como um pequeno motivador! Dê a ele!
O rapaz da maleta a joga aos pés de Télamon e voltam para a carruagem, desaparecendo no horizonte.
Télamon coça o queixo e revisa a maleta.
-É muita grana... Espero que não me arrependa. Se bem que um arrependimento a mais ou a menos não vale grande coisa nessa altura da minha vida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas de St. Yória
FantasyAs "Crônicas de St. Yória" ocorrem num mundo em decadência, regido pela orbe vermelha de Marte, onde imperam os deuses do bronze e ferro das guerras. Endureceram os conflitos entre povos, as pessoas estão mais irritadiças, a violência multiplica-se...