"Télamon na Terra dos Desgraçados"-4

1 0 0
                                    


Ao chegarem numa das entradas da cidade, na região de fábricas e depósitos, muitas delas abandonadas, sentaram no chão e descansaram um pouco. Em seguida, Télamon disse:

-Onze, preciso que me guie até onde sua família mora.

Cabisbaixo, o pequeno respondeu:

-Eu sabia... Não quer ficar comigo... Mas mesmo que me deixe aqui, fugiremos depois. Cindy e eu!

-Só quero conhecê-los. Preciso ter certeza se realmente é melhor vocês ficarem comigo. Onze, apesar da sua pouca idade, sei que é bem inteligente. Tanto que fugiu e sobreviveram bem os primeiros dias. Mas tem que entender... Sempre fui sozinho, não tenho família nenhuma, nem casa, nem nada. Vivo pra lá e pra cá...E tem outras coisas...

-Tá bom, já entendi. Vem comigo, é perto.

O garoto cortou o assunto, levantou-se sério. Tentava segurar o choro e esfregava os olhos constantemente.

Há poucas quadras dali, num beco qualquer ouviu alguns resmungos, risadas e conversas. Havia uma mulher, aparentemente a única adulta do grupo, morena, cabelos grisalhos, carrancuda e usando um vestido desgastado pelo tempo e de tanto arrastar pelas ruas da cidade em busca de comida em lixeiras. Ao ver o garoto, encheu-se de ira e esbravejou:

-Eu não acredito que voltou!!! E ainda com mais um maltrapilho!!! Nem pensar!!! XÔ!!! Os dois!!! Xô!!!

-Calma, minha senhora, eu encontrei Onze perdido numa floresta e resolvi trazê-lo de volta.

-Por mim pode devolver pra floresta, ele e essa cadela, tem muita gente aqui e daqui a pouco chega meu marido bêbado pra encher o saco!!!

Télamon ouvia os esbravejos da senhora e analisava o local. Era um beco sem saída, coberto por uma lona, abrigando a mulher e algumas crianças e adolescentes. Duas moças estavam grávidas, notável pela enorme protuberância que ambas carregavam.

-Ah, que bom! Vai-te embora! É a coisa mais sensata que faz!

Télamon voltou a si e pensou que falava com ele, mas era com Onze, cuja silhueta desaparecia rumo ao centro comercial da cidade, virando uma rua qualquer.

-Onze! Onze!

Sem mais, deixou a mulher resmungando sozinha e correu atrás do menino.

Crônicas de St. YóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora