Clarice

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Falei com ela pelo telefone, era seu aniversário de 12 anos. Uma data especial para Clarice!

– Tudo bem, prima?

Melhor agora! E você como está?

– Com muita saudade! Feliz aniversário e desculpe por não poder estar contigo hoje.

– Tudo bem! Quando você vem me visitar?

– Quando tu menos esperar estarei ai!

Eu morava em São Paulo, estudava num desses cursinhos preparatórios para vestibular, mas naquele dia eu estava em Curitiba para a festa de aniversário dela. Seria surpresa, Clarice não poderia saber que eu estava lá! Meu pai e eu nos arrumamos e fomos para a chácara onde seria a festa.

Meu primo Davi, irmão de Clarice chegou com ela vendada! Eu ri, achei engraçada aquela cena! Deixei as outras pessoas parabenizá-la, quando meu pai a abraçou, fiquei encostado na parede atrás dela, ele falou algo e ela virou. Clarice veio até mim e nos abraçamos. Ela estava linda! Usava uma saia preta, uma blusa azul escura sobre um top e os cabelos presos.

– Feliz aniversário, guria! – desejei.

Seu perfume era tão gostoso e seus cabelos tinham leve aroma de cereja! Percebi que estava emocionada, eu também fiquei, afinal, fazia muito tempo que não nos víamos!

Um rapaz se aproximou e eles se abraçaram, percebi que ela gostava dele, nunca vi Clarice olhar daquele jeito pra ninguém.

Davi e eu combinamos de tocarmos com a banda que ele tinha formado, falei para minha prima que precisava ir ao banheiro e fui me preparar para tocar. Peguei minha guitarra e me posicionei. Quando ela me viu abriu um sorriso lindo e chorou de felicidade!

Naquela noite dormi no chão do quarto de Clarice, eu sempre dormia na casa dela quando estava na cidade, mas ela nunca havia ido deitar ao meu lado como fez, ficamos conversando e eu disse o quanto ela estava ficando bela, até elogiei seus olhos azuis!

– Você é quem está lindo! – ela disse.

Eu apenas sorri e coloquei a mão em seu rosto.

– Tu está apaixonada, guria! Vi o jeito que tu olhava para aquele guri. Kiko? Esse é o nome dele?

– É!

– Tu tem o olhar atraente, se continuar assim conseguirá o homem que tu quiser!

– Você está namorando, primo?

– Eu estava com uma guria, mas aí ela fez a 'cagada' de dizer que se eu viesse era para esquecê-la... virei as costas e saí. Ninguém vai me dizer o que fazer.

Apesar da luz fraca do abajur, podia ver com perfeição o rosto de Clarice. Não resisti, coloquei minha mão na nuca dela e a puxei para perto. Seu beijo era doce, macio e quente. Perguntei com quem ela tinha aprendido a beijar, eu tinha sido o primeiro! Foi o melhor beijo que tive! Nos beijamos mais algumas vezes e dormimos abraçados.

Acordei pela manhã e Clarice ainda dormia, abracei-a por trás e fiquei sentindo seu perfume. Deus, os cabelos cheiravam tão bem! Ela acordou e sentou.

– Bom dia!

Olhou para trás e eu sorri.

– Dormiu bem, primo?

– Com um anjo!

– "Como" um anjo, você quis dizer!

– Eu quis dizer o que disse!

Pedi que deitasse mais um pouco comigo. Ofereci meu colo e fiz carinho em suas costas. Pouco depois meu primo abriu a porta e eles foram para a cozinha enquanto eu me trocava. Ao chegar na cozinha ouvi a conversa dela com o irmão! Clarice dizia que não era mais virgem e Davi ficou quieto. Ouvi minha prima rindo e explicando:

– De beijo! Não sou mais virgem de beijo!

– Que susto você me deu, Clarice!

– Eu sabia que você ia 'zoar' com a minha cara, só me adiantei!

Entrei e a beijei na testa, eu ria daquela brincadeira! Clarice era engraçada, sempre feliz com a vida, brincava com tudo!

Depois do café da manhã, Clarice foi tomar banho e fiquei no quarto, eu levantava o colchão do chão quando ela entrou apenas com a toalha em volta do corpo, ficamos nos olhando, não sei porquê, mas olhei. Ela olhou envergonhada para o chão e me pediu para sair, fiz o que pediu e fechei a porta. Meu pai chegou e ficamos esperando por ela na sala. De repente aquela guria aparece toda vestida de preto, com os cabelos soltos e maquiagem preta, ela sabia que daquela forma seus olhos pareciam mais azuis do que eram! Sussurrei em seu ouvido:

– Tu está tão linda com esse estilo 'dark'!

– Não estava com vontade para me arrumar...

– Imagine se estivesse!

Ela me olhou e sorriu. Nos divertimos naquele dia, mas no final da tarde, Clarice teve crise de choro, eu tentei descobrir o que ela tinha e consolá-la, mas acho que nem ela sabia o que estava acontecendo. Pouco antes de entrar na sala de embarque, eu a abracei e com minhas mãos no rosto dela a beijei, não me preocupei com que meu pai ou meu primo pensariam, apenas fiz. Na sala de embarque meu pai questionou sobre minha atitude.

– Não sei, pai. Tive vontade e a beijei.

– Tu é maior de idade, filho. Tua prima acabou de fazer 12 anos...

– Já está na idade de namorar!

– Felipe, estou falando sério!

– O que pode acontecer, pai? Clarice me denunciar para a polícia? Foi apenas um beijo, quer dizer, alguns beijos!

– Foi mais de um, Felipe? Tu não tem vergonha na cara?

– Por que teria? Clarice está uma guria bonita! Eu tive vontade, ela também, não vejo problema nisso.

Meu pai estava irritado e continuou com o sermão:

– Como não tem problema, filho? Ela é tua prima!

– Prima de coração, pai, tu sabe melhor que eu que não temos parentesco biológico. E foi apenas beijo, não transei com ela, nem nada...

– Tu não seria doido, Felipe.

Ele estava voltando para o Rio Grande do Sul, criava gados para abate e eu voltava para São Paulo. Não vi a hora de entrar no avião para poder ter um pouco de paz. Estava com 18 anos, maior de idade, tinha consciência de meus atos.

Cheguei em meu apartamento e naquela noite não parei de pensar em minha prima. Não vou dizer que me apaixonei e queria casar com ela... Só aproveitei o momento, ela estava disponível, me 'dando mole' e eu aproveitei! Só isso! 

Dos 18 Aos 66Onde histórias criam vida. Descubra agora