Capítulo 52 - A necromante

13 3 4
                                    


Subitamente o templo se encheu de uma fina nevoa, e está se concentrou formando um corpo físico, não como quando o fantasma aparecia, mas sim algo vivo, de carne e osso, para eles uma linda mulher se apresentara, seu rosto era jovem e atraente, compridos cabelos negros cobriam parte de suas costas, e trajava roupas negras coladas ao corpo, joias e adornos de ouro recobriam-na, a maioria em formato de caveiras encrustadas de pedras preciosas, no pescoço contudo um pentagrama invertido feito em platina era visto, se olhar era penetrante e seus lábios de um vermelho vivido e mortal, com um corpo bem torneado e com as roupas atuais a dama se assemelhava muito a uma odalisca.

Um suspiro foi o primeiro som que ela manifestou – faz um bom tempo que não era invocada – disse a mulher se espreguiçando, sua voz se manifestada doce, mas ao mesmo tempo um tanto frigida – quem será desta vês? Mais um aflito mago tentando reviver sua querida esposa morta tragicamente?

– Dessa vez não – exclamou o fantasma seriamente.

– Ora, ora, quem temos aqui, o tempo não foi gentil com você meu garoto, por que está tão pálido? – indagou a misteriosa mulher em um tom irônico enquanto caminhava lentamente em direção ao espirito.

– Necromante, não é hora para brincadeiras – repreendeu ele.

– Que isso nem parece o...

– Silêncio, o que aconteceu no passado não é relevante, se concentre no agora e vamos negociar.

– Que agressividade, o tempo lhe transformou em um grosso, eu quase nunca saio, não dá para conversarmos um pouco? – proferiu ela se sentando sobre o altar de maneira provocante, ato que não desviou a atenção do fantasma que continuou firme em sua opinião, vendo que seu interlocutor era inflexível ela se levantou e se posicionou frente ao espírito – no fundo você não mudou em nada não é – riu ela levemente – pois bem do que se trata este ritual?

– Quero a ressurreição destes doze jovens.

– Nossa! Doze? – exclamou a mulher com um sorriso perverso – não estamos jogando alto demais? Você entende que para tantos o preço será uma grande quantidade de éter não é?

– Sim, quanto à fonte não se preocupe, como pagamento você recebera toda a força presente em minha alma – a expressão em sua face era de uma inabalável determinação, a verdade era que ele já sabia a muito tempo que isso iria terminar assim, estava em seus planos desde que se encontrou pela primeira vez com Thiago.

A necromante esbanjou um grande sorriso de interesse – nossa, uma alma? A milhares de anos não me sacrificam uma alma, apenas velhos e decrépitos corpos que não são nada além de lixo, e digo mais, que alma receberei...

– Vejo o interesse em seu rosto, o que me diz?

– Realmente é uma oferta tentadora, me pergunto, vale mesmo a pena?

– De que adianta continuar como espirito? Meu tempo já se esgotou, é hora da nova geração tomar partido.

– Pois bem, não tenho tido muito trabalho ultimamente, eu aceito reviver os seus protegidos.

– Muito bem, então pode começar.

– Mas já? – exclamou a necromante fingindo surpresa – não quer pensar sobre o assunto antes?

– Já tive muito temo para pensar, agora comesse – ressaltou o fantasma inabalável.

– Ok, mas tenho de dizer que você era bem mais divertido antes – disse a necromante se dirigindo as costas do fantasma, pareceu se concentrar por alguns instantes e em seguida cravou suas cumpridas unhas no espírito, gerando uma forte expressão de dor em seu rosto desfalecido.

Instantaneamente ele se encheu de um brilho amarelado, era como se um pequeno sol estivesse surgindo em seu interior – foi bom conhecer vocês, me fizeram relembrar o que era viver, uma coisa que não sabia há muito tempo, adeus paladinos de Theia – disse ele com dificuldade em seu último "suspiro", seu corpo se desmaterializou por completo e o templo se encheu das partículas luminosas, que se moviam em espiral, como as estrelas em uma galáxia, sendo a mulher o centro.

Dentro das pilastras os jovens começaram a derramar lagrimas perante o sacrifício do amigo, gritavam e tentavam ajudar, mas sua insistência era inútil, até mesmo Thiago, que embora soubesse de tudo que ele havia feito, derramou algumas lagrimas em sua honra "e bom ver os olhos de um Albaran novamente brilhando" sua voz ecoou pelo templo, as últimas palavras ditas a ninguém, se perdendo no tempo e espaço, assim como a própria alma do fantasma, então todo o pó se concentrou na mulher a recobrindo de por completo de brilho.

– Sintam esse poder – sorriu a necromante – esbanja energia vital, e agora que o fantasma não pode mais me prejudicar eu poderia simplesmente ir embora, com todo esse poder e deixar vocês ai para sempre – disse ela assustado a seus "clientes", que ainda choravam pelo amigo – mas infelizmente tenho um código de conduta, vocês terão suas vidas de volta.

A necromante então ergueu sua mão e a luz começou a se agitar, doze raios se desprenderam e voaram pela sala, atingindo todas as colunas, era as vidas deles que retornava, sendo transportado pelos fragmentos da alma do fantasma, está se unira aos corpos e para sempre ali estarão.

Todos perderam a consciência devido ao golpe de éter ao qual foram atingindo, mas as transformações continuaram, seus corpos começaram a se reconstruir, envoltos em uma nuvem de vento brilhoso, os ossos foram os primeiros rapidamente se elevando, e montando como peças de um quebra cabeça, os órgãos internos então cresceram e agora todos os sistemas do corpo eram vistos, coração, pulmões, estomago, rins, todos visíveis e expostos, porém logo começaram a ser recobertos pelos músculos que transformaram os dose em grandes seres avermelhados e de aparência grotesca, contudo assim que a pele surgiu sua aparência se tornou novamente humana, os cabelos cresceram e finalmente a vida retornou – escuto as batidas de seus corações proclamou a necromante satisfeita com seu trabalho contemplando os dose ao seu redor – as roupas vão de brinde – disse ela recobrindo os corpos nus com as vestimentas que usavam antes de morrer.

O corpo mantinha toda a estrutura da vida e funcionava perfeitamente, porém inertes, o mais importante faltava a eles, a alma pensante se mantinha separado, tornando-os incompletos.

A necromante então abaixou as mãos e estralou dedos e o pescoço – Agora é comigo – exclamou ela. Esticou as duas mãos para a frente e como se os seus dedos tivessem cordas começou a manipular os que ali estavam, as almas saíram das pilastras e ficaram lado a lado aos corpos, com uma mão controlava a alma, com a outra o corpo, então selecionando um dos jovens de cada vez os levava até o altar, ali começou a juntar os dois, mexia seus dedos freneticamente e parecia costurar a alma no corpo que se encaixava perfeitamente, assim que acabava retornava o corpo de volta a pilastra, agora com a vida completamente restaurada estando meramente inconsciente.

Assim que todos já estavam completos novamente juntou todo o pó de éter que restou em sua mão, e com um sopro o espalhou por todo lugar, o pó se dissipou e se dividiu igualmente entre os doze que o absorveu completamente, e assim que ele se esgotou as portas nas colunas se fecharam, prendendo os doze que desapareceram logo em seguida.

No templo restou apenas à bela mulher, em sua mão ainda restava um pouco do pó de luz em uma esfera brilhosa, a necromante ficou a admirando por um tempo, por fim o colocou em um frasco de vidro de coloração azul todo entalhado, e o tampando com uma rolha igualmente trabalhada. Com um sorriso ainda olhava para o frasco, disse em voz baixa para si mesma – esse é meu pagamento. O que está tramando antigo rei de Pandora? Dito isso novamente o templo foi engolido pela escuridão e o silencio reinou novamente.


Paladinos - Crônicas da história impossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora