"Télamon na Terra dos Desgraçados" pt.1

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Em certos momentos Télamon tinha plena certeza de que havia caído numa verdadeira enrascada ao aceitar carregar consigo o pequeno Onze e sua cadelinha. Mas o menino o fazia lembrar de sua sofrida e abandonada infância, e isso era uma das poucas coisas que mexiam com ele.

Graças a Cindy, haviam descoberto numa floresta um casebre abandonado e ali se instalaram. Felizmente estavam há poucos quilômetros de grande cidade de St. Yória, e em um dia podia-se ir e voltar com com certa rapidez.

Uma fase lunar passara desde o dia em que acolhera Onze e instalaram-se naquele pobre casebre, cheio de madeiras comidas pelos cupins e outras tantas já apodrecidas. Num pequeno bosque Há poucos quilômetros dali existia um lago, cuja superfície havia sido coberta pelas folhas caídas das árvores. Ainda era cedo da manhã, os primeiro raios de sol surgiam tímidos no horizonte, e Télamon ali meditava enquanto seus parceiros de viagem dormiam.

Analisando o conteúdo de um saco de couro, pensava em voz alta:

-Ainda tenho algum dinheiro para alimentá-los por mais esta semana... Mas e depois? – erguendo os olhos rumo ao céu emoldurado pela copa das árvores ao redor, continuou – E naquela casa não poderemos permanecer por muito tempo, não. Do jeito que está, ameaça ruir se enfrentar mais um temporal. Afff... Onde fui amarrar meu cavalo?! Talvez... Talvez eu deva levá-lo de volta para sua família. Mesmo que não queira, pode ser o melhor para ele. Melhor do que ficar comigo, um "pé-rapado" cheio de condenações nas costas. Em falar nisso... Há quantas anda minha Punição? Como irei me livrar das Reparações se estiver com esse garoto pendurado na barra da minha capa?!

Télamon largou um longo suspiro e fitou o lago. Uma repentina brisa fresca soprou e arrastou todas as folhagens para as bordas, revelando as águas límpidas. Então, algo intrigou-o.

- Uma ninfa?

Um par de olhos brilhantes o observava de dentro do lago, mas tão logo surgiu, desapareceu.

-Será um sinal? O que devo fazer, donzela das águas? Como percebe, me encontro em mais apuros do que antes. Devolvo o garoto? Eu nem sei por que estou perguntando isso... a resposta é óbvia. Devia estar fora de mim quando considerei ter aquela criança ao me lado. Será que eu havia bebido naquele dia? Ou me droguei e não me recordo ? Aliás... já estou sentindo falta dos "remédios"... Porcaria! Tinha que lembrar disso???

Irritado, golpeou o solo com tamanha força que estremeceu tudo. Há meses vinha tentando libertar-se do vício das drogas e do álcool. Não que se importasse com moral, porém tinha clara consciência que atrapalhava imensamente sua Jornada.

-Se não fosse essas porcarias eu não teria sido derrotado por aquele feiticeiro dos infernos! Maldito seja!

Novamente golpeou o chão, e outra vez, e outra vez... Até que, olhando para as ondulações no lago, retirou toda a roupa e, apesar de frio, deu um salto e mergulhou na água gelada.

Qual uma bola incandescente, esfriou aos poucos. Permaneceu submerso o quanto pôde, em torno de três horas, e quando finalmente esfriara a cabeça, regressou à superfície. Colocou suas vestes maltrapilhas, tendo uma ideia em mente.

Crônicas de St. YóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora