Lisístrata 2

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-Ah, como esperei por esse momento! –disse outra vez.

Lisistrata manteve-se parada, com os ouvidos bem atentos, procurando identificar de onde procedia aquela voz. Soltou um grito e largou o lampião ao ser capturada por uma rede de ferro.

-Tal qual uma fera caçada!

-Me solte! Me solte!

Num salto apareceu um sujeito muito alto, corpulento, munido de quatro braços e duas cabeças. Seus rostos eram cobertos por máscaras medonhas.

Lis recuou como pôde e se encolheu para uma cavidade por baixo de seu lagarto de pedras.

-O que quer de mim , coisa horrorosa?! Seu monstro!

Zombeteiro, ele lhe respondeu:

-Blá, blá, blá! Monstro, blá, blá, blá!

Ele se aproximou dela e se curvou:

-Pois saiba que muitas mocinhas como você gostaram bastante desse monstro aqui... Hehehe!

Lis fez cara de brava e o encarou.

-Se meu mestre não se importasse, eu te mostraria...

-Ah, é mesmo? Que tal, mostrar... Não tenha medo.

O esquisito hesitou, não acreditando naquela ousadia toda. Seria algum plano idiota?Presa daquele jeito? Ou queria barganhar a liberdade se entregando a ele?

-Ora, não brinque comigo, mocinha...

-Eu? Brincando? Acha que tenho idade para brincar?

Ele não sabia bem o que fazer, não contava com essa atitude.

-Python..... – sussurou Lis.

-Quê?

-Pyyythoooonnn!!! – ela deu três socos na criatura de pedra, finalizando os gestos rituais que realizava com as mãos ocultas.

O lagarto rochoso deu um salto sobre o monstro, lhe derrubando e o prendendo no chão. Dava-lhe cabeçadas potentes sem dó nem piedade, causando estrondos que acordaram Dona Penelope. Os animais da floresta se alvoroçaram e corriam por todo lado.

-Abra! – Lis ordenou a terra sob seu corpo e sumiu por dentro dela, num buraco que se fechou em seguida, restando apenas a rede de fios de ferro.

Surgiu em outro lugar, por trás de árvores, e ali ficou observando.

O valentão misterioso não teve chance de revidar, a fera encantada atacava com imensa selvageria. Só sossegou ao não sentir mais a vida pulsar no oponente. Então, andou para trás e liberou o corpo inerte.

Lisistrata saiu do esconderijo e foi conferir de perto.

-Hmmm, muito bem, Python. Agora, descanse...

Fez uma carícia na criatura e ela se deitou no chão, voltando a ser um inofensivo amontoado.

-Espertalhão... Por aquelas que ousou prejudicar... Nojento!

Cuspiu sobre ele.

-Agora, um novo teste...

Ela fechou os olhos e direcionou suas mãos para o corpo. Em voz alta, falou:

-Seu corpo é feito de matéria orgânica, minerais e outros sólidos... Eu tenho poder sobre a matéria sólida, a terra em todas suas manifestações... Decomponha-se!

O ser abatido se desintegrou em inúmeras partículas que pairavam diante dela. Absorveu-as através das mãos. Sentiu-se mais forte e abriu os olhos, satisfeita, mas algo que não lhe agradou e fez uma careta.

-Ieca... a poluição dos crimes dele veio junto... Que nojo... Preciso me purificar com urgência!

Se aprofundou mais um pouco na floresta até encontrar um rio. Tirou a roupa, tomou coragem e se banhou na margem. A água estava fria, mas logo se acostumou.

-Agora sim! Limpa!

Tremendo, saiu, se vestiu e foi embora.

-Atchin! Droga... vou passar o dia espirrando amanhã! Atchin! 

Crônicas de St. YóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora