Será?

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Ela usou minha tática contra mim! Colocou sua mão em minha nuca e me puxou para perto, eu fiz o mesmo, claro! Queria beijá-la e queria que Kiko me visse fazendo isso. Nos beijamos com tanta vontade, com força, nos abraçamos e desconfiada, ela perguntou:

– Felipe, o que aconteceu?

– Desculpe, Clari, fiquei excitado. – e envergonhado por aquilo.

– Mas por quê?

– Um dia tu entenderá! Se eu ficar aqui mais um minuto terei que te beijar novamente e ai...

Dei apenas um 'selinho' nela e voltei para sala. Pouco depois Kiko levantou e foi até a cozinha, fui atrás, não deixaria aquele 'babaca' sozinho com minha prima. Abracei-a por trás e perguntei o que estava fazendo.

– Nada demais – ela respondeu sorrindo – arroz, batata frita e maionese.

Clarice ficou de frente para mim e nos olhamos. Kiko perguntou onde estavam as cervejas, sem parar de olhá-la orientei que procurasse na outra cozinha, ele saiu e eu a beijei.

– Você me acha bonita?

– Não. Te acho linda!

– Então por que o Kiko não quer ficar comigo? Só por que sou mais nova que ele?

– Prima, não te preocupe com isso. Tem mais gente querendo ficar contigo.

– Mas é ele quem eu quero, Felipe.

– Mas ele não te quer.

Acho que aquilo a magoou.

– Desculpe, Clarice, mas tem um monte de gente querendo ficar contigo e tu fica sofrendo por alguém que não te quer...

– 'Um monte de gente'? Diga uma.

De certa forma aquelas palavras me afetaram. Olhei seriamente para ela, levantei as mãos, baixei a cabeça e saí. Fiquei chateado e confuso, por que me senti atingido?

Meu tio havia acabado de chegar com a namorada e fui até a cozinha avisar minha prima, ela tentou conversar, mas eu não quis, estava chateado. Fiquei parado na porta da sala, tentando entender porque eu estava me sentido daquela forma. Clarice tentou conversar novamente:

– Felipe...

– Agora não, Clarice.

Virei as costas e saí, fui para a varanda da frente tentar pensar. Pouco depois Aline veio me chamar para almoçar, sentei de frente para minha prima, Kiko sentou ao lado dela. Ele ficava jogando charme para Clarice e ela se 'derretendo' por ele. Me irritei, foi perceptível.

– Tudo bem, filho?

– Estou sim, pai. – respondi seco.

Depois do almoço fui limpar a cozinha com os outros guris. Uma das regras de casa era: quem não cozinha, limpa depois. Quando fui à lavanderia pegar um pano para passar no chão, não vi Kiko e acabamos nos trombando, eu fiquei todo molhado, o balde que ele segurava virou em mim.

– Desculpe, Felipe, não vi você.

– Tudo bem, também não te vi.

Tirei minha camiseta e Clarice se aproximou:

– Péssima hora, Clarice. – eu continuava muito irritado.

– Por favor, não me rejeite. O Kiko fazer isso eu até supero, mas você não...

Pensei um pouco e respirei fundo. Aquele clima chato entre nós tinha que acabar. Pedi que me esperasse no quarto. Deixei minha camiseta no tanque e fui até ela, entrei e tranquei a porta.

– O que foi, Clarice?

– Você está chateado comigo?

– O que tu acha?

– Aquilo na cozinha...

– Tu que me diz – interrompi – o que acha que foi aquilo?

Encarei-a, esperava uma resposta. Eu estava a ponto de explodir de tanta raiva, me segurando para não gritar. Clarice não me respondeu e eu me irritei mais.

– Tu é mais esperta que isso, Clarice. Não te faça de burra. Tu entendeu o que quis dizer.

– Eu não posso acreditar nisso, Felipe. Você sabe que eu gosto...

Aquela guria estava me tirando do sério, interrompi mais uma vez:

– Esquece ele. Eu estou aqui, na tua frente. Eu não consigo aceitar que tu gosta de alguém que não te dá valor...

– Você gosta de mim?

Eu ri. Estava sentado ao lado dela na cama, levantei e não acreditei no que pensei: eu gostava dela? Precisava dar uma resposta, mas não podia falar que não gostava, ela poderia se magoar e eu não queria que isso acontecesse.

– Eu não acredito que tu está me perguntando isso... Não percebeu ainda, Clarice? Bom, tu tem apenas 12 anos, não posso exigir muito.

Clarice se irritou, levantou, parou em minha frente e disse:

– Vai dizer para eu crescer também? Você fala que o Kiko é babaca, mas está fazendo o mesmo que ele.

– A diferença é que eu gosto de ti, guria. Não percebe isso? Sabe por que eu te beijo? Porque é a única forma de te sentir minha, é a única maneira que encontrei de chegar perto de ti, não como primo, mas como alguém que te ama, que sente desejo, mas tu é nova demais para entender isso.

Não era eu quem estava falando aquilo, não poderia ser!

– Me chamando de criança de novo...

– Não. Estou dizendo que tu é nova demais para ter passado por coisas que te fariam entender o que quero dizer, tu não tem malícia, é normal da tua idade, por isso não posso exigir que entenda certas coisas... Eu não ficarei aqui discutindo isso contigo. Foi para isso que me chamou?

– Não.

Eu precisava sair dali, quanto mais eu falava mais me complicava.

– Então me diga o que tu quer, tenho coisa mais importantes para fazer.

– Essa doeu, Felipe... Vai fazer suas coisas importantes. Se alguém perguntar por mim, diga que estou com dor de cabeça.

– Como queira.

Fui para a varanda da frente, precisava muito pensar. Eu menti demais para ela. 'Parabéns, Felipe! Tu mentiu para um membro de sua família!' Me sentia confuso... eu gostava mesmo da minha prima? Eu gostava de beijá-la, só isso, não sentia nada por ela... De repente vi seu sorriso e seus olhos em minha mente e me peguei sorrindo! Nunca senti aquilo por mulher nenhuma... E olha eu já tinha pegado várias gurias! Pensei: deve ser arrependimento, só isso!

Dos 18 Aos 66Onde histórias criam vida. Descubra agora