Prefacio

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Era dia e o sol jazia alto no céu, seus raios iluminavam boa parte daquele mundo, inclusive a pequena colina recoberta por flores das mais variadas formas e cores, de fato a vegetação só era interrompida por um caminho de pedras irregulares, que se dirigia a um esplendoroso e imponente templo construído em estilo grego antigo.

A construção era enorme, feita completamente em mármore, o que lhe atribuía à cor acinzentada do mineral, esta contrastando com o verde dos campos ao redor, e com as inúmeras trepadeiras em flores que se agarravam as colunas. No local um cheiro primaveril era sentido, e um calmo vento soprava agitando as gramíneas, e refrescando o dia.

A monotonia era total, nada acontecia e isso se refletia no rosto da solitária jovem, sentada confortavelmente às margens do pequeno lago interno no centro do templo, a bela dama tinha cabelos cinza, como as nuvens que anunciam uma leve chuva, e seus cristalinos olhos azuis tinham o poder de penetrar na mente de quem ousasse encara-los, seu porte era imponente como o de uma rainha, já suas vestes se restringiam a uma túnica de fina seda, tingida em azul claro, cujo único adorno era um broche de ouro com o formato de uma coruja. Próxima a pegar no sono a mulher bocejava de tédio.

O pequeno lago não era profundo, em sua superfície inúmeras vitórias-régias cresciam lhe agregando beleza, suas águas eram plácidas, atuando como um perfeito espelho, cuja face fora tomada quase completamente pela mulher, porém esta situação logo se alterou, pois outra imagem surgiu e se misturou a anterior.

Um fino nevoeiro começou a se infiltrar no templo, trazendo consigo uma leve friagem, emdado momento  sua densidade se intensificou, tomando uma forma especifica, de tal modo que logo a mulher já não estava mais sozinha no lugar. Em meio a nevoa surgira à figura sombria e pálida de um homem, trajando uma magnifica armadura em estilo medieval, o ser se distinguia de tudo, pois há muito tempo ele já não estava entre os vivos, tratava-se de um fantasma.

Ao notar o novo reflexo a mulher virou-se rapidamente, com o coração acelerado e com olhar de espanto encarou o ser – esta maluco? O que faz aqui? – Exclamou ela em tom baixo – se meu pai te ver não sei o que pode acontecer – continuou em um sussurro levantando-se rapidamente, verificou instintivamente se havia mais alguém no templo. Seu semblante não demonstrava estar amedrontada, ao contrário estava até um tanto feliz.

– Tinha de vir, está chegando a hora... – disse o ser com uma voz um pouco grave. Apesar de ser um espirito era possível ver claramente os traços de quando ainda vivia, seu rosto era alongado e mantinha uma feição jovem, 25 anos no máximo, seus cabelos eram curtos, cortados em formato de tigela e que, quando em vida, provavelmente eram loiros. O espirito deu alguns passos e se aproximou da mulher, enquanto caminhava não tocava no chão, levitando a poucos centímetros.

– Tem certeza sobre isso? – Prosseguiu a jovem receosa, apesar de conhecer o espirito sentiu um leve arrepio ao vê-lo se aproximar – retomar a batalha uma vez mais... parece-me loucura, logo agora que obtivemos algum sucesso...

– Não diga que vai me deixar na mão? – retrucou o espirito fingindo um desapontamento.

– Não, não – respondeu a garota instintivamente – fiz uma promessa e à cumprirei, estarei até o fim ao teu lado, ademais também acredito que seja o certo – novamente o receio a abateu – é que...

– É que... é que... – satirizou o espirito – pra que tanto receio? Sabe muito bem que a prisão Âmbar não o segurará para sempre, se ele não se libertar agora, futuramente o fará – fez uma leve pausa para observar sua ouvinte, que estava atenta a cada palavra – contudo o momento agora é propício, e temos uma chance para a sua derrota definitiva, ou se esqueceu das palavras de Samara e do peregrino do tempo?

– Eu entendo perfeitamente – disse a mulher disposta, passando por um surto de realidade – quando tudo vai começar?

– Semana que vem – respondeu o fantasma cruzando as pernas em formato de meditação lótus, começando a levitar – a partir daí os doze serão apresentados ao mundo grego, depois disso simplesmente os guiarei secretamente, até chegarem a você.

– Devo revelar-lhes tudo?

– Não o destino e o tempo fará isso, devemos apenas colocá-los no caminho certo – exclamou o espírito desviando o olhar da garota, admirava o canto de um pássaro em seu ninho numa das colunas – o resto é com eles.

A garota suspirou – tenha em mente que não será fácil.

– Estou bem ciente disto... – retrucou o fantasma sendo interrompido de súbito pelo som de passos, procurando a origem notaram que vinham das escadarias, localizadas na parede norte. Eram passadas pesadas e lentas que seguiam um padrão normal, contudo que alertou aos dois que conversavam. Em pouco tempo já era possível ver dois pés masculinos descalços descendo os degraus.

– É meu pai! – Exclamou a garota desesperando-se.

– Estou vendo – disse o fantasma virando-se tranquilamente em direção as escadarias, logo em seguida retornando a posição original – não se preocupe, já vou embora... – começou a desaparecer vagarosamente – e Atena... – seu corpo já havia sumido quase por completo, exceto pela cabeça que ainda estava na sala – não se preocupe, os livros da luz já começaram a ser escritos, isso mostra que a nova era já está reinado perante o universo, tudo ficara bem – enfim o fantasma desapareceu levando consigo toda a nevoa do lugar, um rosto amistoso e feliz foi à última coisa que a deusa viu, o que acalmou seu interior, porém ao ver a face severa de seu pai, que já chegara ao pé da escada, voltou a se inquietar.

– Tomara que estejas certo... – suspirou ela emaflição – e que os deuses nos ajudem, literalmente...    

Paladinos - Crônicas da história impossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora