Do centro do círculo precipita-se uma torrente de energia negra semelhante a um raio interminável sobre Télamon. Ele grita ao receber a descarga elétrica, seu corpo treme violentamente. O raio vai abrindo uma imensa cratera sob seus pés, fazendo saltar milhares de pedregulhos e levantar uma enorme nuvem de poeira em todas as direções.
Findando o espetáculo de horror, Silas desaba de bruços sobre os destroços, completamente sem forças. Após o barulhento ataque, impera o silencio. Ele não enxerga Télamon, talvez tenha o reduzido ao que pretendia: a uma semente energética capaz de ser absorvida.
-Hehehe... Consegui... Enfim poderei me libertar desta prisão desgraçada...
Silas força os braços para levantar o resto do corpo, quando sente uma lâmina cheia de dentes ardidos ser enterrada em suas costas, atravessando-o o tórax até alcançar o chão acabado.
Ele tenta virar o pescoço e vê Télamon aos trapos sobre si, fincando a espada.
-Não foi dessa vez, Silas. Quem sairá daqui serei eu!
-Ugh...Ugh...Ugh... – Silas perde a visão e seu corpo pesa e tomba.
Télamon arranca a lâmina e cai sentado.
O adversário perdedor vai perdendo sua materialidade e torna-se uma fumaça negra. A adaga de Télamon brilha e puxa para si a densa fumaça, absorvendo-lhe. Porém, resta algo semelhante a uma folha escura, que uma súbita brisa carrega para o mar de cera.
-Acho que chega por hoje. – diz e pega a Chave.
A absorção da alma de Silas o revigora parcialmente, dando-lhe energia o bastante para regressar. Ele atravessa outra vez a massa de corpos putrefatos, escala o paredão cinzento e é engolido pelo portal.
Horas depois, sob a noite do céu estrelado...
-Aqui está sua maldita chave! Mas primeiro liberte as crianças!
O velho ladeado por seus dois capangas mascarados fuma um charuto e solta uma baforada no ar:
-Não fale assim, meu rapaz. Esta missão lhe foi muito útil, apesar de tudo. Não tenho tempo para birras, você cumpriu sua parte e eu a minha. Melhor cultivar amizades.
Um dos criados caminha na direção de Télamon e lança aos seus pés uma maleta preta.
-Eles estão aí dentro. – diz o velho.
Télamon abre e encara grande quantidade de dinheiro e dois bonequinhos idênticos a Onze e Cindy.
-Como eles voltam ao normal?!
-Entregue a chave ao meu serviçal e eles terão a forma original restabelecida. Ande logo, não sou do tipo de vilão "Zé ruela" que não cumpre acordos. Bem, estou indo.
Tranquilo o velho entra na carruagem. Télamon entrega o maldito objeto nas mãos do criado, que se se afasta. Imediatamente os bonequinhos estouram e surgem Onze e sua cachorrinha.
-Até mais, Télamon! Creio que ainda seremos grandes amigos! Hehehe!!! – diz o velho da janela do veículo, antes de sumirem no horizonte.
-Vocês estão bem?! Eles te machucaram?! – Télamon avança sobre o garoto e o envolve num abraço tão forte e espontâneo que quase o sufoca. - Foi tudo culpa minha, mas juro que não nunca vou abandona-los!
-Cof!Cof! Espera! Que isso?! Não consigo respirar!!!
-Opa, desculpa! Eu realmente fiquei preocupado!- Telamon o solta e o observa com cara de bobo. Nunca havia se emocionado assim antes. Cindy late contente e pula em torno deles.
-Tudo bem, eu te perdoo. Você foi um idiota, todos agem assim algum dia. Mas como Cindy e eu somos de uma raça superior, vamos perdoa-lo desta vez. Mas se houver uma próxima, será devidamente castigado! – diz Onze de braços cruzados e de peito estufado.
Télamon não consegue segurar o riso e apenas concorda.
Juntos, então retornam para seu casebre caindo aos pedaços, mas somente por esta noite. Agora, Télamon tinha tudo o que precisava para acolher o menino e sua fiel companheira. Uma estrada de esperança se abria e iluminava as trevas que havia fincado raízes em seu coração por tantos anos. Até mesmo as amarguradas lembranças de seu passado com seu pai perdiam a força diante do novo futuro que parecia se apresentar.
..................................................................................
-Ele está progredindo. Foi uma jogada de mestre colocar essa criança em seu caminho. – duas pessoas cobertas de armadura o observavam através de uma imensa tela.
-Logo, logo ele estará pronto para voltar. Depois que expiar todos os seus crimes, regressará e nos será realmente útil.
-E se ele se tornar forte demais?
-Não se preocupe. Vou lhe contar um segredo...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas de St. Yória
FantasyAs "Crônicas de St. Yória" ocorrem num mundo em decadência, regido pela orbe vermelha de Marte, onde imperam os deuses do bronze e ferro das guerras. Endureceram os conflitos entre povos, as pessoas estão mais irritadiças, a violência multiplica-se...