-Ah, como esperei por esse momento! –disse outra vez.
Lisistrata manteve-se parada, com os ouvidos bem atentos, procurando identificar de onde procedia aquela voz. Soltou um grito e largou o lampião ao ser capturada por uma rede de ferro.
-Tal qual uma fera caçada!
-Me solte! Me solte!
Num salto apareceu um sujeito muito alto, corpulento, munido de quatro braços e duas cabeças. Seus rostos eram cobertos por máscaras medonhas.
Lis recuou como pôde e se encolheu para uma cavidade por baixo de seu lagarto de pedras.
-O que quer de mim , coisa horrorosa?! Seu monstro!
Zombeteiro, ele lhe respondeu:
-Blá, blá, blá! Monstro, blá, blá, blá!
Ele se aproximou dela e se curvou:
-Pois saiba que muitas mocinhas como você gostaram bastante desse monstro aqui... Hehehe!
Lis fez cara de brava e o encarou.
-Se meu mestre não se importasse, eu te mostraria...
-Ah, é mesmo? Que tal, mostrar... Não tenha medo.
O esquisito hesitou, não acreditando naquela ousadia toda. Seria algum plano idiota?Presa daquele jeito? Ou queria barganhar a liberdade se entregando a ele?
-Ora, não brinque comigo, mocinha...
-Eu? Brincando? Acha que tenho idade para brincar?
Ele não sabia bem o que fazer, não contava com essa atitude.
-Python..... – sussurou Lis.
-Quê?
-Pyyythoooonnn!!! – ela deu três socos na criatura de pedra, finalizando os gestos rituais que realizava com as mãos ocultas.
O lagarto rochoso deu um salto sobre o monstro, lhe derrubando e o prendendo no chão. Dava-lhe cabeçadas potentes sem dó nem piedade, causando estrondos que acordaram Dona Penelope. Os animais da floresta se alvoroçaram e corriam por todo lado.
-Abra! – Lis ordenou a terra sob seu corpo e sumiu por dentro dela, num buraco que se fechou em seguida, restando apenas a rede de fios de ferro.
Surgiu em outro lugar, por trás de árvores, e ali ficou observando.
O valentão misterioso não teve chance de revidar, a fera encantada atacava com imensa selvageria. Só sossegou ao não sentir mais a vida pulsar no oponente. Então, andou para trás e liberou o corpo inerte.
Lisistrata saiu do esconderijo e foi conferir de perto.
-Hmmm, muito bem, Python. Agora, descanse...
Fez uma carícia na criatura e ela se deitou no chão, voltando a ser um inofensivo amontoado.
-Espertalhão... Por aquelas que ousou prejudicar... Nojento!
Cuspiu sobre ele.
-Agora, um novo teste...
Ela fechou os olhos e direcionou suas mãos para o corpo. Em voz alta, falou:
-Seu corpo é feito de matéria orgânica, minerais e outros sólidos... Eu tenho poder sobre a matéria sólida, a terra em todas suas manifestações... Decomponha-se!
O ser abatido se desintegrou em inúmeras partículas que pairavam diante dela. Absorveu-as através das mãos. Sentiu-se mais forte e abriu os olhos, satisfeita, mas algo que não lhe agradou e fez uma careta.
-Ieca... a poluição dos crimes dele veio junto... Que nojo... Preciso me purificar com urgência!
Se aprofundou mais um pouco na floresta até encontrar um rio. Tirou a roupa, tomou coragem e se banhou na margem. A água estava fria, mas logo se acostumou.
-Agora sim! Limpa!
Tremendo, saiu, se vestiu e foi embora.
-Atchin! Droga... vou passar o dia espirrando amanhã! Atchin!
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Crônicas de St. Yória
FantasyAs "Crônicas de St. Yória" ocorrem num mundo em decadência, regido pela orbe vermelha de Marte, onde imperam os deuses do bronze e ferro das guerras. Endureceram os conflitos entre povos, as pessoas estão mais irritadiças, a violência multiplica-se...